Cajuaz Filho *
A língua latina é rica em sentenças sintéticas que encerram ensinamentos profundos.
Vários são os escritores latinos que enveredaram por este caminho. Entre eles se encontra Publilius Syrus que viveu no século I antes de Cristo. Seu nome indica sua origem. Nasceu na cidade de Antioquia, cidade da Síria na Ásia Menor.
Foi um escravo trazido a Roma após a conquista da Ásia Menor pelos romanos. Seu próprio amo o educou com muito esmero. Liberto, por causa de seu talento, entrou na vida literária e começou a escrever suas peças teatrais chamadas "mimos" dos quais se retiraram suas sentenças argutas e de notável elevação moral que ficaram para a posteridade.
Destas, uma, no momento atual, cai como uma luva. Ei-la: Bonis nocet quisquis pepercerit malis. Prejudica os bons, quem poupa os maus.
Que verdade! Isso foi dito há mais de dois mil anos e ainda hoje tem seu valor. É uma advertência muito séria àqueles que, por medo ou por covardia deixam de tomar uma decisão justa prejudicando os bons.
É o que se está havendo com a suspensão da implantação do piso salarial dos professores das universidades estaduais pelo Tribunal Regional do Trabalho 7ª Região.
Onde cabe a advertência de Publilius Syrus?
Foram às barras da justiça para defenderem seu direito, o Estado do Ceará e o Sindicato dos Docentes do Ensino Superior. O que é normal, pois cada um julgava ser detentor da verdade. Quem de fato a teria?
Provas de ambos os lados. Quem vai decidir? A querela chegou ao Supremo Tribunal Federal. A decisão do colegiado dessa Corte foi unânime e afirmou que quem tem o direito são os professores: a implantação do piso salarial é justa e constitucional.
Agora, a obrigação do Estado é obedecer à determinação do Supremo Tribunal Federal e a do TRT 7a Região é implantar o piso conforme manda o STF. Sem delongas mesmo que doa a quem doer.
O Estado foi considerado pelo TRT 7ª Região litigante de má fé e litigator improbus, sendo assim uma entidade má, perversa, injusta e autoritária. Aqui cabe a sentença: Prejudica os bons quem poupa os maus.
Não se concebe, portanto, que haja tanta demora na continuação da execução ordenada pelo STF e iniciada pelo TRT 7ª Região.
Essa demora demonstra o espírito fraco do responsável pela implantação do piso e lembra uma afirmação de Ênio, outro escritor latino: Animum aegrum semper errat. Um ânimo fraco sempre erra.
São as atitudes corajosas e não as circunstâncias que determinam o valor de cada pessoa.
Assim pensava Zíbia Gasparetto, escritora espiritualista: "dizer sim quando quero dizer não é dar mais valor aos outros do que a mim, é não colocar meus limites e isso é não me respeitar. Dizer sim quando for sim e não quando for não, isso é dignidade."
TRT 7ª Região, quando procedemos com justiça, imparcialidade e destemor somos respeitados.
* Cajuaz Filho é professor da Universidade Estadual do Ceará.
Fonte: Cajuaz Filho / Revista Missões