Joaquim Gonçalves *
Este é um provérbio romano que, em boa parte, corresponde ao nosso dizer: "o que está feito, está feito". Há dez anos que o exército de George W. Bush invadiu clandestinamente o Iraque para "sequestrar" armas químicas que poderiam ser utilizadas por Saddam Hussein para derrubar outras torres. Entres os soldados americanos havia apenas um jornalista estrangeiro clandestino que deu a notícia por primeiro. Tudo estava previsto e organizado para dar o golpe sem que o mundo soubesse nada sobre o primeiro passo.
Analistas, professores e jornalistas continuam fazendo leituras sobre os dez anos vividos após a invasão do Iraque. Eu pergunto, por que se fala simplesmente de guerra e não de invasão? Quer então dizer que quando alguém se acha no direito de entrar na casa do outro, simplesmente porque é poderoso e dominador, não deve ser chamado de invasor? Na realidade, as razões apresentadas para invadir o Iraque já eram consideradas inverídicas, mas os europeus calaram-se para talvez poder tirar daí algum proveito. Por que outros chefes de Estado, em situações idênticas, foram levados ao tribunal penal internacional para responder pelas mortes provocadas e os senhores Bush e Blair não foram considerados culpados por tantos mortos que esta invasão causou? Os Estados Unidos enviaram nestes dez anos mais de um milhão de soldados, dos quais 4.480 morreram, 33 mil voltaram feridos, e 200 mil são portadores de transtornos psicológicos. A taxa de suicídio chega aos 26% de soldados que fizeram serviço militar. O número de iraquianos mortos está estimado entre 200 e 500 mil.
O povo do Iraque
E os deslocados, os que perderam tudo, as famílias divididas, a saúde pública minimizada e a escolaridade que caiu em mais de 30%? Os motivos dessa invasão eram outros. Os verdadeiros estavam escondidos para poder gozar de imunidade de culpa. A crise econômica nos Estados Unidos que estava furando todas as cortinas de vedação, necessitava de uma resposta. A mais fácil era entrar na casa do "outro" e controlar as fontes de energia, produzir mais armas e encontrar justificativas para comercializá-las. Tocar no bolso dos americanos, obrigar à diminuição do nível de consumo, aumentar impostos, era uma hipótese a ser ignorada. O imperialismo é uma tentação tão forte ou mais do que uma ditadura.
Quem se posicionou contra apanhou
Entre as poucas organizações americanas que contestaram a guerra do Iraque estava a Igreja Católica americana. A resposta para essa atitude foi fácil de encontrar: acusar o clero de pedofilia. Os objetivos do projeto de denúncia eram mais arrasadores do que o que conseguiram. A maioria das atribuições de pedofilia não foi provada, mas a Igreja não quis entrar com processos de defesa para não prolongar polêmicas e sair o mais rápido possível do tiroteio. No futuro essa história irá ser contada com mais pormenores. Quantas pessoas foram contratadas para testemunharem pedofilias falsas? Um dia se saberá pelo menos alguma verdade maior.
O petróleo
Nessas análises também não se fala nada sobre a venda clandestina de petróleo que o Iraque fazia para a Europa através da Grécia. A Alemanha e a França se abstiveram de entrar nessa guerra porque viviam da manteiga gorda desse petróleo mais barato que fortalecia o Euro perante o Dólar. A partir dessa interrupção, a Alemanha começou a organizar sua economia caseira com forte autossubsistência. Os próprios supermercados se comprometeram a vender uma percentagem mínima de produtos, estabelecida pelos governos locais, mesmo que ficassem mais caros do que os importados. A Grécia que ganhou muito dinheiro com essa "maracutaia" do petróleo, não soube investir e não fez as necessárias reformas internas, caiu no buraco, poucos anos depois porque deu aos cidadãos um nível de vida artificial. Esses pormenores foram estudados por alguns analistas europeus e publicados até em livros.
A farsa atual de Obama
Agora Obama, perante o conflito entre Israel e palestinos, entre Israel e Irã por causa da suposta energia nuclear, lava as mãos e diz que não vai mais ocupar-se dessa questão. Pura mentira. Ele quer salvar a sua figura de político justo, mas, por baixo do pano, sustenta toda a política de Israel para que haja na Palestina um Estado único. A Faixa de Gaza é um curral de escravos e a Cisjordânia um território de descriminação racial. Os palestinos já não podem viajar nos mesmos ônibus nos quais viajam os hebreus. O funcionamento de bares, restaurantes, escolas, serviços de saúde são exemplos claros de discriminação.
A expectativa do milagre
Será que na Palestina aparecerá outro Mandela como na África do Sul? Enquanto Israel for subsidiado pelos Estados Unidos e pela Inglaterra, os palestinos ficarão encurralados e controlados. A maioria dos delegados de governo na ONU votaram pelo reconhecimento do Estado Palestino. Foi uma votação importante, mas burocrática. Quem levanta hoje a voz, quem exige o respeito pelos direitos humanos em Israel, na Cisjordânia? As casas dos palestinos são derrubadas com máquinas, terras são ocupadas à revelia de qualquer lei que defende a cidadania e não existe nenhuma via para recorrer ao tribunal.
A mentira tem perna curta
Qualquer mentira tem perna curta, mas a mentira política traz estragos enormes. Obama esfregou as mãos ao retirar as tropas do Iraque porque o controle do petróleo já estava nas mãos de grandes empresas americanas. Muitos iraquianos hoje estão contentes porque agora encontram algum trabalho para restaurar prédios explodidos. Já se esqueceram do nível de vida que tinham alcançado mesmo tendo à frente um ditador. No fim da Segunda Guerra Mundial, os alemães trabalhavam 14 e mais horas por dia ganhando para se alimentar com o anseio de recuperar mais rápido prédios, fábricas, máquinas. Sofreram muito no silêncio para poder erguer-se do chão tão arrasado pelos bombardeios. Basta pensar numa cidade como a de Wesel (Baixa Renânia), onde não sobrou uma casa para poder ser habitada.
Agora, Obama vem lavar as mãos perante uma situação desumana que seu antecessor e seu povo gerou, desde que começaram a ser instalados os grupos de famílias nos Kibbutz, vivendo num modelo específico de vida familiar participativa. Essas áreas foram os pontos de apoio para expulsar milhares de palestinos das terras agrícolas mais produtivas.
* Joaquim Gonçalves, imc, é diretor da Revsta Missões.
Fonte: Revista Missões