A direita já foi mais inteligente

Roberto Malvezzi (Gogó) *

Homens como Paulo Francis, Gustavo Corção e outros da direita eram rançosos como os atuais, com a diferença que eram eruditos e inteligentes. Geralmente lidavam com argumentos elaborados para defender a causa dos poderosos. Nelson Rodrigues, então, era um luxo, talento reconhecido até pela esquerda mais esclarecida.

A atual direita que frequenta jornais importantes desse país continua rancorosa, mas sem o charme da erudição e da inteligência. Uma direita panfletária e medíocre. Nem por razão de ofício a gente se sente desafiado a ler seus articulistas. Só há uma novidade: além de homens de direita, hoje temos também mulheres. Não é pretensão discutir aqui o que seja direita ou esquerda no mundo de hoje, nem de suas alianças em momentos eleitorais.

A direita brasileira não tem nada a oferecer ao nosso povo. Tanto é que não conseguem eleger sequer o representante do bairro, quanto mais o presidente da República. A última eleição que ganhou foi com Fernando Henrique. Nota-se nessa campanha, além da opção explícita pelos tucanos, um certo desespero de quem já não controla mais a opinião e o voto popular.

As ofensas à Dilma no jogo de abertura da copa não surpreendem. Há um lastro fascista na elite branca que hoje se revela deslavadamente na internet e num momento como esse. O pior é que pessoas como Fernando Henrique e Aécio de alguma forma concordaram com as ofensas. Agora, todas as tentativas de retocar as afirmações são apenas "remendos novos em panos velhos", para utilizar a metáfora do Evangelho.

O mais espantoso é que ela continua levantando as mesmas bandeiras da década de 70 e 80 do século passado: inflação, desemprego, PIB, corrupção. Qualquer brasileiro mediano sabe que esses são indicadores de uma moral hipócrita e farisaica, particularmente a corrupção. A direita brasileira não entrou no século XXI.

O que a velha inteligência da direita não consegue entender é que a vida da população mais pobre mudou para melhor, com mais recurso no bolso, mais emprego, mais comida, mais energia, mais água, enfim, melhor padrão de vida, como indicam os últimas pesquisas que investigam o desenvolvimento humano do país. Quando os gurus desses candidatos dizem que "talvez não haja reajuste o Bolsa Família, o salário mínimo está muito alto", sabemos exatamente onde querem chegar.

O Brasil pode melhorar muito mais no saneamento, saúde, educação, transporte público, assim por diante. É o que pedem as ruas. Os novos índices do que seja desenvolvimento humano - relativizando o absoluto do crescimento econômico - faz com que a direita brasileira tenha se tornado obsoleta.

Enfim, a direita brasileira já foi mais inteligente, inclusive em época de eleição.

* Roberto Malvezzi (Gogó) é agente da Comissão Pastoral da Terra, Juazeiro, BA.

Fonte: Revista Missões

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