Nei Alberto Pies *
"Nas tradições indígenas de Abya Yala, nome para o nosso Continente indioamericano ao invés de «viver
melhor» se fala em «bem viver». Esta categoria entrounas constituições da Bolívia e do Equador como
o objetivo social a ser perseguido pelo Estado e por toda a sociedade.
O «viver melhor» supõe uma ética do progresso ilimitado e nos incita a uma competição com os outros
para criar mais e mais condições para «viver melhor».
Entretanto para que alguns pudessem «viver melhor» milhões e milhões têm e tiveram que «viver mal». É a
contradição capitalista.
Contrariamente, o «bem viver» visa a uma ética da suficiência para toda a comunidade e não apenas para
o indivíduo. O «bem viver» supõe uma visão holística e integradora do ser humano inserido na grande
comunidade terrenal que inclui além do ser humano, o ar, a água, os solos, as montanhas, as árvores e os
animais; é estar em profunda comunhão com a Pacha Mama (Terra), com as energias do universo e com Deus.
A preocupação central não é acumular. De mais a mais, a Mãe Terra nos fornece tudo que precisamos.
Nosso trabalho supre o que ele não nos pode dar ou a ajudamos a produzir o suficiente e decente para todos,
também para os animais e as plantas. «Bem viver» é estar em permanente harmonia com o todo, celebrando
os ritos sagrados que continuamente renovam a conexão cósmica e com Deus.
O «bem viver» nos convida a não consumir mais do que o ecossistema pode suportar, a evitar a produção
de resíduos que não podemos absorver com segurança e nos incita a reutilizar e reciclar tudo o que
tivermos usado. Será um consumo reciclável e frugal.
Então não haverá escassez.
Nesta época de busca de novos caminhos para a humanidade a ideia do «bem viver» tem muito a nos
ensinar". (Leonardo Boff)
* Nei Alberto Pies é professor e ativista de direitos humanos.
Fonte: Nei Alberto Pies / Revista Missões