Conscientização sobre a importância das mudanças climáticas é fundamental para entender catástrofes como a que aconteceu no Rio Grande do Sul.
Por Juacy da Silva
Mensagem enviada à minha amiga Anna Kron, do Rio de Janeiro, sobre a “tragédia” ecológica anunciada, que está provocando tanto sofrimento, perdas materiais e mortes no Rio Grande do Sul.
Bom dia Ana, minha amiga querida, já está acordada? Ótima, abençoada e feliz terça-feira. Parabéns por tudo o que vem realizando em apoio às vitimas das enchentes que se abatem, novamente, sobre o Rio Grande do Sul, demonstrando seu espírito solidário e seu amor cristão, sua caridade assistencial a este povo que sofre neste momento. Parabéns, mesmo!
Em minha opinião e também na opinião de pesquisadores das questões ambientais, mais de dez mil cientistas de inúmeros países e que fazem parte do IPCC – Painel da ONU sobre as mudanças climáticas e também alguns, poucos na verdade, líderes mundiais, entre os quais menciono o Papa Francisco que em sua Encíclica Laudato Si, publicada em maio de 2015; e suas Exortações Apostólicas Querida Amazônia e Laudato Deum, esta última um recado direto aos participantes da COP 28, realizada há menos de um ano, repito, não é por falta de alerta que nossos governantes, nossos empresários e a população sejam surpreendidos em geral somente diante de desastres como esses que estão “despertando” de uma letargia profunda em relação às consequências que a mudança climática, na verdade uma emergência climática ou crise climática permanente, vem provocando ao redor do mundo e que ultimamente tem estado presente em nosso país, em diversos estados, em maior ou menor grau, até que chegamos nesta atual tragédia, anunciada e matematicamente prevista, diga-se de passagem.
O Papa Francisco e esses estudiosos das questões socioambientais não se cansam em dizer que na origem, na esteira dessas tragédias ambientais, ecológicas estão as ações criminosas, irracionais e gananciosas da humanidade, principalmente do setor empresarial, a omissão e falta de compromisso de melhor cuidar da Casa Comum, por parte de governantes.
Os paradigmas que embasam esses sistemas é na busca do lucro imediato e na acumulação de renda, riquezas, propriedades em poucas mãos que não respeitam nem os limites do planeta, da natureza, nem os direitos e a saúde dos consumidores e muito menos os direitos e a dignidade dos trabalhadores. Só conseguem pensar em seus próprios umbigos, vale dizer seus interesses imediatos.
É por isso que o Papa Francisco, líder máximo da Igreja Católica vem enfatizando quanto a importância do papel e a responsabilidade não apenas dos católicos, mas de todos os cristãos, evangélicos e adeptos/fiéis de outras religiões no cuidado com as obras da criação, vale dizer, com o bem comum e também com o direito das futuras gerações em viverem em um planeta que garanta todas as formas de vida, inclusive da vida humana.
Essas exortações vem acompanhadas de propostas que implicam uma mudança radical e profunda dos paradigmas que fundamentam as relações de trabalho e de produção, consubstanciadas na proposta denominada de “Economia de Francisco e Clara” e também no conceito de que é preciso “REALMAR A ECONOMIA”, substituir a economia da morte que está gerando essas catástrofes, por uma economia da vida, solidária, do bem viver e que respeite a natureza, a justiça social, a justiça ambiental e a justiça intergeracional.
Por isso digo e repito, a solidariedade, a chamada caridade assistencial, que socorre de forma imediata e socorre quem está sofrendo, com tantas tragédias, como atualmente está ocorrendo no Rio Grande do Sul, é importante, como uma forma de apenas mitigar MOMENTANEAMENTE, este sofrimento.
Todavia apenas isso não é suficiente, precisamos também da CARIDADE PROMOCIONAL ajudando as pessoas a caminharem com as próprias pernas, sem assistencialismo manipulador, que proporcione condições para que as pessoas tanto as que são vítimas momentâneas dessas tragédias quanto outras que não estão afetadas pelas consequências da degradação ambiental diretamente, possam continuar vivendo com dignidade.
Todavia, o mais importante é identificar as causas dessas tragédias, causas essas geradas, em grande parte, pela omissão e conivência em relação às formas de posse, propriedade e ocupação do solo, principalmente em áreas urbanas e rurais impróprias para assentamentos humanos, só assim vamos conseguir evitar que outras tragédias ocorram, e isto é o que a CARITAS também conceitua como CARIDADE LIBERTADORA, que cria as condições de uma vida plena que também se inclui na chamada MOBILIZAÇÃO PROFÉTICA, quando são denunciados os crimes ambientais/pecados ecológicos e também a crítica à inoperância dos poderes públicos, a falta de definição e implementação de políticas públicas que, com uma visão de longo prazo, possam criar as condições e a realização de obras de infraestrutura que evitem tais tragédias e tantas outras ações que garantam a sustentabilidade dos países e do Planeta.
