Primeiros passos na Costa do Marfim

Cristina Santos

A viagem para Marandala contou com algumas peripécias. Padre João Nascimento, missionário da Consolata na Costa do Marfim, revela as suas primeiras impressões no meio de um povo maioritariamente muçulmano

«O domingo é sempre um dia muito importante na vida de uma comunidade cristã. A Igreja que no dia anterior me tinha parecido descuidada e deserta enchia-se agora de gente vestida de cores vivas dançando ao som de instrumentos locais e cânticos animados. O Padre André ia-me conduzindo nas particularidades culturais mas foram as melodias dos cânticos, aquilo, que mais apreciei», recorda sobre os primeiros dias que passou na localidade do norte da Costa do Marfim.

Depois de uma semana, João Nascimento ganhou um novo nome: "Corona". «É costume, sempre que algum missionário chega a esta comunidade, atribuir-lhe um nome. "Corona" quer dizer em língua Senufu "Fica connosco". Arriscado nome para quem acaba de chegar. Porque me deram este nome? Não sei. Aquilo que eu sei é que os nomes têm muita força», explica o sacerdote português.

«A nossa presença neste lugar como missionários é um imenso desafio. Como uma fogueira acendida ao vento pode apagar-se mas também pode expandir-se. O trabalho é muito mas para que seja frutífero é necessário que seja compreendido e correspondido», considera. Grande parte das pessoas, em particular as mulheres, nunca foram à escola. Muitos ainda preferem recorrer ao curandeiro do que ao dispensário da missão. Durante a semana, são poucos os que vão à missa e, ao domingo, «dá gosto vê-los dormir e espreguiçar-se com a maior das naturalidades, sobretudo depois da homilia».

Os missionários da Consolata chegaram à costa do Marfim, em 1996. Instalaram-se em Bardeau, localidade tida como a maior favela da África do Oeste. O governo tentou intervir impondo a ordem mas sem sucesso, revela o sacerdote. «Passar pelas ruelas deste bairro, sobretudo à noite, pode ser uma experiência desafiante mas também gratificante: a vida explode por todas as brechas dos muros e frinchas das portas. A gente deste lugar tem uma imensa vontade de viver», afirma João Nascimento.

Fonte: www.fatimamissionaria.pt

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