Jaime Carlos Patias *
O Fórum Social Mundial comemorativo aos 10 Anos reúne, entre os dias 25 e 29 de janeiro, na Grande Porto Alegre, cerca de 10 mil participantes do Brasil e do estrangeiro. A ativista Lorena Zelaya, integrante da Frente Nacional de Resistência Popular de Honduras faz parte da delegação que veio ao Fórum em busca de apoio para resistir ao que ela chamou de "golpe da oligarquia" na América Central. Lorena Zelaya explicou que Honduras hoje vive uma situação de aparente calma, porque os meios de comunicação não mostram à população o que realmente está acontecendo e minimizam o movimento de resistência. Segundo ela, isso é determinante. "Estão matando pessoas todos os dias, principalmente os jovens que aparecem enforcados e não se investiga. Por outro lado quando acontece qualquer coisa contra a oligarquia agem com rapidez para apurar responsáveis", denunciou Lorena Zelaya, durante o Seminário que analisou a Conjuntura Política, realizado no Armazém 6 do Cais do Porto, na terça-feira, 26.
O novo presidente eleito de Honduras, Porfírio Pepe Lobo, tomará posse hoje, 27, e quer um decreto de anistia a todos os envolvidos no golpe de Estado do ano passado. A Anistia Internacional apelou a Pepe Lobo para que investigue possíveis abusos cometidos pelos golpistas. De acordo com o organismo, houve violência sexual, espancamentos e ameaças de intimidação a autoridades.
Promovido por integrantes das Forças Armadas, da Suprema Corte e do Congresso Nacional sob o comando do atual presidente hondurenho, Roberto Micheletti, o golpe de Estado ocorreu no dia 28 de junho de 2009. Deposto, Manuel Zelaya deixou o país. Em setembro de 2009, ele retornou a capital hondurenha e pediu abrigo na Embaixada do Brasil.
Questionada sobre a existência de movimentos armados ou dispostos a usar armas, para conseguir suas reivindicações, Lorena Zelaya foi enfática ao afirmar que a Frente Nacional de Resistência sempre manteve e manterá sua luta de forma pacífica. "Tomamos as ruas com mais de um milhão de pessoas vindas de todo o país e não carregamos nada mais do que hastes para sustentar bandeiras ou algo assim, e nos acusam de carregar armas. Não temos armas, não queremos ter e talvez por isso nossa luta leve mais tempo. Mas acreditamos que assim, surgirá uma organização muito mais interessante que permitirá maior preparação para o que temos que fazer pela frente", explicou.
Sobre a acusação de que, o então presidente Manuel Zelaya pretendia mudar a Constituição para aumentar seus poderes e estender o mandado presidencial, a ativista esclareceu que a Constituição permite a possibilidade de convocar referendos. "O que Zelaya queria era consultar a população sobre a necessidade ou não de se fazer uma votação para decidir sobre a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. Os movimentos sociais há muito tempo reivindicam uma nova Constituição. O que aconteceu com Zelaya é que ele fez algumas reformas, tais como o salário mínimo, modificações nas leis trabalhistas, limites à privatização da água e outras reformas que havia prometido. Mas isso tudo não representa mudança no sistema", afirmou ela, esclarecendo ainda que muitas outras promessas não foram cumpridas.
Lorena recordou que Manuel Zelaya pretendia mudar a Constituição no que diz respeito à relação de gênero "porque, em Honduras, constitucionalmente, as mulheres não existem. Há um artigo que prevê ser o Exército quem garante a Constituição, quando na verdade, deveria ser o povo soberano a garanti-la".
Historicamente, em Honduras, apenas dois partidos se revezam no governo e os dois representam a elite social e econômica. Lorena acredita que, a saída de Manuel Zelaya da Embaixada do Brasil para refugiar-se na República Dominicana faz com que o movimento de resistência ao golpe tome novos rumos. "Estivemos nas ruas por 193 dias e isso permitiu nos organizar em todo o país, num movimento que surgiu quase que espontaneamente. A luta está se fortalecendo para além da fase de querer reconduzir Zelaya ao poder, uma vez que seu mandato termina hoje", 27, explicou a ativista.
Perguntada sobre o grau de parentesco com Manuel Zelaya, Lorena disse que todos "são irmãs e irmãos na resistência. O sobrenome é apenas uma coincidência".
* Jaime C. Patias, revista Missões no FSM 10 Anos, em Porto Alegre.
Fonte: Revista Missões