Cúpula dos Povos na Rio +20: A natureza em movimento

Beatriz Catarina Maestri *

"Somos a própria natureza, por isso não aceitamos sua destruição!"

De todos os lugares do mundo foram chegando pessoas de diferentes povos e línguas. Todos e todas com um mesmo sonho e utopia: colaborar para a construção de outra sociedade, outro mundo marcado por mais respeito e cuidado para com toda criação, nas suas diferentes formas.

O Rio de Janeiro parece que ficou pequeno para tanta gente que se reuniu entre os dias 15 a 23 de junho. De um lado, as forças poderosas, os governantes das nações que projetaram (ou não) linhas de ação tendo em vista a "salvação" do planeta Terra. Até o momento, sabe-se que as conclusões apontam para a chamada "economia verde", uma forma mascarada de justificar as ações do capitalismo mundial, que continua, de forma desenfreada, a manipular e destruir todas as fontes de recursos naturais, oprimindo e dizimando povos, sem nenhum escrúpulo. Os avanços desse lado são poucos, ou melhor, se existem favorecem ainda mais a progressiva onda do consumismo e da busca por lucro.

De outro lado, a Cúpula dos Povos, espécie de Fórum Social Mundial organizado de uma forma diferente. Pareceu mais uma planície, pois na "cúpula" mesmo estavam outros grupos decidindo os rumos da humanidade. E esta planície foi palco fértil de uma diversidade grande de organizações mundiais, entidades, movimentos da sociedade civil e personalidades que deram um "basta" aos grandes projetos que solapam a vida, como a hidrelétrica de Belo Monte, no Brasil, e outras como as do Chile, do Peru, dentre outros tantos projetos.

Em todas as tendas, distribuídas pelo Aterro do Flamengo, lugar de uma paisagem esplêndida e de uma beleza impar, viam-se grupos organizados debatendo e apresentando propostas sobre a questão das barragens, da justiça social, dos direitos humanos, dos desastres sócio-ambientais, das mulheres e crianças, dos quilombolas, dos catadores de material reciclável, da Via Campesina, do MST, dos povos indígenas...

Os povos indígenas deram um show à parte. A tenda onde se concentraram e realizaram o IX Acampamento Terra Livre, reuniu cerca de dois mil indígenas vindos de todas as partes do Brasil e da AL. Seus debates e marchas foram diários, sempre acompanhados por entidades de apoio. Os Pataxó Hã-Hã-Hãe sensibilizaram a todos/as com seus cocares pintados de uma amarelo vivo, com suas danças, cantos ritmados e os rituais sagrados.

Um dos momentos marcantes se deu no dia 19, na praia do Flamengo, onde nos reunimos mais de mil pessoas para formar um desenho humano - um globo com um indígena de braço erguido em direção ao sol, e a inscrição "Rios para a Vida". Todos sentados nas areias, gritando palavras de ordem... Sentia-se um mesmo espírito inundando a todos, com um mesmo grito que teimava em não ficar abafado: precisamos lutar juntos para que o planeta e os povos todos tenham dignidade!

É o movimento da natureza mobilizando milhares de pessoas... faz recordar uma bonita canção do Roberto Carlos: Por isso uma força me leva a cantar, por isso essa força estranha no ar. Por isso é que eu canto, não posso parar, por isso essa voz tamanha...
Outros momentos marcantes foram as grandes marchas pelas avenidas centrais do Rio e as tentativas de sensibilizar a "cúpula" reunida na Rio+20. Estas foram diárias e insistentes e reuniram milhares de pessoas, com faixas, bandeiras e muita animação!

Foi muito bom também poder se encontrar com várias de nossas irmãs das diferentes províncias e religiosos/as da família franciscana.

E continua a canção: Aquele que conhece o jogo do fogo das coisas que são, é o sol, é o tempo, é a estrada, é o pé e é o chão... Sim, o sol carioca foi ardente e acolhedor. O pé ficou colado às estradas e ao chão sagrado que acolheu tamanha diversidade. O fogo das coisas, das lutas por mais vida e pela irmandade universal ganhou força e seguirá acompanhando o movimento do mundo!

* Beatriz C. Maestri, PICM, assessora do Conselho Indigenista Missionário - CIMI, São Paulo.

Fonte: Revista Missões

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