Quinze anos

Maria Regina Canhos Vicentin *

Dia onze de março próximo meu filho estará comemorando quinze anos de vida. Puxa; como o tempo passou... Olho para ele e não consigo imaginar que, um dia, esteve dentro da minha barriga esse homenzarrão que vejo hoje. Procurei lhe ensinar o que achava certo, crente que sabia muito mais que ele, mas me surpreendi com tudo o que me fez aprender. A maternidade é uma escola e tanto para as mulheres. Não é fácil, não é mesmo, porém ensina muito. No meu caso, conferiu paciência. Eu sempre fui uma criança, uma adolescente e uma jovem bastante impaciente. Provavelmente em função da forma como fui educada, tendo pais que procuraram satisfazer os meus desejos para me ver feliz. Se por um lado é bom, também é ruim, pois a vida não costuma atender nossos desejos de imediato, e corremos o risco de ficar mal acostumados. Pois é, certamente estava mal acostumada e, quando me tornei mãe, meu mundo ruiu. Nada acontecia como eu desejava. Tive de aprender a lidar com todos os desconfortos que uma criança recém-nascida representa na vida de sua mãe. Meu filho acordava cinco vezes por noite, e isso perdurou até o quinto mês de vida. Obviamente, eu não conseguia dormir de modo algum. Isso quase me rendeu alucinações. Fiquei exausta e depressiva. Sentia-me desamparada para encarar o desafio de ser uma boa mãe, e me sentia como meia pessoa.

Meia pessoa porque já não me sentia inteira em sentido algum. Extremamente cansada, tive de acompanhar a morte daquela jovem mimada que tinha seus desejos satisfeitos quase que imediatamente, e me sujeitar ao nascimento daquela mãe, que se sentia insegura, fraca e desamparada. Confesso, foi horrível! Sofri tremendamente, e cheguei aos limites da minha resistência física e emocional. Nunca pensei que a maternidade pudesse violentar tanto alguém, e produzir transformações tão profundas numa mulher. Aquela menina; aquela jovem; simplesmente desapareceram no meio de tantas atribuições, fraldas, mamadeiras, trabalho. Minha vida havia mudado para sempre. Aprendi a suportar mais responsabilidade, mais cansaço, mais barulho, mais "nãos" da vida. Aprendi que não era nada do que pensava ser, e que, por algum tempo, realmente não sabia mais quem eu era, de tão ocupada com os cuidados do bebê.

Graças a Deus, a capacidade de adaptação do ser humano é maravilhosa! Depois de algum tempo, eu me reconheci mais amadurecida, mais completa. Aquela meia pessoa havia se transformado numa pessoa inteira e, muito mais paciente que antes. A maternidade também me fez descobrir um amor que não conhecia. O amor que dói na alma. O amor que precisa se calar enquanto segura as mãos do filho sobre a maca do hospital com os dois pés queimados na fogueira, gritando de dor. O amor que precisa se controlar ao ver o filho chegar em casa da rua, completamente ensanguentado, e com diversos dentes quebrados devido a uma queda de bicicleta. O amor que sofre com a reprovação escolar, ciente de que não havia condições de o filho ser promovido. O amor que passa a noite em claro porque é tarde, e ele ainda não voltou daquele passeio.

Enfim, só eu sei o que esses quinze anos significaram para mim. Quinze anos de transformações, que continuam, pois a vida continua, e enquanto ela segue a gente muda e se aprimora. Obrigada meu filho, por tudo o que você me ensinou e continua me ensinando. Certamente, eu seria menos gente se não existisse você!

* Maria Regina Canhos Vicentin (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora. Acesse e divulgue o site da autora: www.mariaregina.com.br

Fonte: www.mariaregina.com.br

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