Maria Regina Canhos Vicentin *
Verifico que estamos vivendo um momento particularmente difícil, levando-se em conta os relacionamentos interpessoais. Nunca sabemos ao certo com quem estamos lidando, já que as pessoas desenvolvem a cada dia uma maior habilidade para camuflar seus sentimentos e caráter. Visando a autopreservação, ou mesmo finalidades nem tão nobres, muitos adotam a postura de não revelar o que realmente pensam ou desejam, tendo em vista que tal exposição pode deixar vulnerável aquele que acredita não ter recursos para lidar com argumentações mais elaboradas ou possui uma determinada intenção não manifesta. Essa postura tem causado grandes estragos nos relacionamentos.
Hoje em dia não sabemos em quem confiar. A verdade parece ter inúmeras faces e não há como acertar qual é a real. As pessoas estão se especializando em criar desculpas e inventar mentiras apenas para não assumir suas verdadeiras intenções e objetivos. Às vezes, fazem isso para se proteger; às vezes, para enganar o próximo e tirar alguma vantagem. Só que é difícil perceber quando se trata de autoproteção ou quando se trata de enganação. Pessoas verdadeiras costumam achar que os outros procedem da mesma forma que elas, ou seja, com sinceridade; enquanto que pessoas falsas desconfiam de todos, pois usam seu próprio referencial para avaliar os demais. Um dos aliados mais poderosos dessas duas posturas é o orgulho.
O medo de ser ridicularizado, ferido, enganado, não tem em suas bases apenas um instinto de autopreservação, mas o orgulho, que faz com que a pessoa não aceite correr o risco de ser ferida simplesmente para não errar, já que costuma se imaginar melhor, acima dos demais. É o orgulho que impede uma pessoa de se desculpar quando percebe que errou. Também é ele que interfere quando desejamos expressar nossos sentimentos de amor e benquerer, pois passa a sensação de que se manifestarmos nossos sentimentos ficaremos vulneráveis e diminuídos.
Caso essa postura se dissemine e perdure nossos relacionamentos muito irão se deteriorar. Sem estabelecermos um vínculo de confiança não temos como deixar a postura defensiva e relaxar, possibilitando a autêntica manifestação de nossas emoções, crenças, sentimentos e opiniões. Viveremos cercados de pessoas com pseudoatitudes, acarretando a deterioração e o empobrecimento dos relacionamentos interpessoais, como de fato já o sentimos.
A solução para este problema está no fortalecimento de nossa autoestima, que irá nos assegurar a coragem suficiente para correr riscos e expor o nosso verdadeiro eu. Tal disposição é pessoal e intransferível, motivo pelo qual, muito ainda iremos nos decepcionar, já que para a maioria de nós o medo de ser magoado, ridicularizado ou desprezado, ainda é maior que a necessidade de um relacionamento verdadeiro. Até lá, vamos convivendo com as pseudoatitudes, e peçamos a Deus que elas não nos transformem em pseudopessoas.
* Maria Regina Canhos Vicentin (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora. Acesse e divulgue o site da autora: www.mariaregina.com.br
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