???Não é a natureza que precisa de nós, somos nós que precisamos dela???

Jaime Carlos Patias, em Porto Velho

A primeira coletiva de imprensa realizada na manhã do dia 22, nas instalações do SESI, em Porto Velho, avaliou a influência do jeito CEBs de ser Igreja na transformação da sociedade, na autonomia dos povos Indígenas e na preservação da Amazônia. Participaram da coletiva a educadora Eva Canoé, o padre Benedito Ferraro e dom Moacyr Grechi, presidente do 12º Intereclesial.

"Nós vivemos, existimos e resistimos no direito de viver dignamente como povos indígenas", afirmou Eva Canoe, líder indígena e educadora na Terra Indígena Sagarana, a primeira a ser administrada exclusivamente pelos próprios indígenas. "Queremos dizer ao mundo e ao Brasil que estamos juntos com os não-índios na construção de um outro mundo possível, de uma Amazônia que seja de todos os brasileiros, de uma Amazônia que não seja dividida, comprada e destruída, mas que sirva para todos, já que ela é a maior riqueza da humanidade", destacou a professora Eva, primeira mulher a liderar a Coordenação da União dos Povos Indígenas de Rondônia, reunindo 32 etnias no Estado. A educadora destacou ainda a importância da união para cuidar da Amazônia. "Que todos ouçam o clamor dos povos indígenas e levem em seus corações essa mensagem, que todos nós, índios e não-índios, coloquemos em prática tudo aquilo que aqui falamos. Não é a natureza que precisa de nós, mas somos nós que precisamos dela" concluiu.

Para o padre Benedito Ferraro, teólogo e assessor nacional das CEBs, "toda a vez que nos encontramos voltamos nosso olhar para o fundamental na vida das Comunidades". Benedito recordou que dom Pedro Casaldaliga definiu as CEBs como "o modo normal de ser Igreja ligando fé e vida". Segundo o teólogo, "é o enraizamento nessa dimesão fundamental de Jesus de Nazaré, presente em toda a tradição bíblica, que aponta para a libertação em todas as dimensões, como explicitou o filósofo Enrique Dussel. Falamos de libertação política, econômica, social, erótico-sexual, pedagógica, litúrgica e hoje acrescentamos, com as reflexões de Leonardo Boff, a libertação ecológica" explicou. Boff estava presente e foi calorosamente saudado pela organização.

Segundo o padre Benedito, "a grande novidade das CEBs é a inserção dos cristãos na luta polítca de libertação dos pobres e excluídos". Essa é, para ele, "a dimensão da missão em relação à busca de vida. Não dá mais para pensar a missão na Amazônia com missionários e missionárias vindos de fora, mas a partir da realidade do povo, construir um novo modo de ser Igreja e de viver o Evangelho inculturado", concluiu.

Dom Moacyr Grechi, arcebispo de Porto Velho, por sua vez, destacou a colaboração e a competência das comunidades na preparação e organização do Encontro. Para o Presidente do 12º Intereclesial, o maior benefício foi voltar a refletir sobre o assunto o que considerou "um tempo de graça para todas as comunidades da arquidiocese". Dom Moacyr avaliou ainda que o Brasil reagiu positivamente ao evento. "Cada vez mais eu me convenço que, conforme afirmou dom Casaldáliga ao definir as CEBs como o modo normal de ser Igreja, hoje, para ser Igreja católica precisamos unir fé e vida", destacou.

Fazendo referência ao livro do Êxodo, o arcebispo afirmou que "nesses dias, o grito da Amazônia foi ouvido por Deus e está começando a repercutir na sociedade". E concluiu citando o provérbio por ele lido durante a cerimônia de abertura: "Gente simples fazendo coisas pequenas, em lugares não importantes conseguem mudanças extraordinárias".

Segundo a organização, 32 jornalistas e comunidadores trabalham na cobertura do Intereclesial.

 

Fonte: Revista Missões

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