Moçambique: Celebração do XVIIIº Aniversário dos mártires do Guiúa

Diamantino Antunes, imc

Eram os últimos meses da guerra civil. Confiante de que as conversações em curso para alcançar a paz iriam pôr fim à guerra, a diocese de Inhambane, no sul de Moçambique, decidira reabrir o Centro Catequético do Guiúa para a formação de famílias de catequistas.

Este trabalho de formação foi confiado aos Missionários da Consolata. Duas dezenas de famílias escolhidas em diferentes missões acabavam de chegar, quando na madrugada do dia 22 de Março de 1992 um grupo de militares da RENAMO (grupo de resistência que fazia oposição armada ao governo) atacou o Centro Catequético e raptou todas as famílias. Em marcha, carregando os bens saqueados pelos militares, foram conduzidos à força para a base de onde tinham saído os guerrilheiros. Pelo caminho, um grupo de 23 catequistas e familiares foram brutalmente chacinados à baioneta. Testemunharam a sua fé com o sangue. Os seus corpos foram transportados e sepultados no Centro Catequético do Guiúa.

A diocese de Inhambane tem grande veneração por estes seus filhos e considera-os "mártires". O cemitério onde estão sepultados é lugar de romagem de centenas de cristãos ao longo do ano. Anualmente, realiza-se uma celebração litúrgica, evocando o acontecimento
No sábado partimos em via sacra, desde o cemitério até ao local do martírio, numa colina situada a três quilômetros do centro do Guiúa. Aí celebrou-se a Eucaristia e ouviram-se os depoimentos daqueles que, há 18 anos, viviam no Guiúa e testemunharam os trágicos acontecimentos, onde perderam a vida catequistas em formação e os seus familiares.

O dia 22 de Março foi escolhido como o "Dia diocesano do Catequista". Assinalando-o, o bispo de Inhambane, dom Adriano Langa, presidiu à celebração da Missa no Guiúa. Uma celebração muito participada pelos cristãos das nossas comunidades. Após a eucaristia um impressionante cortejo, onde toda a comunidade esteve presente, dirigiu-se em procissão até ao cemitério dos mártires. Aí procedeu-se à deposição de flores. Uma cerimônia emotiva e plena de significado para o centro do Guiúa, para os catequistas em formação e para todos em geral. Um forte testemunho de que a missão daqueles catequistas, abruptamente interrompida há 18 anos, continua viva. A sua memória e o seu exemplo frutificam e renovam nas novas gerações o desejo de espalhar a palavra. Anunciar a Boa-Nova. Na memória e na profecia.

Para a igreja de Moçambique e de Inhambane em particular, estes nossos irmãos catequistas defuntos são considerados "mártires". Se não foram mortos, talvez, por testemunhar a fé, o que nós não sabemos com toda a certeza, certamente foram mortos, maliciosamente, enquanto testemunhavam a sua fé.

Fonte: Ismico Weekly n. 187

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