Educar faz diferença

Nei Alberto Pies *

Uma das mais importantes descobertas como educador ocorreu faz pouco tempo. As salas de aula de nossas escolas parecem de poucas novidades, riquezas ou descobertas. Felizmente, os seres humanos, por sua capacidade intelectiva e criativa, ainda sabem surpreender-se. Ainda permitem reagir diante do incomum. Ainda podem crescer e avançar.

Numa sala de aula de Ensino Médio Politécnico disse, espontaneamente: "hoje gostaria de dizer da minha felicidade pelo que aconteceu na semana passada nesta escola". Sem perder tempo, um aluno interrogou: "Professor, como é diferente ouvir um professor falar bem de nossa escola. Eu nunca ouvi nenhum professor dizer de sua felicidade por estar nesta escola". E eu disse a ele: "Sempre gosto de me sentir bem onde estou. Independente da escola, desejo me sentir bem. Gosto de dar aulas, gosto dos alunos do jeito que são. Gosto da escola do jeito que ela é. E por me sentir tão bem assim, faço o possível para que esta escola seja melhor ainda". Mais alunos se manifestaram, dizendo que não gostam de sua escola, que sua escola poderia ser melhor. Constatei que havia despertado em toda a sala um sentimento novo e diferente, capaz de gerar novos conhecimentos e novas interpretações da realidade.

Passado o fato, pus-me a pensar na importância do acontecido. Dei-me conta do quanto é importante para os alunos os professores falarem o que pensam. Dizerem quanto gostam deles. Falarem o quanto a escola é importante para a vida de cada um. Dizerem o quanto as pessoas da escola se importam com eles. Dizer-lhes quanto é importante exercer cidadania, reivindicando uma escola pública de qualidade, mais segura, conservada e bem cuidada. Falar-lhes que a escola pode ser um lugar onde se faz amigos, como queria Paulo Freire. Dizer-lhes, vivendo e comprovando que a escola é uma comunidade, que permite que cada um, e todos, coletivamente, possam exercer a convivência e encaminhar as suas escolhas.

Nestes mais de dez anos de profissão, tenho feito muitas descobertas com os meus alunos, mas esta, em especial, torna-se cada vez mais "preciosa". Se até agora expressar verbalmente meu prazer de dar aulas e gostar dos alunos e da escola era um hábito recorrente, agora se tornará uma "ação intencionada". Desejo uma escola com qualidade social e humana, que acredita no conhecimento como a melhor forma de emancipar as pessoas. Alguém será contrário?

Não julgo nem condeno colegas professores que tem muitas dificuldades de expressar os seus melhores sentimentos para com os seus alunos. Penso que poderiam observar o que eles trazem como expectativas a partir das quais podemos exercer nossa função de educadores. Acredito que muitas necessidades humanas podem ser atendidas e satisfeitas na nossa escola através da escuta, da consideração, da valorização de cada ser humano, do elogio, do diálogo e da conversa, do desafio para a organização pessoal e coletiva, do despertar dos sonhos e do gosto pela vida.

Nosso desafio maior é humanizar-se, na relação com os outros. Quando a gente permite conhecer e reconhecer os outros, torna-se sujeito de sua história e das histórias dos outros. Quando acredita que educação pode transformar as pessoas e a sociedade, começa a fazer alguma diferença na vida de nossos jovens educandos.

* Nei Alberto Pies é professor e ativista de direitos humanos.

Fonte: Revista Missões

Deixe uma resposta

dezoito + oito =