TIPNIS: Lula e Evo

Roberto Malvezzi (Gogó) *

Evo perdeu. Lula perdeu. Perdeu o BNDES. Perdeu o Brasil.

Foi com perplexidade que simpatizantes do governo Evo Morales reagiram ao ataque violento do governo boliviano à marcha indígena contra a estrada que corta a reserva TIPNIS. Essa simpatia está em todo o mundo, não apenas dentro da Bolívia.

Porém, os brasileiros tiveram que pôr mais uma pulga atrás da orelha. Somos acusados pelos próprios marchantes de sermos os maiores interessados na estrada. Na verdade, ela atenderia mais aos interesses do agronegócio brasileiro da região Oeste, visando os portos do Pacífico.

Financiada pelo BNDES, a obra teve Lula como lobista da OAS para convencer Evo. Poucos dias depois da visita a marcha começou. Agora, vencedor, o movimento se indigna contra o imperialismo brasileiro.

As nações indígenas, com suas tradições milenares, não se comportam politicamente pela cartilha marxista-leninista de tática e estratégia. Muito menos pelo oportunismo. Elas não fazem aliança hoje para descartar seus aliados no dia seguinte, conforme exigem as conveniências do poder. Ao contrário, o elemento chave em suas alianças é a confiança. E não se abandona um aliado por conveniência. E, uma vez traída, dificilmente essa confiança será restabelecida.

O que se viu na Bolívia foi a lógica da sabedoria milenar indígena, isto é, Evo tem que respeitar a aliança que o levou ao poder, não o povo respeitar os novos interesses de seu governo. O povo indígena foi para a rua e foi reprimido violentamente. O governo voltou atrás e pediu perdão, declarando TIPNIS intangível. Somente o futuro dirá se essa atitude vai ser suficiente para restabelecer a confiança mútua, ou se a história seguirá por outros rumos.

No Brasil o PT jogou fora aliados históricos, impõe seus projetos pela força, passa por cima de comunidades indígenas e quilombolas, vai para a América Latina e África impor os interesses imperiais de empresas brasileiras. Lula tem sido o embaixador desse sub imperialismo do capital.

Depois de TIPNIS, quem sabe o governo brasileiro, além de prejudicar Evo, aprenda a respeitar melhor os indígenas do próprio país. Ou então, nos falta um levante como na Bolívia.

* Roberto Malvezzi (Gogó) é membro da Equipe Terra, Água e Meio Ambiente do CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano) e assessor da Comissão Pastoral da Terra - CPT.

Fonte: Roberto Malvezzi (Gogó)

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