Encontro Nacional de Fé e Política discute superação da violência e do extermínio de jovens

Jaime C. Patias

"Quando a gente fala de extermínio da juventude, amplia a discussão da violência para questões que muitas vezes a própria organização juvenil não quer discutir. Falar de extermínio é algo duro, não é fácil de abordar", afirmou Thiesco Crisóstomo de Oliveira, 25, Secretário Nacional da Pastoral da Juventude - PJ, durante Plenária Temática que discutiu a Superação da Criminalização da Juventude, no 8º Encontro Nacional Fé e Política, ocorrido nos dias 29 e 30 de outubro em Embu das Artes, São Paulo.

O risco de um jovem negro ser vítima de homicídio no País é 130% maior que o de um jovem branco, segundo o Mapa da Violência - Anatomia dos Homicídios no Brasil, estudo que compreende o período de 1997 a 2007, divulgado em 2010, com base nos dados do Ministério da Saúde. Nos últimos cinco anos, o número de mortes por assassinato entre a população jovem branca apresentou uma redução significativa de 31,6% enquanto que entre negros houve um aumento de 5,3% das mortes no período.

Em entrevista à revista Missões, Thiesco Crisóstomo, natural de Marabá no Pará, e estudante de Ciências Sociais na Universidade Federal de Belém avalia os rumos da Campanha Nacional contra a Violência e o Extermínio de Jovens.

Quais são as ações da Campanha e que impacto isso teve para mudar essa realidade de morte?
A Campanha lançada em 2009 nasceu da reflexão da 15ª Assembleia Nacional das Pastorais da Juventude do Brasil (ocorrida em maio de 2008). No primeiro momento ela teve o seu impacto. Em 2010 foram realizados seminários e audiências Públicas em diversos estados do país. No momento estamos com trabalhos nas dioceses aproveitando o Dia Nacional da Juventude - DNJ (celebrado todos os anos no último domingo de outubro) para aprofundar a Campanha em todo o Brasil. No próximo fim de semana (05 e 06 de novembro) nos reuniremos com as pastorais e organizações parceiras, em Belo Horizonte para um Seminário de avaliação e programação da Campanha para 2012.

A Campanha é contra o extermínio de jovens em geral. Ela aborda também outros problemas relacionados a essa questão, como por exemplo, o da violência contra a mulher?
Este ano, as atividades como a Semana da Cidadania, a Semana do Estudante e o Dia Nacional da Juventude, foram pensadas a partir dos agentes de transformação. Na Semana da Cidadania, por exemplo, nós trabalhamos a questão da terra com os camponeses. Na Semana do Estudante trabalhamos a luta dos povos indígenas e quilombolas e no DNJ nós focamos mais a questão da mulher (com o tema: Juventude e Protagonismo Feminino) para discutir o que está por de trás da violência contra a mulher, fortalecer as redes onde elas atuam contando com os movimentos das mulheres. O objetivo é dar uma atenção especial ao protagonismo da mulher sem esquecer a violência que elas sofrem, mas é muito mais no sentido de fortalecer as ações proféticas do que ficar somente nas denúncias. Queremos destacar o profetismo, a mulher como agente de transformação da sociedade.

Existem várias Pastorais da Juventude e movimentos juvenis. A Campanha conseguiu o envolvimento de todos?
Nas Pastorais da Juventude tivemos a adesão total, inclusive a coordenação é feita coletivamente através duma colegiado. Com relação às outras organizações juvenis das igrejas, especialmente da católica, temos tido certa dificuldade justamente pela visão de mundo e por questões de caráter ideológico. Porque quando a gente fala de extermínio da juventude, amplia a discussão da violência para questões que muitas vezes a própria organização juvenil não quer discutir. Falar de extermínio é algo duro, não é fácil de abordar. Fica parecendo que existe um grupo que está matando jovens por que quer. Sabemos que é isso mesmo que acontece, mas por conta de questões ideológicas temos tido dificuldades de compreensão, mas isso não é em todo o Brasil. No sul, por exemplo, mesmo com certos modelos de Igreja, temos conseguido a adesão. É interessante que, apesar desses problemas no interior da Igreja, a sociedade manifestou um interesse muito grande. Tivemos o apoio de órgãos do governo, organizações civis, alguns meios de comunicação, movimentos populares e estudantis.

E a União Nacional dos Estudantes - UNE, está junto nessa luta?
Está, mas não é em todos os espaços. A receptividade vem muito mais das Federações Estudantis do que de fato da própria UNE como um todo.

Fonte: Revista Missões

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