Carlos Roberto Marques *
Os mais velhos sejam sóbrios, graves, prudentes, fortes na fé, na caridade, na paciência. (Tt 2, 2)
Motivada pela Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento, realizada em 1982, em Viena, na Áustria, a Organização das Nações Unidas - ONU estabeleceu 1º de outubro como o Dia Internacional das Pessoas Idosas; um dia para se refletir e planejar ações que visem dar qualidade de vida aos mais velhos, especialmente através da saúde e da integração social.
Questão de vernáculo ou de cultura?
A curiosidade levou-me de novo ao dicionário. Por que a preferência pelo termo idoso? A etimologia teria gerado o termo "idadoso", ou seja, cheio de idade, como saboroso (cheio de sabor) ou melindroso (cheio de melindre); mas um fenômeno linguístico o reduziu a idoso - pessoa de muita idade.
O termo velho, ou velha, pode, por sua vez, traduzir uma relação de afeto, quando, de forma carinhosa, se refere ao pai ou à mãe (Meu querido, meu velho, meu amigo. Quem não se lembraria desta frase na popular canção?), mas tem, ordinariamente, significados nada nobres: vencido, deteriorado, gasto, ultrapassado, obsoleto. Por isso mesmo, com frequência é usado para achincalhar, ofender, humilhar.
Pegue um idoso sábio e terá um ancião. Homem muito velho e respeitável, venerável: é assim que o dicionário define o ancião. A sabedoria pertence aos cabelos brancos, a longa vida confere a inteligência (Jó 12, 12). Isto explica as perucas brancas das cortes britânicas. Isto explica porque muitas civilizações pautavam-se nos conselhos de anciãos. Sem as universidades, o aprendizado era na escola da vida. E há ainda muita coisa que só a vivência ensina.
Numa sociedade capitalista, onde o que conta é a produtividade e o lucro que acarreta, ancião, idoso ou velho, é tudo a mesma coisa. Produz, tem valor; deixou de produzir, vira peso, vira fardo.
De olho no futuro
Para a Organização Mundial da Saúde, idoso é quem atingiu ou passou dos 65 anos. É o grupo da terceira idade. No Brasil, o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741, de 1º/10/2003) assim qualifica os que têm idade igual ou superior a 60 anos. Dá o Estatuto o direito a "atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população". Imediato?! Como então explicar aquelas enormes filas nos hospitais e a longa espera para uma consulta, um exame, uma cirurgia? (utilidade pública: procure no Google "Cartilha do Idoso", é um guia para idosos, familiares e responsáveis).
"Todo mundo quer ir pro céu, mas ninguém quer morrer", diz uma canção. Também não dá para viver bastante sem envelhecer. A velhice preocupa e assusta a maioria, pelos poucos recursos para uma vida digna. As estatísticas alertam: o mundo está envelhecendo. O homem está vivendo mais; as crianças, nascendo menos. No Brasil, a expectativa de vida, na década de 80, girava em torno de 66 anos; já ultrapassou os 75. A taxa de natalidade diminuiu. Há previsão para, em poucas décadas, começar nossa população a reduzir-se, aumentando muito a proporção dos idosos. As políticas sociais, as econômicas, especialmente a previdenciária, tudo há que ser repensado.
Está em tempo também de mudar o comportamento em relação ao idoso. Olhá-lo como aquele ancião respeitável e venerável, e cultivar essa ideia, cultuar essa ideia, ainda que por puro interesse, para colher os frutos na própria velhice, como aquele administrador infiel da parábola, que beneficiava os devedores de seu patrão, esperando deles uma justa recompensa.
* Carlos Roberto Marques é Leigo Missionário da Consolata - LMC, e membro da equipe de redação.
Publicado na edição Nº08 - Outubro 2013 - Revista Missões.
Fonte: Revista Missões