Quatro elementos foram comuns nos três países visitados pelo papa: diálogo ecumênico e inter-religioso, presença entre os menos favorecidos, encontro com os jovens e encontro com o clero e religiosos.
Por Luiz Antônio de Brito
Nas últimas semanas, o mundo inteiro comentou sobre a primeira visita pastoral do Papa Francisco à África. Como teriam sido as preparações? Como é viver esta experiência estando lá naquele continente? E qual é a importância de tal visita?
Quando se falava da vinda do papa à África, a mídia internacional apontava a insegurança como cartão de visita. Não era para menos! Todos os países visitados por Francisco nesta primeira visita têm, ou recentemente tiveram, grandes problemas com a segurança: o Quênia tinha se transformado em “parque de diversões” do grupo Al Shabaab com ataques sangrentos onde menos se esperava (bares, shopping e universidade); a Uganda vive em constante tensão com medo dos mesmos ataques e tem um governo de quase 30 anos que pune aos seus opositores; e a República da África Central está em guerra civil. Com todos estes aspectos negativos que colocavam a vinda do papa como preocupante, os organizadores não desanimaram e com muito profissionalismo e senso de humanidade conseguiram manter a segurança do Sumo Pontífice e de todos que lotaram as ruas para vê-lo.
Em Uganda, a atmosfera exalava alegria e uma certa ansiedade. Este era o assunto mais comentado na TV, na feira, na igreja e até no bar. O governo trabalhou junto com a Igreja para reformar o Santuário dos Mártires Ugandeses, as ruas foram varridas e outras asfaltadas, e até a Igreja Anglicana entrou com sua contribuição porque o papa foi visitar o Santuário deles dedicado aos mártires que foram executados juntos aos católicos em 1885. Muitos falavam que a vinda do papa não era em uma época oportuna porque estamos em plena campanha para eleições presidenciais e isto poderia ser usado pelos políticos para ganharem votos. Mas um vídeo postado na internet pelo papa um dia antes de sua viagem deu a todos, incluindo os políticos, a verdadeira intenção da visita: “estou vindo como um ministro do Evangelho, para proclamar o amor de Jesus Cristo e sua mensagem de reconciliação, perdão e paz”, dizia o papa em Inglês.
Depois de calorosas boas vindas no Quênia e tantas outras atividades, a mais marcante foi o seu encontro com os jovens, onde Francisco falou de temas bem presentes naquela realidade: radicalização dos jovens, tribalismo, corrupção e má distribuição de renda. O papa exortou-os a darem as mãos e não deixar que outros jovens se percam pelo mesmo caminho que tantos outros já foram.
Em Uganda, durante sua homilia no Santuário dos Mártires Ugandeses, onde uma infinita multidão o recebeu, o Sumo Pontífice falou da importância de continuar no mesmo exemplo dos mártires ainda mais hoje onde muitas vezes negligenciamos os pobres. No encontro com os Religiosos e clero o papa usou três palavras fortes: memória, fidelidade e oração. Não devemos perder a memória de quem somos! Uganda é chamada a terra dos mártires e a pérola da África, mas se não cuidarmos da sociedade a pérola ficará guardada em um museu, assim como a pérola da vocação de cada um dos presentes, dizia ele, se não cuidarmos na nossa vocação esse será o fim do que somos chamados a ser. Tudo isso é mantido com oração. O papa também pediu que as dioceses com clero suficiente ajude àquelas em dificuldades.
Na República da África Central o Santo Padre inaugurou a Porta do Ano da Misericórdia na catedral da capital do país. Durante a missa com o clero, religiosos, catequistas e jovens ele falou da importância do perdão e apelou aos responsáveis pela evangelização para que liderem os demais neste caminho. Na conclusão da sua homilia o papa falou com ênfase pedindo àqueles que fazem indevido uso de armas para que ponham abaixo estes instrumentos de morte.
Enquanto eu falava com alguns amigos religiosos, sacerdotes e leigos, eles sempre apontavam a relevância dos assuntos tratados pelo papa em seu discurso além de sua capacidade de unir pessoas de toda sorte de credo e status social. Assim como disse uma mãe solteira no Quênia à uma TV local: “o papa nos vê como pessoas especiais, por isso ele escolheu nosso país em meio a tantos outro no mundo para visitar”.
Quatro elementos foram comuns nos três países visitados pelo papa: diálogo ecumênico e inter-religioso, presença entre os menos favorecidos, encontro com os jovens e encontro com o clero e religiosos. Estes quatro pilares confirmam o que o papa disse que viria fazer na África: “proclamar o amor de Jesus Cristo e sua mensagem de reconciliação, perdão e paz”. Que as sementes plantadas pelo Santo Padre através de sua presença e palavras, ajude este amado continente a ser mais justo e pacífico. Viva a África!