Francisco vai falar no Parlamento Europeu em Estrasburgo

Sébastien Maillard

A Santa Sé e o Parlamento Europeu surpreenderam a imprensa ao anunciarem dia 11 de setembro, que o papa se deslocará ao Parlamento no dia 25 de novembro, onde fará um pronunciamento na sessão solene.

Esta viagem do papa não representa uma visita de caráter pastoral à França que, junto com a Europeia, passa por um momento de crise e com dificuldade de rever as instituições.

"A Europa está cansada (...) ela se descuidou. Queremos ajudá-la a rejuvenescer, a reencontrar suas raízes" , afirmou o papa Francisco no dia 15 de junho, em Roma na comunidade de Santo Egídio. O papa deseja levar esta ajuda na oportunidade em que o Parlamento Europeu troca de lideranças. A comunicação, mantida em segredo até 11 de setembro, foi dada tanto pelo líder europeu, Martin Schulz, como pelo responsável da Santa Sé pela comunicação, padre Federico Lombardi.

O papa terá pela frente os 751 deputados, eleitos em junho deste ano. Os deputados se reúnem mensalmente em uma "sessão solene" plenária. Na sessão de novembro, o novo presidente tomará posse e os novos deputados iniciam seu caminho de nova legislatura, informa uma fonte diplomática europeia. Esta visita do papa terá também como referência histórica os 25 anos da queda do mudo de Berlin.

Uma visita preparada com muita discrição

"Esta visita a Estraburgo, antes de qualquer visita oficial a um dos Estados membros, tem um significado profundo" , afirma o cardeal Reinhard Marx, presidente das Conferências episcopais dos países que compõem a União Europeia (Comece), visto como um dos possíveis articuladores desta visita papal porque ele tem vínculos muito próximos com ele. "O papa Francisco se preocupa com a sustentabilidade europeia e deseja apoiá-la para que se integre cada vez mais", afirma o arcebispo de Munique. "Ele considera as instituições europeias como portadores de um modelo único no continente".

Preparada silenciosamente durante o mês de agosto foi também obra do núncio apostólico de Bruxelas, dom Alain Lebeaupin. Muitos dos diplomatas dos países europeus junto da Santa Sé não acreditavam nessa possibilidade, segundo a informação de um deles, porque este papa não europeu não mostrava interesse em dar importância a uma cultura que foi construtora de culturas latino americanas.

"A Europa, a confiança ou a desconfiança nela. O Euro, aqueles que preferem voltar atrás... eu não entendo bem estas coisas", dizia o papa quando foi interrogado pela imprensa por ocasião das eleições europeias, marcadas por uma onda populista. Foi uma tomada de posição que alinhava com a preocupação de seus predecessores, Bento XVI e João Paulo II, quando esteve no Parlamento Europeu no dia 11 de outubro de 1988

"Este papa agrada também à esquerda política"

Certamente foi por causa do 25 aniversário dessa visita que o novo dirigente europeu veio a Roma convidar o papa. O vaticano, mantendo suas críticas a respeito de algumas leis europeias, queria deixar passar um tempo depois das eleições. Naturalmente sem fechar a porta. "Este papa tem que entender como é a Europa, assim como João Paulo II entendeu o que era o ecumenismo", previa um dos cardeais da cúria romana.

No contexto político de Martin Schulz, há muita confiança quanto à acolhida que os deputados vão oferecer ao papa Francisco: "Este papa agrada também à esquerda. Ele pode correr sérios riscos, mas é diferente de seu predecessor". Se Bento XVI tivesse sido convidado a vir ao parlamento europeu pelo democrata cristão alemão, Hans-Gert Pöttering, que na época era o presidente, ele não teria passado a soleira da porta com medo das hostilidades.

Este papa não renuncia a se pronunciar sobre assuntos controversos.

Com uma popularidade muito mais larga do que os círculos católicos, o papa Francisco não hesita em se pronunciar com clareza sobre temas controversos tais como o termo, "raízes europeias", que ele pode relembrar. Propriamente ele não tem usado o termo raízes cristãs, associadas à acolhida dos pobres e dos estrangeiros.

"Eu vejo aqui numerosos "novos europeus" dizia ele na comunidade Santo Egídio referindo-se aos emigrantes que passaram por dores e perigos na viagem de emigração". Foi nesse dia que ele anunciou sua primeira viagem fora da Itália, para a Albânea, que foi uma grande surpresa.

O papa voltará no dia 21 de setembro à capital desse pequeno país pobre, situado na margem da Europa, onde há uma boa convivência entre cristãos e muçulmanos, embora a prática verdadeiramente cristã seja frágil. Logo depois da ida ao parlamente europeu, Francisco se deslocará à Turquia.

 

Fonte: La Croix

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