Primeira mulher a liderar um dicastério foi missionária em Moçambique

O Papa Francisco nomeou a Irmã Simona Brambilla como Prefeita do Dicastério para a Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.

Por Paulo Aido

O Papa Francisco nomeou a Irmã Simona Brambilla como Prefeita do Dicastério para a Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. A primeira mulher a ocupar um cargo tão elevado no Vaticano foi enfermeira e tem no seu currículo uma experiência missionária no norte de Moçambique. Aí, entre o povo Macua-Xirima, ela integrou a equipe que traduziu a Bíblia para a língua local e produziu o Catecismo para as Crianças, edição que teve o apoio da Fundação AIS. O Bispo de Tete recorda esse tempo…

“Conheci a Irmã Simona Brambilla em 1988, quando ela ingressou no Instituto das Missionárias da Consolata, deixando para trás a profissão de enfermeira. Também eu estava nessa altura preparando-me para ser missionário da Consolata”, começa assim a mensagem de Dom Diamantino Antunes, Bispo de Tete, em Moçambique, sobre a memória dos tempos em que se cruzou no norte deste país africano de língua oficial portuguesa com a Irmã Simona Brambilla, que o Papa Francisco nomeou, no dia 6 de janeiro, como Prefeita do Dicastério para a Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. Uma nomeação histórica, pois nunca uma mulher tinha ocupado, até agora, um tão elevado cargo no Vaticano. Uma década mais tarde, os caminhos da Irmã Simona e de Dom Diamantino iriam voltar a cruzar-se em Moçambique. “Eu era pároco da Missão de Mepnahira, na Diocese de Lichinga, quando ela no ano 2000 passou a integrar a equipe missionária da Paróquia de São Lucas em Maúa. Preparava-se então para fazer o seu doutorado em Psicologia pela Universidade Gregoriana de Roma com a tese ‘Evangelizar o coração. Evangelização inculturada entre o povo Macua xirima de Moçambique’. Foi a sua primeira experiência de missão ad extra.”

Trabalho na equipe do Padre Frizzi

Nascida em Monza, Itália, em 1965, a Irmã Brambilla conheceu então, em terras de Moçambique, o Padre Giuseppe Frizzi, seu conterrâneo e também ele missionário da Consolada. O notável trabalho que o Padre Frizzi desenvolveu em Moçambique – faleceu em outubro de 2021 –, nomeadamente na tradução da Bíblia e do Catecismo para as Crianças para a língua local Macua-Xirima, permitiu um desenvolvimento extraordinário do trabalho missionário que a Igreja Católica estava a desenvolver na região. Um trabalho que, sublinhe-se, foi apoiado pela Fundação AIS, especialmente no que diz respeito ao Catecismo das Crianças. Como recorda agora Dom Diamantino Antunes, o contato da Irmã Simona Brambilla com o padre Giuseppe Frizz “constituiu uma extraordinária oportunidade de transformação e crescimento na sua vocação como missionária da Consolata e dentro dessa vocação o seu interesse pela investigação na frente etnográfica, etnológica, linguística e teológico missionária”. A equipe missionária desenvolvia o seu trabalho dedicando uma atenção particular à evangelização inculturada. “Eu tinha estado alguns anos antes na Missão de Maúa e tive no padre Frizzi um mestre de vida missionária”, lembra ainda Dom Diamantino. “Durante a sua permanência em Maúa, a Irmã Simona teve a oportunidade de colaborar com o padre Frizzi no Centro de Investigação Macua Xirima e também na pastoral, um tempo que constituiu uma experiência missionária apaixonante”, conclui o Bispo sobre o tempo em que a agora responsável máxima pelo Dicastério para a Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica esteve como missionária em terras do norte de Moçambique.

De Moçambique ao Vaticano

Mas o resultado desse trabalho, realizado no tempo em que a Diocese de Lichinga era dirigida por Dom Luís Gonzaga Ferreira da Silva, ainda haveria de dar os seus frutos. Depois de ter regressado a Itália, a irmã lecionou no Instituto de Psicologia da Universidade Gregoriana e em 2008 concluiu o doutoramento em Psicologia com uma tese baseada na sua experiência missionária em Moçambique. Depois disso, foi conselheira geral da Consolata entre 2005 e 2011, tendo sido posteriormente eleita, em junho de 2011, como superiora geral da congregação, cargo que repetiria de 2017 até 2023. Entretanto, em 2019, o Papa Francisco nomeou a Irmã Simona como membro do Dicastério para os Institutos da Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica. Para Dom Diamantino Antunes, sem dúvida que foram as muitas qualidades da religiosa que levaram o Santo Padre a escolhê-la agora para um cargo inédito na História da Igreja, como líder de um Dicastério. “A sua competência, capacidade de análise, profundidade, dedicação e seriedade, a par da sua discrição, não terão passado despercebidas e, ainda em 2023, o Papa Francisco escolheu-a para participar no Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade. Ainda em 2023, a 7 de outubro, o Papa designa-a como secretária do referido dicastério. Será a primeira vez que uma mulher exerce esse cargo e agora, dia 6 de janeiro, foi com alegria que tomamos conhecimento da sua nomeação como Prefeita para o Dicastério para os Institutos da Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica. A primeira mulher a dirigir um departamento na Cúria Romana…”

Sinal de esperança

Para Dom Diamantino Antunes, cuja vida de missionário se cruzou com a Irmã Simona nos já longínquos anos da viragem do século, a escolha do Papa Francisco é um sinal de esperança. “Esta nomeação enche-nos a todos de alegria e demonstra que neste mundo tão cheio de contradições e conflitos a esperança nunca desilude. As qualidades da Irmã Simona, a sua humildade, organização, autodomínio, seriedade capacidade de trabalho e acima de tudo fidelidade e sensibilidade, sei-o de há tantos anos que a reconheço nestas características, estarão agora mais ainda ao serviço da Igreja, ao serviço de todos e esta perspectiva enche-nos de esperança”, diz o Bispo de Tete à Fundação AIS.

Fonte: Voz Portucalense

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