Jean Comte
Desde o ano 2000, a África atrai grande volume de investimentos estrangeiros, sobretudo provenientes dos países emergentes. Esse capital pode tornar-se a melhor oportunidade para que alguns países africanos levantem voo, com a condição de uma correta administração.
O estudo sobre as perspectivas econômicas na África, publicado em maio pela Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o Desenvolvimento (Cnuced) divulgava uma boa notícia sobre a África. O relatório informou que os investimentos diretos estrangeiros (IDE) no continente podem alcançar, em 2014, o record de bilhões de dólares. O documento acrescenta que o crescimento deve alcançar o nível de 4,8% neste ano e 5,7% no próximo.
Certo é que a África atraiu nos últimos dez anos cada vez mais investimentos estrangeiros. Desde o ano 2000, o estoque de investimentos se multiplicou por quatro! Este movimento rápido não partiu dos países desenvolvidos, mas da iniciativa dos países emergentes. Na frente estão a Malásia, a Índia e a China: em 2011 eles investiram diretamente na África 35,3 bilhões de Euros, sendo a maior investidora a Índia e a menor a China.
A China ajuda no crescimento da credibilidade da África
Segundo Roland Marchal, especialista sobre a África no Centro de Estudos de Relações Internacionais de Ciência-Po, a Malásia, desde os anos 90 está investindo na África. A China começou a se interessar por esse mercado desde o início do milênio; a partir do Fórum, ela decidiu entrar definitivamente em cooperação com a África.
Esse Fórum acontece a cada três anos onde são anunciados os novos acordos. "A China aumentou com seus investimentos a credibilidade da África, sob a ponto de vista econômico, sintetiza a estudiosa Marchal. Ela explicou para a comunidade internacional como é possível ganhar muito dinheiro com o investimento nesse continente, através de uma estratégia de cálculo de longo prazo".
A Índia reagiu muito rapidamente, tornando-se, nos dois anos seguintes, um dos 15 países investidores (2004) e em 2012 já era o quinto país com maior investimento. "A Índia concentrou seu investimento, sobretudo, nas antigas colônias britânicas", acrescenta Roland Marchal. Ultimamente outros países se interessaram por esses investimentos: o Brasil, a Rússia e a Turquia. Mas esse movimento de capital ainda é modesto: não tem o peso econômico e diplomático da China", acrescenta Roland.
O consumo de produtos na África explode
A quase totalidade dos países africanos foi objeto desses novos investimentos, em níveis diferentes. No Togo, por exemplo, os IDE quadruplicaram em 12 anos tendo alcançado um investimento de apenas 123 milhões de Euros em 2012. É já um bom resultado, mas se o compararmos com Moçambique é fraco, porque durante os mesmos anos passou de 103 milhões para 3,8 bilhões de Euros e a Nigéria passou de 976 milhões de investimentos para 5,2 bilhões.
Estes são alguns dos países que hoje apresentam um bom volume de recursos naturais fáceis de explorar, a eles se juntam a África do Sul, Gana, Marrocos e Sudão.
"Estes investimentos não se preocupam apenas com materiais de primeira linha como afirma o Amaury de Feligonde, de OkanConsulting, um gabinete de consulta sobre os recursos africanos. Cada vez mais se investe em infraestruturas e sobretudo em bens de consumo. O consumo dos africanos está no limite de uma explosão!" Numerosos investimentos se fazem na produção de bens de consumo, mas acreditam também no benefício de sua aplicação em construção de moradias e em modernas infraestruturas.
Segundo os últimos dados do FMI, 25 % dos IDE que foram investidos na África em 2003 tiveram como finalidade a extração de matérias primas, mas hoje isso representa apenas 5% de todos os investimentos. E da outra parte aquilo que visa o progresso do comércio e sua infraestrutura já chegou a 20% a partir de 2010, quando em 2003 era apenas de 10%. As coisas estão mudando muito rápido.
Os entraves para se levantar e decolar
A partir destes dados, podemos entender como estamos perante uma boa oportunidade para que o continente possa levantar seu voo. Mas infelizmente tem muitos problemas básicos para serem solucionados. Roland Marchal pensa que muitos dos países necessitam progredir muito para administrar bem esses fundos disponibilizados.
"Muitas vezes são gastos sem pensar o longo prazo e sem pensar nas necessidades básicas da população, explica a cientista. O Chade, por exemplo, é um campeão na construção de estradas que para nada servem. Ou ainda por construir tantas escolas sem ter professores para dar aulas e assegurar o ensino contínuo".
"O que mais dificulta o bom aproveitamento dos recursos é a corrupção e na Nigéria, por exemplo, uma boa parte da exploração de petróleo é perdida".
Além da utilização dos investimentos
A África enfrenta outros desafios. Em primeiro lugar está a situação da população. Ela vai continuar a crescer fortemente nos próximos anos. "Prevê-se que vai alcançar a cifra de um bilhão nos próximos anos e em 2.050 seja de 2 bilhões. É absolutamente necessário formar bem esse povo e arrumar trabalho para ele".
As atuais infraestruturas não se encontram no nível adequado para o crescimento. No conjunto do continente, exceto a África do Sul e Marrocos, já têm um "nível de produção de energia elétrica igual à da Espanha", afirma Amaury Féligonde.
O otimismo de especialistas
Enfim, a África deve enfrentar situações problemáticas em termos de segurança e de estabilidade social e política. Numerosos países africanos atravessam crises graves, como o Mali, a República Centro Africana, a Nigéria e a Líbia. Mesmo assim, os especialistas estão otimistas. "Eu penso, que em muitas regiões, as coisas vão melhorar, afirma Roland, sobretudo no leste e no sul do continente, onde já há sinais de entrada numa nova fase".
"O continente carrega muitas marcas negativas, afirma Amaury de Féligonde. Mas trata-se de outras tantas oportunidades para poder progredir positivamente".
Um continente pobre, mas com grande possibilidade de crescimento.
Em 2013, a África foi o continente com o maior crescimento - 5,6 % - um nível que se espera seja repetido neste ano, explica George Ingram, pesquisador da Brookings Institution, um centro importante de pesquisa de Washington. Segundo ele, seis dos países com maior crescimento de 2.000 a 2010, são africanos.
Apesar desse crescimento, o continente continua sendo o mais pobre do mundo. A Conferência das Nações unidas sobre o Comércio e o desenvolvimento (Cnuced) sublinha que "o problema da fome e da extrema pobreza persiste" e que "os desempregados e as desigualdades aumentaram demais no último decênio."
Fonte: Jornal La Croix