Falta coragem

Maria Regina Canhos Vicentin *

Dias atrás, li num jornal uma nota de alguém que afirmava sentir a falta de um pároco, tido como conservador e arcaico, que passou pela cidade angariando a época muitos desafetos, inclusive a reprovação do próprio autor do desabafo. Ele disse nunca pensar que chegaria a sentir saudade do presbítero, ferrenho defensor da moral e dos bons costumes; no entanto, reconheceu que o mesmo está fazendo falta num momento em que a liberdade deu lugar à libertinagem. Concordo; mas penso que o que faz falta não é exatamente o padre, e sim a postura que tinha diante da imoralidade. Ora, ele simplesmente exigia que as moças trajadas indecentemente se retirassem da igreja em respeito aos demais que ali estavam. Isso escandalizava a muitos... Mas, será que ele não tinha razão?

Hoje em dia tudo pode; tudo é natural. As pessoas têm medo de dizer o que pensam e ser ridicularizadas. Falta coragem para denunciar as barbaridades que acontecem por aí. Parece que todo telhado é de vidro mesmo, então, melhor é ficar calado. Não é o padre que está faltando. É a coragem que tinha de assumir seus posicionamentos ainda que incomodasse. Ele não buscava fazer média com os fiéis para que lotassem a igreja. Lembro perfeitamente da ocasião em que fui procurá-lo para marcar o meu casamento, e debatemos devido ao fato de eu desejar continuar trabalhando após o enlace. Ele era contra e expôs suas razões. Eu era a favor e expus as minhas. Hoje, confesso, sou uma das maiores defensoras da jornada de trabalho reduzida para as mulheres que são mães. O lar precisa da presença da mulher e a educação dos filhos também. Ele tinha razão em muito do que me disse.

Também sinto falta de pessoas que assumam seus princípios. Penso que se a devassidão está presente em quase todos os ambientes é porque as pessoas de bem estão caladas. Silenciosamente compactuam com as músicas nojentas,com a depravação dos costumes, com a imoralidade. A indecência não está presente somente nas roupas e nas letras das melodias atualmente, mas no vocabulário chulo das pessoas, que já não sabem mais se comunicar com educação e respeito. O desregramento e a desonestidade envergonham as pessoas sérias e bem intencionadas, colocando-as igualmente sob suspeita,tendo em vista que "quem vê cara não vê coração". A maioria, na verdade, é apenas camaleão. Muda de cor conforme a conveniência, conforme o interesse.

É triste reconhecer que faltam pessoas corajosas para denunciar os abusos e tentar resgatar o que ainda nos resta de precioso: a fé, a esperança, a decência, o respeito, a cordialidade... A inocência é preciosa. A verdade é preciosa. Pessoas de caráter; é disso que precisamos. Pessoas honradas. Não um bando de camaleões que sobrevivem à custa de seu mimetismo. Vivem disfarçados de cordeiros, quando na realidade são verdadeiros lobos,prontos para atacar quem se interponha no caminho. A Bíblia diz que os mornos serão vomitados (Ap 3, 16). Sendo sincera, acho bem justo; por isso: vamos nos posicionar!

* Maria Regina Canhos Vicentin (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora.

Fonte: www.mariaregina.com.br

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