Vou fazer uma coisa nova???

P. Maurice Awiti, imc

Esta expressão resume o que tocou os nossos corações e nossas reflexões durante a primeira semna do encontro de formação permanente (contínua) que começou em Cochabamba, na Bolivia dia 07 de julho e se prolongará té 14 de agosto. (Maurice Awiti, imc)

"Vejam que estou fazendo uma coisa nova: ela está brotando agora e vocês não percebem"? (Is. 43, 19).
Quero fazer uma exposição das primeiras reflexões, não se modo convenciaonal, sobre os temas que tratamos ao longo desta semana e hoje encerramos, 13 de julho. Trata-se de uma abordagem de naturza antropolágica, ecológica, filosófico-teológica e ética.

Estamos no centro de Formação Missionária Internacional de Cochabamba, onde a equipe SEMILLA oferece vários cursos para agentes de pastoral (catequistas, animadores, educadores), missionários, religiosos e religiosas e sacerdotes. Quase todos os que participam nesses cursos trabalham no sub continente da América do Sul. São os missionários de Maryknoll que tiveram a iniciativa de "re-pensar a missão" a partir da realidade da América latina.

Nós, missionários da Consolata estamos participando deste curso pela primeira vez e é também a primeira vez que tentamos participar num curso organizado por outros organismos. A idéia é a de participar num curso organizado por nós como se fez no passado, mas num curso organizado por outros, embora saibamos que há vantagens e desvantagens.

Os que frequentam os cursos oferecidos neste centro representam uma variedade tanto de origem como de formação: vêm do trabalho agrícola, da educação, da pastoral; uns com uma longa experi|ência pastoral e outros ainda começando. Em termos de formação académica também há uma grande veriedade, o que enriquece muito este tipo de encontros. Neste nosso encontro a composição é a seguinte: da China (1), da Indonésia (1) do Kénia (4), de Portugal (1), do Brasil (1), do Chile (2), da Argentina (6), da Colombia (2) e da Bolivia (8).

A equipe coordenadora SEMILLA (Serviço para a Missão e Liderança na América Latina) tem uma longa experiência na formação permanente. Eles e já conseguiram expandir seu programa de formação até à América Central. A proposta quer oferecer formação missionária diferente para que se possa trabalhar com um modelo pastoral próprio de nosso ambiente cultural. De fato, começamos com o canto inicial de Alejandro Lerner "Mira hacia tu alrededor"... "siente el latido de tu corazón" (olha à tua volta... escuta as batidas do teu coração). Este novo horizonte tem seu fundamento na antropologia, na ética, na ecologia, na história, na filosofia, na política e na teologia. Este canto transmite uma energia que vai além das palavras.

No primeiro dia tivemos o privilégio de escutar Juan José Bautista, um grande filósofo da Bolivia, que atua no México. Juan é um discípulo de Enrique Dussel Ambrosini . Ele tem uma visão extensa e uma compreensão profunda daquilo que ele chama "herança colonial". Uma herança que deve ser compreendida desde a colonização, para se poder entender esse monstro da colonização. Na origem de tudo isso está o eurocentrismo. Este conceito exprime o que a Europa organizou e realizou, convencida de ser o centro e o motor de toda a civilização. E ainda carregamos os frutos de tudo isso. Também foi colocada a questão religiosa e da cultura, aspectos que pedem uma profunda revisão do que se vive no dia a dia.

A abordagem desse tema da colonização, feita pelo Juan José, parte da idéia de que é importante para recuperar o que se perdeu. Porquê? A teologia está na base, porque a religião institucionalizada serviu muito para a composição da cosmovisão que temos e guardamos durante muitos anos.
No sul há uma gestação de processos alternativos, alguns apenas no começo. Podemos falar de estudos de descolonização, e eco-teologia, interculturalidade como eixos fundamentais daquilo que está brotando na América Latina, na Ásia e na África.

