Egon Heck
O ano mal começa e chegam as notícias do Mato Grosso do Sul: a morte do pai do cacique Nisio Gomes. Adão Gomes morreu na primeira semana de 2013, aos 87 anos. Partiu sem saber do paradeiro do corpo de seu filho, assassinado em novembro de 2011 no tekohá Guaiviry. "Genito comunicou também que hoje o Valmir sofreu uma ameaça. Ele foi chamado para ir a entrada da área, disseram que era da saúde. Quando chegou lá tinham várias pessoas com facão, flecha... e o ameaçaram. Ele tentou segurar o pessoal lá, chamou a força nacional, mas foram embora. Eles estão muito assustados".
Outra manchete que circula nas redes sociais dá conta do grau de ameaças que pesa sobre lideranças desse povo: "Jagunço recebe arma, celular e R$ 600 para matar líderes Kaiowá".
Sabemos que a estratégia de intimidar as lideranças e as comunidades indígenas em luta pelas suas terras, sempre foi usada pelos inimigos dos direitos indígenas. A diferença que hoje se percebe é que, apesar dos assassinatos, as lideranças externaram sua disposição de não se deixar intimidar pelas ameaças, continuam resolutos no único caminho que lhes resta, o retorno às suas terras tradicionais.
O ano da terra Kaiowá Guarani
Marta do Amaral Azevedo, presidente da Funai, prometeu publicar pelo menos o relatório do grupo de trabalho de Iguatemipeguá antes que o ano de 2012 terminasse. Não conseguiu cumprir sua promessa. Mas, finalmente, no dia 7 foi publicado no Diário Oficial o relatório circunstanciado da terra indígena Iguatemipeguá I (Pyelito Kuê-Mbarakay). Essa comunidade Guarani Kaiowá, teve uma das mais incríveis histórias de resistência contra todos os decretos de morte e violência. Conseguiram dizer ao Mato Grosso do Sul, ao Brasil e ao mundo sua inabalável decisão de morrer pelo seu chão sagrado, se preciso fosse. A justiça brasileira, diante do clamor mundial, lhes reconheceu o direito de permanecer em 1 (um) hectare de terra até que a Funai concluísse o trabalho de identificação. Esse é apenas um passo no difícil processo de reconquistarem partes de seu território tradicional. Que as previsíveis reações do agronegócio, procurando impedir ou retardar ao máximo a devolução das terras aos Kaiowá Guarani, sirvam de estímulo não apenas para continuar a campanha e mobilizações em favor da vida e direitos desse povo, mas nos impele a ampliar as mobilizações para que essa questão seja resolvida definitivamente.
Se o ano de 2012 foi o grande momento de visibilidade, mobilização e solidariedade com o povo Guarani Kaiowá, este esperam que o governo de passos decisivos, com a urgente publicação das portarias declaratórias, que o Judiciário julgue no tempo mais breve possível as ações que paralisam as demarcações, e que o Legislativo assegure no orçamento recursos necessários para a solução constitucional, justa e decisiva.
Fonte: Egon Heck / Revista Missões