Assessoria de Imprensa
Em outro gesto que sinaliza tempos mais progressistas para Igreja Católica e a reabilitação da Teologia da Libertação no âmbito da referida Igreja, o Papa Francisco anunciou esta semana a revogação da suspensão [‘suspensión a divinis'] do sacerdote nicaraguense Miguel d´Escoto, de 81 anos. Durante 30 anos, d´Escoto foi impedido pelo Vaticano de ministrar missa, confessar fiéis e dar outros sacramentos. A suspensão do sacerdote ocorreu por sua forte ligação com a Teologia da Libertação e, consequentemente, com a revolução sandinista na Nicarágua, então combatidas pelo Papa João Paulo II e o Governo dos Estados Unidos, respectivamente.
Padre d´Escoto era forte apoiador dos rebeldes sandinistas, que se uniram com a finalidade de derrubar a ditadura da família Somoza do Governo da Nicarágua. Nos anos 1970, grupos guerrilheiros de várias tendências políticas formaram a Frente Sandinista. Em 1979, a Revolução Sandinistasaiu vitoriosa. Nesse ano, o sacerdote assumiu a titularidade do Ministério das Relações Exteriores, onde ficou durante 10 anos. Na década de 80 do século XX, João Paulo II e seu fiel colaborador, o então cardeal Joseph Ratzinger - depois Papa Bento XVI, que renunciou ao pontificado no início de 2013 - declararam guerra à Teologia da Libertação, perseguindo todo o clero que a apoiava.
O padre nicaraguense foi punido por sua militância política e a participação no governo sandinista, que enfrentava abertamente os Estados Unidos. O Governo da Nicarágua chegou a denunciar ante a Corte Internacional de Haia os EUA por bloqueios militares. A Corte deu razão à Nicarágua, mas os EUA ignoraram a decisão.
Outros dois sacerdotes nicaraguenses também foram punidos: o jesuíta Fernando Cardenal e seu irmão Ernesto. Em 1996, Fernando foi reincorporado à ordem jesuíta, após a revogação da suspensão. Ernesto, por sua vez, continua no ostracismo.
Padre d'Escoto também, nos anos 1970, fundou a editora Orbis, que se desenvolveu publicando livros sobre espiritualidade, teologia e temas da atualidade, muitas vezes na perspectiva do Terceiro Mundo. D'Escoto pertence à congregação missionária Maryknoll e escreveu, no semestre passado, uma carta ao Papa para expressar seu desejo de voltar a celebrar a Eucaristia "antes de morrer". O pontífice argentino não demorou a lhe responder. Além de aceitar a revogação da suspensão, pediu ao principal prelado da congregação que inicie o quanto antes o processo de reintegração do sacerdote nicaraguense.
Fonte: www.adital.com.br