Evangelização e diálogo é tema de conferência no Capítulo Geral dos Missionários da Consolata em Roma

Jaime C. Patias

Evangelização e diálogo é tema de conferência no Capítulo Geral dos Missionários da Consolata em Roma
"Partilhamos o encontro com os muçulmanos nas diversas formas de diálogo, na vida, na transcendência e presença de Deus, nas experiências espirituais. Para nós não é importante saber quantos pessoas se tornam cristão, mas a transparência na partilha das dificuldades e alegrias", afirmou o padre ganês, Richard Baawobr, Superior Geral dos Missionários da África, em conferência durante o XII Capítulo Geral dos Missionários da Consolata, nesta quinta-feira (26), em Roma. E acrescentou: "o que conta é a presença que ajuda a promover um encontro no coração".

Justamente por ter nascido no norte da África, o diálogo com o Islã faz parte da vocação da congregação. "O nome Missionários de Nossa Senhora da África, (conhecidos como Padres Brancos) expressa perfeitamente a nossa vocação: nascidos na África e para a África, somos uma Sociedade de vida apostólica, formada por padres e irmãos consagrados, solidários com os africanos, atentos aos seus problemas e comprometidos com seu futuro", sublinhou padre Richard. Seus missionários estão centrados nas prioridades estabelecidas pelo 27º Capítulo Geral realizado em 2010: "o diálogo com o Islã, com as religiões tradicionais e com as outras igrejas cristãs, além do cuidado com os pobres e a preocupação pela justiça e paz", seguem sendo prioridades, "a razão de ser da nossa congregação", destacou.

A instituição foi fundada em 1868, por Dom Charles Lavigerie, arcebispo de Argel, na Argélia, e conta hoje com cerca de 1.400 missionários de 37 países dos cinco continentes, vivendo em 310 comunidades. Devido à sua origem e finalidade o trabalho da congregação se desenvolve em 23 países africanos, mas estão também a serviço dos migrantes africanos e vocações na Europa, na América e na Ásia, principalmente na Índia.

Falando sobre a atualização do carisma, padre Richrad explicou que, à semelhança de outras congregações e organismos missionários, a questão da identidade tem sido um grande desafio. "Hoje, eu diria que somos suficientemente conhecedores da nossa história e empenhados em manter viva a nossa vocação para a missão", argumentou o conferencista.

Atualmente muitos países africanos passam por rápidas mudanças. "O nosso trabalho em situações de instabilidades política e social, de pobreza e violência requer o empenho dos missionários em obras de desenvolvimento como escolas, abrigos, e obras sociais. O apoio das Irmãs Missionárias de Nossa Senhora da África, contribui para estarmos perto das pessoas em seus sofrimentos levando um pouco de esperança", relatou e explicou que os jovens representam mais de 50% da população em muitos países africanos. "A população cresce e com ela crescem igualmente as necessidades com relação ao estado e à Igreja. Como responder a todas essas necessidades tendo presente que a cultura dos jovens é diversa daquela dos seus pais?", perguntou padre Richard.

Seguindo a vontade do Fundador, os últimos capítulos gerais da congregação, a partir de 1992, deram especial importância à promoção da justiça e paz como elementos integrantes da vocação missionária.

Trabalhar em países em conflitos tem seu preço. Entre os anos de 1994 e 1996, na Argélia, foram assassinados 19 religiosos e religiosas, entre os quais, quatro Missionários da África, mortos no dia 27 de dezembro de 1994. Situações extremas como o martírio na missão, afetam a vida e o trabalho. Padre Richard informou também que, recentemente na Costa do Marfim, a congregação teve de transferir seus estudantes de teologia para Gana, Burquina Fasso e Mali, devida à instabilidade política que provocou vários mortos e muita destruição no país. Além disso, "em Nairóbi, no Quênia, em 2007, o reitor do seminário teológico foi assassinado, um estudante foi morto de forma misteriosa e um formador foi ameaçado de morte. Quatro diáconos tiveram de abandonar seus estudos poucas semanas entes de terminar o ano devido à ameaças de morte. Estes exemplos são suficientes para mostrar como nossos missionários, estudantes e a população, estão continuamente sujeitas à situações traumáticas", concluiu o padre.

Padre Richard está convencido de que "o diálogo inter-religioso é possível". O religioso disse também que, muitos bispos enviam padres diocesanos para que eles aprendam dos Missionários da África "como bloquear o crescimento do Islã. Mas, nós acreditamos em outra mensagem que promove uma experiência de diálogo respeitoso baseado sobre a partilha de que somos todos filhos de um Deus único", destacou o padre Geral.

O fato de os missionários de diversas nacionalidades e culturas formarem comunidades apostólicas de vida e trabalho serve de exemplo para o povo. "O nosso próprio testemunho é o que abre as portas para o diálogo com os outros. Isso promove também as vocações missionárias", afirmou. No Congo e Burquina Fasso a congregação teve de abrir mais vagas no seminário devido ao amento de candidatos. "Fica o desafio de como perceber que todos os que desejam trona-se missionário possuam verdadeiras motivações", concluiu padre Richard.

Quanto à formação de seus futuros membros, o Instituto Missões Consolata e os Missionários da África já trabalharam em parceria em centros de estudos, em Londres e em Kinshasa. Padre Richard acha que, as congregações podem colaborar também na missão, num projeto intercongregacional.

Fonte: Revista Missões

Deixe uma resposta

cinco × dois =