Marcus Eduardo de Oliveira *
Inequivocamente, a produção econômica implica destruição e degradação do meio ambiente. Isso já é o bastante para orientar à tomada de decisão rumo à elaboração de um novo paradigma econômico que seja voltado às ordens ecológicas; e não às mercadológicas.
A continuidade desse atual paradigma econômico provoca, em doses não muito lentas, a "morte" da própria economia que cada vez mais se joga no abismo da destruição, tendo em vista que, como bem lembrou Lester Brown, "a economia depende do meio ambiente. Se não há meio ambiente, se tudo está destruído, não há economia".
Por que chegamos a esse estágio? A resposta é una: pela obsessiva mania do crescimento, confundido como meio de ascensão. No caminho da prosperidade, entendido como obtenção de elevadas taxas de crescimento, as economias modernas devastaram boa parte dos recursos naturais.
Em nome desse crescimento econômico, a atividade industrial dilapidou os serviços ecossistêmicos (responsáveis pela manutenção da biodiversidade), desfigurando a natureza em várias frentes.
Indiscutivelmente, a par disso, mudanças climáticas foram - e estão sendo - provocadas pelo "homem-econômico". O objetivo? Fazer a economia crescer exponencialmente produzindo para atender o consumo exagerado. O resultado? Meio ambiente ameaçado pelo consumo excessivo. A consequência? Depleção ambiental.
Embora em seus modelos convencionais a economia tradicional faça questão de não contemplar as restrições ambientais, pois a visão predominante do sistema econômico como um todo enaltece loas ao fluxo circular da riqueza, imaginando, com isso, uma economia operando como um sistema isolado, não há como negar o enorme grau de dependência da atividade econômica em relação ao ecossistema natural finito.
É intensa a relação da economia (extração-consumo-produção-descarte) com o meio ambiente. Ademais, não se pode perder de vista que o sistema econômico é um sistema aberto que troca energia com o ambiente.
Nessa troca, recebe energia nobre (limpa) e a devolve de forma degradada (suja).
Para reafirmar essa ideia, convém resgatar importante passagem de Nicholas Georgescu-Rogen (1906-94): "o sistema econômico consome natureza - matéria e energia de baixa entropia - e fornece lixo - matéria e energia de alta entropia - de volta a natureza".
Diante disso, é de fundamental importância subordinar o crescimento econômico aos limites ecossistêmicos, uma vez que crescer além do "normal" se torna altamente prejudicial ao meio ambiente.
Por isso, um novo paradigma econômico precisa ser pensado, sendo capaz de convergir com a ecologia, uma vez que a economia depende do meio ambiente para sua própria sobrevivência.
O desafio, portanto, é ímpar: produzir mais bem-estar com menos recursos naturais. Produzir com mais qualidade (desenvolver a economia), e não em quantidade (se afastar do crescimento excessivo).
Decorre daí a máxima de que somos, pois, dependentes do meio ambiente, contrariando assim o discurso de René Descartes (1596-1650) quando afirmou que "somos senhores e dominadores da natureza".
Por essa ideia do filósofo francês, o atual modelo econômico dilapidador de recursos naturais, manejado pelo "homem-econômico", estaria agindo de forma correta em propagar no rastro de mais produção econômica destruição, poluição e degradação ambiental, uma vez que para gerar "riqueza" (bens e serviços) gera-se, antes, depleção da natureza.
Consoante a isso, vale resgatar a máxima que apregoa que o futuro da vida, e, especialmente, da vida humana na Terra, dependerá do rumo que se der hoje à economia.
Se objetivo em jogo for pela continuidade da vida de nossa espécie devemos seguir o receituário propugnado por Georgescu-Rogen: "(...) um dia a humanidade terá de compatibilizar desenvolvimento com retração econômica". Caso contrário, pereceremos.
* Marcus Eduardo de Oliveira é economista, especialista em Política Internacional pela (FESP) e mestre pela (USP). prof.marcuseduardo@bol.com.br
Fonte: Revista Missões