Jaime Carlos Patias *
A missão fundamental do discípulo missionário de Jesus Cristo.
A realização do 3º Congresso Missionário Nacional surge como mais uma oportunidade de reflexão sobre a caminhada missionária no Brasil. Serve também para celebrar as graças recebidas, agradecer, encorajar nossas testemunhas de fé na missão e aprender a dialogar além de toda fronteira, tornando visível a vocação da Igreja.
A origem da missão se encontra em Deus, que confia seu Plano de Salvação Universal a Jesus, no Espírito Santo. É Deus próprio que decide sair de si mesmo e vir ao nosso encontro com seu amor sem limites. Portanto, ao falarmos de missão, não falamos de uma atividade, mas da essência divina de Deus que não se contém, mas transborda, se comunica com a humanidade. A revelação de Deus amor se dá em Jesus Cristo. Ele escolhe e chama discípulos para estar com Ele, formar comunidade na unidade com o Pai e o Espírito e viver a missão de Deus até os confins da terra. Todos os que seguem Jesus, pelo batismo, em qualquer estado de vida, laical, consagrada ou ordenada, recebem do Mestre a ordem de continuar a mesma missão como Igreja. Dessa forma, não é a Igreja que tem a missão, mas a missão que tem a Igreja e a envia. Não é o missionário que leva o Evangelho, mas é o Evangelho que leva o missionário até os confins do mundo para fazer discípulos (Mt 28, 19).
Conforme vemos, a missão não é algo secundário na vida do discípulo de Jesus, seja ele ordenado como padre ou diácono, religioso ou leigo, mas é essencial, ou seja, sem ela, não há razão de existir. Que dizer, então, de um padre, diácono, religioso ou religiosa, seminarista ou aspirante que não quer ouvir falar da missão? A Igreja existe de verdade quando assume a missão, vocação que se realiza mais no âmbito do "ser" do que do "fazer". A missão aos povos sempre foi, e sempre será a grande vocação da Igreja. Não é exagero afirmar que, se a Igreja não for missionária por natureza, por essência, (AG 2) ela simplesmente não existe como tal ou então não é a Igreja de Jesus Cristo.
Missão Ad Gentes
Alimentar-se da Palavra e do "Pão da Vida", que é Jesus, sem se comprometer com a Missão é viver a fé pela metade. Pensa-se muito na pastoral de manutenção, na administração do culto, dos sacramentos e na "desobriga". Mesmo que tenham o direito de serem assistidos, essa ação evangelizadora não atinge mais de 3% dos 30% que são cristãos, isso num universo de sete bilhões de seres humanos. Seria preciso pensar em ministérios capazes de chegar aos 27% dos batizados que não participam ativamente da Igreja e precisam de uma "nova evangelização ou "re-evangelização". Penso na comunicação e na acolhida como serviços essenciais. Contudo, acima dessa justa preocupação está o primeiro anúncio entendido como missão Ad Gentes, para 70% da população mundial e que constitui a principal missão da Igreja. "É dando a fé que ela se fortalece" (RM 2). Muito além do que amar a Deus no culto do templo, somos desafiados a sair da sacristia e do presbitério para amar a Deus no próximo com uma espiritualidade que abranja todas as expressões da vida humana. Vida plena é doação e partilhada, isso é missão, então a nossa vida é missão, eis a Vocação.
Muito além de especialistas do culto, precisamos de discípulos missionários plenamente identificados com a Pessoa e a Missão de Jesus. Generosos e desprendidos para colocarem-se a caminho, movidos por uma mística de itinerantes que não os deixa fixarem-se em lugares e estruturas que já não favorecem a transmissão da fé. Pessoas de fé que vivem uma espiritualidade missionária profética, porque se identificam com a profecia de Jesus; apostólica porque alicerçada na experiência e tradição dos apóstolos e das primeiras comunidades; evangélica porque tem o Evangelho de Jesus como ponto central que ilumina e torna autêntica a Missão; e universal porque em plena unidade com Deus, que ama sem fronteiras, está preocupada com toda a humanidade.
Sonho com uma Igreja que viva e anuncie a mensagem de Jesus sobre o Reino de Deus. Uma Igreja animada pelo Espírito de Jesus, itinerante, encarnada e missionária. Uma Igreja sólida e organizada, mas em movimento, contagiada pela força do Espírito, dinâmica e aberta aos anseios do mundo. Uma Igreja comunidade de comunidades, voltada preferencialmente para os excluídos com características de família (hospitaleira), samaritana (servidora), celebrativa (na ação litúrgica da fé), profética (transformadora) e missionária (aberta ao mundo). Uma Igreja que viva a sua verdadeira vocação como sacramento (sinal) visível da presença do amor misericordioso de Deus, revelado em Jesus Cristo, pela humanidade inteira.
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* Jaime Carlos Patias, imc, é diretor da revista Missões e assessor de Comunicação do 3º Congresso Missionário Nacional.
Fonte: Revista Missões