A natureza é a mãe de toda riqueza

Marcus Eduardo de Oliveira *

"A Terra pode sobreviver bem sem amigos, mas os humanos, se quiserem sobreviver, devem aprender a ser amigos da Terra". (John Muir)

É de Sir William Petty (1623-1687), médico inglês, professor de anatomia em Oxford, a seguinte afirmação: "o trabalho é o pai e a natureza é a mãe de toda riqueza".

Trabalho e riqueza são dois conceitos que sempre estiveram presentes nos fundamentos econômicos, com grande destaque para a obra seminal das ciências econômicas, A Riqueza das Nações, publicada pela primeira vez em março de 1776.

Se "trabalho" e "riqueza" sempre estiveram presentes nos escritos econômicos, o mesmo não de pode dizer sobre a "natureza"; embora seja a natureza, de fato, "a mãe de toda riqueza" econômica, visto que é ela quem "alimenta" todo o processo econômico.

Por isso é oportuno sempre destacar que a economia (atividade produtiva) sempre esteve dentro da ecologia, dentro da biosfera que serve de suporte ao processo econômico (extração de recursos naturais para a produção de mercadorias).

O sistema econômico sempre esteve inserido no sistema ecológico gerando produção econômica, a partir da transformação de recursos em mercadorias.

Por isso também é importante o desenvolvimento da noção de que a economia mantém íntima relação com a ecologia, apesar do termo "natureza", como dissemos, passar esquecido nos apontamentos econômicos, bem ao estilo do pensamento neoclássico.

Barry Commoner (1917-2012), ecologista norte-americano, asseverou que: "Sem recuperar o meio ambiente, não se salva a economia; sem recuperar a economia, não se salva o meio ambiente".

De nossa parte, contextualizamos que sem a natureza, não há economia, não há produção, não há geração de nada; logo, nem de riqueza, para resgatarmos o argumento de Petty.

E se "a natureza é a mãe de toda riqueza", é essencialmente fundamental destacar que o fluxo de benefícios produzidos por um ecossistema inclui funções essenciais para a sobrevivência dos humanos e de outras espécies.

Sendo assim, quem sustenta a vida na Terra são os ecossistemas. Sem esses serviços ecossistêmicos, também chamados de serviços ambientais (disponibilidade de água potável, regulação do clima, biodiversidade, fertilidade do solo etc), não há produção de absolutamente nada.

Sem energia, não há trabalho, sem sistema ecológico, não há sistema econômico; sem a natureza não há produtos, não há economia, não há sistema produtivo, não há possibilidade de gerar riqueza, entendida pelas lentes da economia neoclássica como maior circulação de mercadorias.

No entanto, contrariando esse argumento central do pensamento neoclássico, e olhando a economia pelas lentes dos princípios ecológicos, é oportuno apontar que quanto mais as economias crescem, expandindo a produção industrial, mais se dilapidam os principais serviços ecossistêmicos; mais vidas humanas, fauna e flora se perdem em decorrência de alterações climáticas, fruto de ações antrópicas, "patrocinadas" pela atividade expansiva de uma economia que se pretende ser rotulada de "moderna"; como se o sinônimo mais "vivo e real" de modernidade fosse, de fato, a aquisição material, enaltecendo assim a cultura do "ter mais".

Assim, há uma clara incompatibilidade entre crescimento econômico e preservação dos recursos naturais. A questão primordial que se coloca em relação a isso é dada, tão somente, pelos limites existentes na natureza em relação ao crescimento da economia, uma vez que a economia é, e sempre será, um subsistema de um sistema maior chamado meio ambiente que, em essência, trata-se da natureza em uma perspectiva ampla; ou, em outras palavras, "a mãe de toda a riqueza".

Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo.
prof.marcuseduardo@bol.com.br

Fonte: Revista MIssões

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