Mais de um milhão de imigrantes e refugiados bateram às portas da Europa durante o ano de 2015. Este número supera todas as previsões.
Por Alfredo J. Gonçalves
O número de imigrantes e refugiados que, no decorrer de 2015 bateram às portas da Europa superou todas as previsões. Mesmo antes de terminar o ano, já ultrapassa a casa de um milhão de pessoas, o que está acima em mais de quatro vezes os dados do ano anterior. Foi o que informou a Organização Internacional para as Migrações (OIM), no último dia 22 de dezembro pp.
São duas as vias usadas pelos “fugitivos”: primeira, cruzando o mar Mediterrâneo, com destino aos portos de Itália, Espanha, Chipre e Malta; segunda, pela “rota balcânica”, através da Turquia, Grécia, Macedônia, Bulgária, Hungria. Quanto à origem, ainda conforme os dados da OIM, 455 mil escaparam da Síria, seguidos pelos 186 afegãos. Os demais se dividem por uma série de outras nacionalidades. Quanto ao trânsito, enquanto mais de 80% entra pela “rota balcânica”, os demais se arriscam pelas águas do Mediterrâneo. Quanto ao destino, embora desembarquem nos países do sul, grande parte busca o norte do continente, com destaque para a Alemanha.
Nesse grande afluxo de imigrantes e refugiados, vem surpreendendo cada vez mais a presença de mulheres e crianças desacompanhadas. De acordo com o mesmo informe, nada menos do que 3.700 pessoas perderam a vida na travessia, das quais boa parte são justamente menores, provavelmente órfãos da violência nos países de origem. Correu o mundo imagem triste e emblemática do menino morto na praia, bem como o pranto do pai desesperado. Tragédia que, infelizmente, tem se repetido com certa frequência neste final de ano.
Quais as razões de semelhante fuga? Basicamente duas: conflitos armados, perseguições de caráter étnico-religioso e guerras civis, de um lado; condições precárias de pobreza, miséria e fome, de outro. É conhecido e notório o fato de que, na economia globalizada, a assimetria socioeconômica entre os países tende a agravar-se. Daí os dois motivos para escapar! Numa palavra, violência e falta de oportunidades nutrem os deslocamentos humanos de massa, provenientes em especial dos países periféricos (subdesenvolvidos), em direção aos países centrais (desenvolvidos). Em tal situação, impõe-se a busca por um futuro menos sombrio.
Na Europa, prevalece o clima de ambiguidade, implícito nas próprias expressões “crise migratória” ou “problema migratório”. Por parte dos governos, ao mesmo tempo que alguns erguem muros, outros se empenham em buscar soluções “humanitárias” através do sistema de cotas. Os meios de comunicação, não raro, mesclam e confundem as informações sobre migração, tráfico humano, terrorismo e ocorrências policiais. Consciente ou inconscientemente, insinuam um parentesco entre esses quatro âmbitos do noticiário cotidiano. O que desemboca fatalmente na criminalização dos migrantes e no reforço das tendências de extrema direita. A população, por seu lado, oscila entre o temor do outro, estranho, diferente e os apelos do Papa Francisco, por exemplo, para vencer a cultura da indiferença pela cultura da acolhida e da solidariedade.
Uma coisa é certa: na segunda metade de 2015, o tema das migrações ocupou espaços significativos nos jornais, telejornais e mídia em geral; nas polêmicas interpartidárias; nos debates políticos e policiais; nas reuniões de cúpula do União Europeia – para não falar das conversas de rua, bares, supermercados, pontos de ônibus e estações de trens ou metrô.Não foi diferente no âmbito das Igrejas, instituições variadas e organizações não governamentais. Podemos concluir que, nesse período, para o bem ou mal o mal, o fenômeno migratório jamais deixou a ordem do dia.