Refugiados sírios chegam a três milhões, em meio à crescente insegurança e piora nas condições de vida

ACNUR

Cada vez mais intensa, a crise de refugiados na Síria atinge hoje o número recorde de três milhões de pessoas, em meio a relatos sobre a piora nas condições da população civil dentro do país. Em várias cidades, a população está cercada, pessoas estão famintas e civis estão sendo alvejados ou mortos indiscriminadamente.

Quase metade de todos os sírios foi forçada a deixar suas casas e a fugir para salvar suas vidas. Um em cada oito (12,5%) sírios tem cruzado a fronteira do seu país, o que significa um milhão de pessoas a mais que em todo o ano anterior.

Outros 6,5 milhões de cidadãos sírios encontram-se deslocados dentro do território sírio. Mais da metade dessa população deslocada é formada por crianças.

O Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) e outras agências humanitárias estão verificando um número crescente de famílias chegando aos países de refúgio em estado de choque, exaustos, assustados e com
seus pertences depauperados. Muitas dessas famílias estão em processo de deslocamento por mais de um ano, fugindo entre uma vila e outra antes de tomar a decisão de deixar o país.

Há sinais preocupantes de que os caminhos que levam para fora da Síria estão se tornando mais difíceis, com muitas pessoas sendo forçadas a pagar propinas em pontos de fronteira controlados por grupos armados.

Refugiados que cruzaram o deserto em direção à Jordânia estão se valendo de esquemas de tráfico humano e pagando até US$ 100 por pessoa para chegar a um local seguro.

A grande maioria dos refugiados sírios permanece em países vizinhos, sendo as maiores concentrações no Líbano (1,14 milhão de pessoas), Turquia (815 mil) e Jordânia (608 mil). Além dos três milhões de refugiados sírios já registrados pelo ACNUR, os governos destes países estimam que outras centenas de milhares de sírios têm buscado segurança em seus países, pressionando a economia, infraestrutura e recursos locais.

Pelo menos quatro em cada cinco refugiados sírios estão vivendo em cidades e outras áreas urbanas, fora dos campos, sendo 38% deles em abrigos abaixo dos padrões.

O número de 03 milhões de refugiados sírios anunciado hoje representa o maior grupo de refugiados sob o mandato do ACNUR, e a operação de resposta a esta crise é maior nos 64 anos de história do Alto
Comissariado. Os cerca de 06 milhões de refugiados palestinos seguem sendo a maior população refugiada do mundo, sob os cuidados da UNRWA (uma agência da ONU que cuida unicamente desta população).

"A crise síria se tornou a maior emergência humanitária da nossa era, e o mundo continua falhando ao não atender as necessidades dos refugiados e dos países que os abrigam", disse o Alto Comissário da ONU para Refugiados, António Guterres. "A resposta à crise síria deve ser generosa, mas a verdade amarga é que estamos aquém do que é necessário", completou o chefe do ACNUR.

O recente recrudescimento do conflito sírio está piorando uma situação que já é desesperadora. À medida que as frentes de combate avançam, novas áreas vão se tornando vazias. As pessoas que chegaram recentemente
na Jordânia, por exemplo, estão fugindo de ataques nas áreas de Raqaa e Aleppo.

O ACNUR está extremamente preocupado com o bem-estar de milhares de sírios que estão no campo de refugiados de Al Obaidy, no Iraque, de onde não estão conseguindo sair. Agências da ONU e outras ONGs internacionais foram obrigadas a abandonar seus escritórios e armazéns.

O ACNUR informou que seus parceiros nacionais continuam provendo assistência e apoio, mas a situação é muito volátil.

Muitos dos sírios que estão chegando aos países vizinhos dizem que deixar a Síria foi seu último recurso. Um número cada vez maior, incluindo mais da metade daqueles que se encontram no Líbano, se mudou pelo menos uma vez antes de fugir, e 10% destas pessoas se deslocaram para três locais diferentes dentro da Síria antes de deixar o país. Uma mulher disse ao ACNUR que ela se mudou nada menos que 20 vezes antes de cruzar a fronteira em direção ao Líbano.

Além da piora na situação de segurança, os refugiados relatam uma crescente dificuldade em encontrar trabalho, num ambiente de preços em alta e de serviços precários. Um pacote de pão em vilarejos sírios está custando dez vezes mais que há um ano, disse um refugiado recém-chegado à Jordânia.

Uma parcela cada vez maior dos recém-chegados (cerca de 15% na Jordânia, por exemplo) tem problemas sérios de saúde, como diabetes, doenças cardíacas e câncer, e deixou o país porque não tinha mais condições de obter tratamento médico adequado.

O ACNUR está trabalhando com outras 150 agências e organizações, e também com governos dos países vizinhos à Síria, para ajudar os refugiados a pagar seu aluguel e conseguir comida, educação e cuidados
médicos, além de doar itens básicos como tendas, colchões e lonas plásticas.

Apenas no último ano, 1,7 milhão de refugiados recebeu ajuda alimentar, 350 mil crianças foram matriculadas em escolas, mais de 400 mil refugiados receberam abrigo em campos. Desde o início da crise, em 2011, o ACNUR registrou refugiados mais rapidamente do que em qualquer outro tempo em sua história.

Os doadores já contribuíram com mais de US$ 4,1 bilhões a sucessivos planos de resposta regionais desde 2012. Entretanto, mais de US$ 2 bilhões ainda são necessários até o final deste ano para responder às necessidades mais urgentes dos refugiados. Estima-se que mais de 2,4 milhões de pessoas necessitarão apoio nas próximas semanas, em preparação ao inverno na região.

Fonte: www.acnur.org.br

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