O golpe de 64 e a Igreja Católica: memória da militância e testemunho de Plínio de Arruda Sampaio

Stephen Ngari

Na noite de 18 de setembro, às 19h, no Auditório Paulinas - Sobreloja da Livraria Paulinas da Vila Mariana, foi realizado o segundo debate sobre resgate e resistência da ditadura militar. O evento foi coordenado pelo padre José Oscar Beozzo e tinha como convidados o senhor Waldemar Rossi, da Pastoral Operária, Chico Whitaker, do Fórum Social Mundial e Comissão Brasileira de Justiça e Paz, e Marietta de Arruda Sampaio, companheira de fé e caminhada de Plínio de Arruda Sampaio.

O debate foi sublinhado pela homenagem a Plínio, militante católico, opositor ao golpe de 64, paladino da reforma agrária e da participação popular. Mesmo no exílio onde se refugiou depois de ter seus direitos políticos cassados, continuou lutando e apoiando os grupos populares de resistência à ditadura.

O padre Beozzo traçou o perfil da Igreja desde o início do golpe de 1964 quando apoiou o movimento, até a declaração da assembleia da CNBB em 1977, na qual todos os bispos se opuseram à ditadura. Enquanto a Igreja hierárquica se dividia entre o apoio e resistência no início da ditadura, as organizações de base resistiram desde o início ao regime. O mais característico foi o movimento Juventude Universitária Católica (JUC). O movimento operário também mostrou resistência ao golpe.

No final da década, a repressão do regime militar tornou-se sangrenta. Em 1972 a resistência assumiu o caráter regional. Cada regional se organizou para proteger os trabalhadores e denunciar os abusos dos direitos humanos. O CIMI, que havia sido criado para cuidar dos direitos dos indígenas da Amazônia, foi nacionalizado. Começou a se envolver com indígenas no Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Bahia.

Porém, a CNBB estava rachada ao meio. Uma parte ainda apoiava a ditadura, e a outra, liderada por dom Pedro Casaldáliga pronunciou-se publicamente contra. A voz mais contundente da Igreja veio dos bispos do Nordeste com a sua mensagem, "ouvi o clamor do meu povo". No Centro-Oeste os bispos defenderam políticas da reforma agrária. No Sudeste denunciaram as torturas dos presos políticos. Em 1973 o CIMI lançou um documento em defesa da população indígena intitulado, "Y Juca Pirama - O Indio: Aquele que Deve Morrer".

O ano de 1974 foi marcado por duas iniciativas: formação da Comissão Pastoral da Terra: compreender os direitos da terra, defender trabalhadores e denunciar violações dos direitos humanos e direito à terra.

Waldemar Rossi, que era na época coordenador da Pastoral Operária e criador do Movimento de Operação Sindical, foi introduzido na luta da JUC por Plínio de Arruda Sampaio. Coordenou e articulou a resistência dos trabalhadores. O movimento começou antes do golpe e continuou a resistir durante a ditadura. O trabalhador deve ser protagonista das transformações que deseja na sociedade.

Logo que a ditadura se instalou, começou a caçar os sindicatos e a fazer calar a classe trabalhadora. A ideia foi plantar o capitalismo que privilegia o capital e a produção. Os sindicatos não se intimidaram e começaram o trabalho de formiguinhas.

Quando o AI-5 acabou com os direitos de todo mundo, a resistência recuou, mas continuou clandestinamente. O regime manipulou as empresas que chegaram a colaborar com ele, passando a listas dos funcionários e suas atividades contra a ditadura.

No ano de 1978, estouraram os movimentos dos trabalhadores e as Comunidades Eclesiais de Base cresceram em todo o Brasil. Elas apoiaram mais uma vez as organizações populares de resistência à ditadura.

Chico Whitaker participou na liderança do Movimento da Juventude Católica a nível nacional e internacional. Durante a ditadura se refugiou na França onde continuou a luta contra o regime, de 1975 a 1981. Foi uma pessoa importante na formação e na condução das "Jornadas Internacionais por uma Sociedade superando as dominações", projeto da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB. Recolhia os depoimentos das vítimas do regime militar, publicava e divulgava em quatro línguas: inglês, francês, espanhol e português.

Marietta agradeceu o reconhecimento e a homenagem feita ao marido. Saudosamente falou de suas lutas e pediu que a Igreja não perca o ideal vivido na época do Movimento Ação Católica.

Fonte: Revista Missões

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