Em resposta à mensagem, minha amiga Ana, que mora no Rio de Janeiro, em Copacabana, assim se manifestou “Sem dúvidas. Chego a ter um certo pânico de onde viver para não sofrer da pior forma essas consequências que acontecem assim, em dois minutos! Chego a ter um certo pânico de morar próximo do mar... Acredite se quiser! Enfim, fazemos o que podemos”.
E, ampliando o nosso diálogo, escrevi a ela o seguinte “Ana, nós, talvez não viveremos o suficiente, principalmente Eu, do alto de meus 82 anos, rumo ao centenário kkk, mas com certeza nossos netos/netas, bisnetos/bisnetas ou tetranetos e tetranetas, talvez no final deste século ou início do século XXII, digamos no ano 2.120, irão viver em um planeta todo destruído, poluído, degradado, com temperaturas médias acima dos temidos 2,0 ou 2,5 ou até 3,0 graus centígrados acima da média do que era no início da industrialização, com temperaturas chegando, no verão, em todos os países acima de 45, 50 ou 60 graus centígrados e sendo vítimas de chuvas torrenciais, degelo das calotas polares e das geleiras das montanhas, maremotos, furacões, Tsunamis, enchentes muito piores do que estamos assistindo atualmente no Rio Grande do Sul e em diversos outros países”.
O que mais me impressiona é a ignorância, a insensibilidade, a falta de consciência ambiental, ecológica por parte da população em geral, mas principalmente por parte de governantes, empresários perdulários, gananciosos, materialistas e insensatos, líderes políticos, religiosos, enfim, estamos alienados como estavam os passageiros do “Titanic”, que navegava rumo ao Iceberg que provocou aquele desastre, naufrágio coletivo.
Mesmo em meio ao desastre que afundaria aquele transatlântico de luxo, os passageiros se alegravam com música, comilança e diversão até que o naufrágio os tragou. Assim é a humanidade diante das tragédias que estão destruindo esta nave que é o planeta terra.
Como certeza o nível do mar está subindo, a temperatura da água do mar está aumentando a olhos vistos, os mares e oceanos estão se transformando na grande lixeira planetária, principalmente com o lixo plástico e outros produtos químicos, enfim, longe de sermos ECO TERRORISTAS, não podemos deixar de alertar a população quanto ao que nos espera em termos de ecologia integral, minha amiga.
Assistimos com frequência, empresários, políticos e governantes que criticam os ambientalistas, os cientistas e até mesmo lideranças como o Papa Francisco, insistindo que essas pessoas estão contra o desenvolvimento, o progresso como se os mesmos (desenvolvimento e progresso) sejam sinônimos de desmatamento, queimadas, uso abusivo de agrotóxicos, desertificação, poluição urbana, contaminação e degradação de todos os cursos d’água, destruição de povos e culturas ancestrais, uso de mercúrio e outros produtos químicos que poluem o solo, as águas, o ar e destroem a saúde humana.
O mundo, a humanidade não pode continuar vivendo em um círculo vicioso: falta de cuidado com a Casa Comum, degradação dos biomas e dos ecossistemas, destruição do planeta, tendo como resultado tragédias, cada vez mais graves e com mais frequência, que despertam a solidariedade humana, campanhas de apoio às vitimas e depois, tudo volta ao “antigo normal”, com mais degradação, mais tragédias e novamente a solidariedade humana.
Precisamos romper este circulo vicioso, colocando as relações da humanidade com a natureza e as relações dos seres humanos entre si, em uma nova ótica sabendo que a natureza, enfim, o Planeta Terra tem seus limites, que, se não forem respeitados, Ela, a Natureza vai dar sua resposta de forma furiosa, como atualmente estamos assistindo no Rio Grande do Sul e em tantos outros lugares em nosso país e mundo afora.
Por isso, insisto, solidariedade é importante, nesses momentos, mas só a solidariedade e a fraternidade humana não são suficientes para rompermos com esses modelos políticos, econômicos e sociais que levam à morte e à destruição.
Oxalá, o povo brasileiro, nossos empresários, nossas lideranças políticas e religiosas acordem desta letargia, antes que seja tarde demais!