Estamos na Era da Economia Destrutiva: na China os lençóis freáticos diminuem 1,5 metros ao ano. No mundo, as florestas estão encolhendo mais de 9 milhões de hectares ao ano. O gelo do Mar Ártico, apenas nos últimos 40 anos, reduziu-se em mais de 40%.
Por Marcus Eduardo de Oliveira*
Mudanças climáticas. Com certa frequência, esse termo está nos noticiários pelo menos desde os últimos 25 anos. A mudança climática está intimamente relacionada ao modo como a economia global tem sido organizada, ajudada, em grande medida, pelos números que são objeto de estudos da demografia.
Para usarmos as palavras de Lester Brown e, simplificando essa história, estamos na Era da Economia Destrutiva: na China os lençóis freáticos diminuem 1,5 metros ao ano. No mundo, as florestas estão encolhendo mais de 9 milhões de hectares ao ano. O gelo do Mar Ártico, apenas nos últimos 40 anos, reduziu-se em mais de 40%. Enquanto lençóis freáticos caem assustadoramente de um lado, principalmente nas três maiores áreas produtoras de alimentos (China, Índia e EUA), do outro se queima florestas, expandem-se desertos e aumentam-se consideravelmente os níveis de dióxido de carbono. Os rios estão ficando às minguas. O principal rio dos Estados Unidos (o Colorado) mal chega ao mar. O Nilo já apresenta enorme dificuldade em atingir o Mediterrâneo.
Tomando nota de dados divulgados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), é fácil localizarmos ao menos três danos em decorrência das ditas mudanças climáticas: i) Derretimento das geleiras eternas do topo de montes como Fuji, no Japão, e Kilimanjaro, na Tanzânia; ii) Derretimento das calotas polares no Sul e no Norte: pedaços de gelo de água doce alteram a salinidade do mar, causando mudanças no clima e na cadeia alimentar. O urso polar, por exemplo, já tem dificuldade para achar comida; iii) Savanização da Amazônia: se a devastação continuar, por causa da pecuária, das fazendas de soja e da extração de madeira, e o clima esquentar, a floresta vai virar um cerrado, levando à morte várias espécies locais.
A combinação de todo esse conflito – na verdade, um desastre ecológico - está relacionada a necessidade de se alcançar crescimento econômico versus a capacidade da Terra em oferecer condições suportáveis para atender aos anseios de consumo de uma população mundial cada vez maior.
Descontadas as mortes, a cada dia 200 mil novas almas chegam ao “mundo do consumo”. Ao ano, são mais de 70 milhões de novos habitantes. Em 1900, havia 1,5 bilhão de pessoas no mundo. Hoje, dividimos o mundo com 7,2 bilhões de pessoas. Em 2050, teremos 9,5 bilhões de habitantes. Moral da história: em um período de 150 anos, de 1900 a 2050, a população mundial terá crescido espantosamente mais de 530%.
Por isso o planeta Terra está (e, se nada for feito, cada vez mais estará) doente, pois desde o Neolítico, 12 mil anos a. C., as sociedades, cada vez mais exigentes, têm consumido num ritmo voraz tudo aquilo que chamamos de recursos da natureza.
A intenção? Atingir o tal do “progresso”, erroneamente confundido com aquisição material. Para isso busca-se o crescimento econômico, espécie de indicador de “modernidade”. Pobre modernidade, triste progresso!
Em nome desses conceitos derrubam-se árvores, queimam-se florestas, acidificam-se oceanos, polui-se o ar, a água, eliminam-se incontáveis espécies da fauna e da flora e destroem-se os ecossistemas.
O consumo global, cada vez mais desigual e desalinhado à realidade, continua proeminente. Atualmente, apenas 20% da população mais rica do mundo utilizam ¾ dos recursos naturais. Uma parcela de 10% da população, de maior poder aquisitivo, responde por 50% das emissões de combustíveis fósseis que provocam o aquecimento global, enquanto a metade mais pobre do mundo (3,5 bilhões de pessoas) contribui com apenas 10%.
É o consumo exagerado de um lado fazendo adoecer o planeta, degradando a qualidade de vida de todos, exaurindo os recursos da natureza numa velocidade assustadora.
A falta de água potável talvez ilustre com precisão a situação de exaustão dos recursos naturais no mundo. A quantidade de água doce disponível na Terra é de apenas 0,5% do total das águas, incluindo as calotas polares geladas. Devido à urbanização intensa, os desmatamentos e a contaminação por atividades industriais e agrícolas, mesmo esta pequena quantidade de água está diminuindo, causando a desertificação progressiva da superfície da terra.
Enquanto regiões imensas na África, Ásia e América Latina carecem de recursos hídricos mínimos, nas regiões ricas que abriga os 20% mais consumistas, além do excesso de consumo, aumenta a poluição de rios, lagoas e lençóis freáticos e aquíferos subterrâneos.
Não obstante, a atividade econômica – sempre em nome do progresso e da modernidade - continua queimando petróleo, gás e carvão, derrubando e queimando florestas, contribuindo para o aquecimento global.
Com isso os gestores do sistema econômico mundial simplesmente ignoram um fato crucial: esquentando o planeta, esquentam também os mares e aumenta a evaporação das águas.
Conclusão: O gelo dos polos vai derreter elevando o nível dos mares, alterando consideravelmente as correntes marítimas. O outro nome disso? Desastre ecológico!