Outra assessora foi a Irmã Sofia Chipan, membro da congregação das Irmãs Terciarias Trinitarias. Ela faz parte do grupo de Serviço Bíblico de La Paz (SEBIP) e da comunidade de Teólogas Indígenas de Abya Yala.
Ela focalizou os tres primeiros capítulos do Génesis sobre os quais assentou formulou oa tres eixos de sua exposição: A imagem de Deus, o Poder e deturpações da criação e os Modelos de Relacionament

1. Imagem de Deus.

Ao longo da historia conservamos uma cosmologia e imagen do mundo que nos conduziu para alguns enganos. O imaginário configurou um Deus de cima, de fora. José Maria Vigil afirma: não podemos continuar a ser pessoas de hoje carregando aquele imaginário" . Necessitamos construir uma nova visão de mundo, uma visão alternativa de Deus.

A ideia de Deus que se guardou durante séculos traduz uma imagem insuficiente de Deus. (cf. José María Vigil). Deus é o Pachakamak, como é chamdo pelos indígenas da serra equatoriana; ele não está num píso superior, não está longe da criação nem fora dela.
A partir dessa nova compreensão da presença de Deus, muda totalmente a imagem que temos de um Deus que julga e cobra e podemos compreender melhor a pessoa de um Deus amor, Pai, o Pai de Jesus (abba), e misericordioso.

2. O poder e as manipulações da criação

São Tomás afirmava que "um erro acerca da compreensão da natureza resulta em um erro acerca de Deus". As deturpações da criação acontecem por causa da cobiça de ter e de poder. Os erros cometidos sobre a criação causam sofrimento e brotam das deturpações que colocamos sobre a imagem de Deus e das idéias religiosas que daí se construiram. Estas compreensões roubaram-nos a capacidade de responder aos vazios e aos desafios que hoje enfrentamos como as mudanças climáticas. Foi bem focalizada a importância e a consciência que os povos andinos têm da ideia de pachamama (terra), o respeito e a valorização da terra. A ela se deve pedir autorização para poder cultivá-la com respeito e depois da colheita devemos agradecer-lhe o fruto que nos deu.

3) Modelos de conexões

As conexões são um instrumento muito importante em nossos dias, sobretudo porque vivemos no âmbito de uma comunicação de massa. A facilidade de relacionamento rápido e sem fronteiras é um valor muito importante, mas também pode favorecer novas formas de exclusão. Em resumo assinalamos algumas das formas de relacionamento que favorecem a organização de grupos.

a) Conectividade - Como evitar os modelos de dualismo?
b) Complementariedade - Qual é o papel que cabe a nós e ao resto da criação?
c) Reciprocidade - Dar e receber em mútuo intercâmbio sem busca de lucro é um princípio que o mundo capitalista pode entender?
d) Inclusão - Num mundo onde a as alianças são colocadas em primeiro plano, como incluir sem excluir ninguém?

Ficamos também algumas horas refletindo com o psicólogo da Maryknoll, padre Raymundo Finch. As perguntas formuladas foram as seguintes: Quem sou, porque sou do meu jeito, quais as minhas motivações? A reflexão se concentrou sobre o "piloto automático", que traduz as idéias que carregamos com preconceitos e nos impedem de ver a realidade tal como ela é.
Como tempero espiritual para a semana toda seguimos com o evangelho de João capítulo 4, o encontro de Jesus com a samaritana. Os participantes foram agrupados em 5 pessoas cada, para reflexão e oração, onde se pode favorecer a criatividade e cada um poder tirar de seu poço tudo o que puder e quiser, pensamentos fragmentos, ao longo da semana. Novidades, mesmo pequenas, não faltaram para nos ajudar a abrir os olhos e coração ao longo da semana. O espaço de conhecimento e de fraternidade vai-se construindo aos poucos.
Teresa Parodi, em seu canto, diz: "Não pares de cantar". O canto vai continuar até o dia 14 de agosto.

Os participantes imc.
1. Carlos Eduardo P. Alarcòn Mesa (colombiano, trabalha na Amazonia - Brasil)
2. Alphonse P. KiokoKimilu (keniano, trabalha na Argentina)
3. Stephen Erastus P. Murungi (keniano, trabalha no Brasil)
4. Ir. Carlos Manuel Margato Ponti (português, trabalha no Brasil)
5. Maurice P. Awiti (keniano, trabalha no Equador)
6. Ronildo de França P. Pinto (brasileiro, trabalha no México)
7. Mario Zuluaga (colombiano, Professor leigo - Colégio José Allamano - Bogotà)
8. Marcelo P. de Losa (argentino, regressa da missão na Tanzânia)
P. Maurice Awiti, imc

 

Fonte: Revista Missões

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