Redes, estádios e ruas

Nei Alberto Pies *

Filhos e filhas do Brasil não fogem à luta e torcem pelo Brasil. A Copa do Mundo de 2014 é um evento festivo e esportivo onde será jogada a cidadania, o amor à pátria e um dos mais queridos e praticados esportes em todos os recantos de nosso país.

Concordo com a tese de muitos de que o futebol pode servir como forma de alienação do povo brasileiro, mas não é o evento da Copa que nos tornará alienantes ou alienados neste país. Critiquemos, pois, a forma com que o futebol vem sendo conduzido nos últimos anos no Brasil e no mundo.

Os brasileiros, no futebol, nas redes e nas ruas, descobrem-se novos sujeitos, capazes de reinventar a história e os destinos de seu país. Os estádios e as ruas sempre foram, essencialmente, espaços de construção de identidade, de cultivo de bons valores humanos e espaço para viver e experimentar os melhores relacionamentos. Os brasileiros reinventaram-se pelas redes sociais. Os jovens encontraram uma forma legal, rápida e eficaz de comunicar os seus anseios e necessidades mais imediatas e concretas. E fizeram das ruas o lugar, por excelência, de sua verbalização. Que coisa bem boa e bem feita!

O futebol brasileiro reflete as nossas diferenças, as nossas potencialidades, os nossos talentos, a nossa criatividade. O futebol é um dos espetáculos brasileiros que representam muito do nosso povo, de sua postura e de sua vontade de vencer e apresentar-se ao mundo. O esporte é o lugar da superação, da disciplina, da projeção pessoal e coletiva, do descortinar das possibilidades.

O Brasil sairá renovado desta Copa, independente dos resultados que forem alcançados por sua Seleção. Os brasileiros estão fazendo novas e importantes interpretações dos seus modos de ser, pensar e agir. O povo brasileiro acordou e permanecerá em vigilância pelas práticas decentes que nos farão superar a endêmica corrupção que corrói a política brasileira. O Brasil aprendeu também que não pode criminalizar quem luta de forma pacífica por mais cidadania, democracia e direitos humanos no Brasil, a partir das ruas.

Se o Brasil redescobre o poder das ruas, redescobre também o poder que tem o esporte e o futebol. Redes sociais, ruas e futebol devem ser lugares democráticos para a gente avançar a partir dos ideais e das práticas democráticas da maioria dos brasileiros.

Viva o povo brasileiro e a sua fibra de seguir vencendo!

* Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.

Fonte: Revista Missões

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