Alfredo J. Gonçalves *
Palavras são sementes:
antes de crescerem para cima,
em busca da luz do sol, do ar livre e do céu azul,
devem crescer para baixo,
buscando no solo úmido, frio e escuro,
os nutrientes que as fortalecem.
Palavras são plantas:
da mesma forma que estas
têm suas raízes fixas no ventre da terra,
aquelas têm sua força e autoridade
no terreno respeitoso da escuta.
Palavras são crianças:
umas são gestadas no útero da Mãe,
outras no útero misterioso do Silêncio.
Palavras são pássaros:
depois de criarem asas, livres e soltos no ar,
jamais retornam ao ninho abandonado,
ampliando em espiral o raio de seus voos.
Palavras são janelas:
de igual maneira que o aproximar-se de umas,
abre os horizontes da paisagem,
o fato de conhecer o sentido das outras,
aprofunda o leque do conhecimento.
Palavras são águas:
deslizam e murmuram mansas nos vales,
fecundando o chão para o plantio;
precipitam-se e rugem bravias nos rochedos,
revelando suas energias ocultas.
Palavras são ventos:
aqui uma brisa leve e suave,
que dobra e acaricia as espigas maduras;
ali um furacão tempestuoso,
que tudo varre, devasta e destrói.
Palavras são flores:
ornamentam encontros, salas e festas
com suas formas, perfume e cores;
mas logo murcham, secam e morrem,
deixando no ambiente a dor de um vazio ou ausência.
Akureyri, Islândia, 4 de julho de 2014
Alfredo J. Gonçalves, CS, é Conselheiro e Vigário Geral dos Missionários de São Carlos.
Fonte: Revista Missões