Ação educativa das CEBs pede mais responsabilidade com o lixo em bairros de São Paulo

Jaime C. Patias

Uma ação educativa realizada na manhã deste sábado, dia 9, chamou a atenção dos moradores dos bairros Jardim Carumbé, Jardim Paulistano, Vila Terezinha e Vila Isabel, na zona noroeste de São Paulo, sobre a importância dos cuidados com o lixo. Logo cedo, às 8h00, cerca de 50 pessoas, entre lideranças pastorais, educadores, alunos e moradores se reuniram em frente à capela São Benedito, próximo ao CEU Jardim Paulistano, munidas de luvas, máscaras, vassouras, baldes, pás e um caminhão para recolher o lixo e dar um recado à população: "Lixo bem colocado, nosso bairro é preservado".

"Esta é uma primeira caminhada de mobilização, outras ações virão para quem sabe, mais fortalecidos, criar uma cooperativa de reciclagem", afirmou o padre Edson Jorge Seltrin, na abertura da caminhada, marcada por um momento de oração. "Contamos com o apoio de toda a comunidade, das crianças, dos jovens e adultos. Juntos somamos forças em favor da natureza", destacou o padre convocando a população a aderir à iniciativa.

O Movimento Educativo Sobre o Lixo é organizado pelas lideranças das Comunidades Eclesiais de Base - CEBs das paróquias Bom Pastor, Santa Terezinha, São Francisco de Assis e São José Operário, do Setor Cântaros, na Região Episcopal Brasilândia. Padre José Aécio Cordeiro veio de Perus com um grupo do Morro Doce, que vestia camisetas com o slogan "Nesta luta estamos juntos". O exemplo foi seguido por muitas outras pessoas que ao longo do percurso juntaram-se ao Movimento. O trabalho era liderado pelo carro de som, cartazes e faixas com mensagens educativas alertando a população sobre os perigos provocados pelo lixo jogado nas vias públicas, que além de ser foco de doenças como leptospirose, cólera, disenteria, hepatite e criadouro para o mosquito da dengue, polui o solo, as águas, e degrada a imagem do bairro.

"As praças não estão organizadas, as calçadas ficam quebradas e isso não ajuda a criar um ambiente limpo. Mas a Prefeitura não faz nada por nós", reclamou dona Terezinha, liderança das CEBs que vestiu a camiseta verde do Movimento. "O cidadão da periferia fica abandonado, jogado no meio do lixo. Quando não existe organização, fica fácil jogar o lixo em qualquer lugar", argumentou. Para ela se as praças e as ruas fossem bem cuidadas, o povo respeitaria mais.

Conceição Nogueira, comerciante na Rua Aparecida do Tabuado, já teve a ideia de eliminar as sacolas de plástico utilizadas nas compras, mas as pessoas não aderiram. "Na década de 70, não tinha sacolas de plástico e a gente vivia muito bem. Não tinha enchente", lembrou Conceição aprovando a ação. Naquela região a coleta seletiva não é praticada. Segundo Jesuino de Souza Ribeiro, morador da Viela Dez, há 20 anos "a única coisa que a gente vê separar, no Jardim Paulistano é o óleo de cozinha utilizado, o resto é jogado tudo misturado". Para ele, a separação facilitaria o trabalho dos recicladores. "Falta conscientização e respeito aos direitos dos outros", afirmou.

Justamente na esquina da Viela Dez, uma travessa da Estrada da Cachoeira, todos os dias o lixo se acumula ao longo da parede da farmácia. "A gente fica o dia inteiro cheirando o lixo que deveria ser recolhido nas casas, ou então o caminhão deveria passar todos os dias", desabafou o dono do estabelecimento. Até animais mortos ficam expostos. José Cândido da Silva é um dos poucos recicladores do bairro. "O povo não tem jeito, não. A gente cata de tudo, papelão, ferro, plástico, garrafas. É uma bagunça, tudo misturado", reclamou ele. Para Léo, outro morador entrevistado, "se a Prefeitura criasse pontos de coleta, o povo respeitaria mais. Esse Movimento é bom, mas só que isso não vai adiantar, porque quando sair daqui, o pessoal vai jogar de novo", disse, desconfiado.

As reportagens da Rádio Comunitária Cantareira e da revista Missões acompanharam a ação. As reclamações dos moradores apontam para dois problemas: a falta de conscientização na população e o descaso do poder público que não providencia infraestrutura adequada e fiscalização. Mas para Maristela, Agente Comunitária de Saúde, conscientização não falta, porque, segundo ela, "já foram desenvolvidas ações educativas, mas o pessoal não quer saber. Também não é responsabilidade só da Prefeitura. Alguns catadores chegam e espalham o lixo". A questão do lixo, argumenta ela, "é culpa da população". Por outro lado, a maioria dos moradores, não tem onde depositá-lo.

"O lixo tá tomando conta da nossa cidade, aí vem os ratos, as baratas, temos de diminuir essa criação", opina a professora Marleide Rodrigues, liderança que acredita no Movimento e trabalha no Jardim Damasceno. "Lá a gente conseguiu fazer um trabalho com as crianças na escola e com a comunidade e o bairro melhorou muito. Aqui eu sempre via lixo nas ruas, mas não fazia ideia de que era tanto assim. Eu me assustei com a quantidade", concluiu.

Uma nova ação semelhante já foi marcada para o dia 20 de agosto, em outras ruas, no bairro Guarani. "A gente pode fazer um pouco mais, por exemplo, ligar para o 156 e solicitar o cata bagulho. Juntos, podemos melhorar", avaliou a professora Valdinéia Mota. Segundo a educadora, o Movimento pretende também, reivindicar do poder público, a estrutura necessária para cuidar de todo o lixo. Rubens Morais, coordenador da Assistência Social e Desenvolvimento da Subprefeitura da Brasilândia, acompanhou a ação com interesse.

Para Iva Mendes, uma das articuladoras do Movimento, o lema: "Lixo bem colocado, nosso bairro preservado", tem como meta orientar a população a colocar o lixo nas calçadas apenas nos dias e horários corretos de coleta. "Os caminhões sempre passam nas manhãs das segundas, quartas e sextas-feiras, mas em seguida, já tem lixo pelas ruas e vielas. Queremos conscientizar os moradores para que mudem esse hábito", explicou Iva.
A maior reclamação dos moradores, além do hábito da população, é com a falta de estrutura, como caçambas, maior frequência na coleta do lixo e entulhos, e a inexistência da coleta seletiva. Segundo o motorista do caminhão, a empresa contratada para o serviço coloca todos os dias, 23 caminhões, com uma equipe de seis trabalhadores cada para fazer a coleta, das 8h00 às 14h00. "Essa frota é contratada pela Prefeitura e deveria ser dobrada para dar conta do trabalho, mas isso acontece somente nos messes de dezembro e janeiro", afirmou o motorista.

Ao longo do caminho, enquanto alguns recolhiam o lixo, outros distribuíam panfletos informativos. A presença dos personagens Maria Beleza e Zé Limpinho, dois bonecões conhecidos nas mobilizações sobre o meio ambiente na Região Brasilândia, alegrou a criançada que também participou carregando placas com frases educativas, como: "Cuidar do lixo é nossa obrigação"; "Somos responsáveis pelo mundo em que vivemos"; "Lixo acumulado em lugares inadequados provoca doenças", entre outras. Uma das estratégias da ação é envolver as crianças e os jovens que facilmente se transformam em agentes multiplicadores do Movimento.

Fonte: Revista Missões

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