Enchentes castigam Baixada Fluminense

Paróquia assistida pelos missionários da Consolata no Rio de Janeiro torna-se ponto de apoio para moradores que perderam tudo com as enchentes de fevereiro.

Por Wilson Gervace Mtali

A noite de quarta-feira dia 21 de fevereiro foi a noite difícil e marcou o início de dias e noites de choros e sombras para muitas famílias da Baixada Fluminense, principalmente para os municípios de Japeri e Paracambi na diocese de Nova Iguaçu. A chuva forte que caiu o dia inteiro causou alagamentos extensos e inundações em muitos lugares. A perda é grande, o sofrimento que já faz parte do povo da Baixada aumentou. Muitas famílias se encontram desabrigadas, sem o que comer, nem água potável.

Os moradores da Baixada Fluminense já sofrem com extrema pobreza, não há políticas públicas que garantam a vida digna, não tem hospitais, transporte ruim, educação de baixa qualidade. Os problemas com as enchentes não são uma novidade para os moradores da Baixada Fluminense, é uma realidade que se repete sempre. Só este ano essa é a segunda vez que isso acontece em menos de dois meses. O Rio Botas que travessa a região de Nova Iguaçu sempre transborda e os problemas causados pelo transbordamento se tornaram históricos para os moradores que se encontram em torno dele. A incerteza e insegurança fazem parte da vida dos moradores quando chega a época de chuva. Só para ter uma ideia, as enchentes do dia 21 de fevereiro acontecem quando ainda o povo está tentando se reerguer depois da tragédia que aconteceu no dia 13 de janeiro; alagamento, deslizamento e inundações resultaram em perda de vida e de propriedades, casas e imóveis. É uma realidade gritante que merece uma atenção do governo e todas as pessoas de boa vontade.

Um povo pobre e abandonado

IMG-20240301-WA0023O problema das inundações não é surpresa para ninguém que já fez parte do governo federal e estadual, são problemas recorrentes. Mas o que acontece é o abandono que a população da Baixada Fluminense sofre diante dos governantes. Essa é a realidade do Brasil, onde moram negros e pobres, normalmente o poder público não se interessa. Existem projetos grandes que seriam a solução dos problemas de enchentes na Baixada Fluminense, mas não avançaram, foram abandonados e estão parados porque ninguém tem interesse de solucioná-los, já fazem parte da vida do povo. Um desses projetos é o Iguaçu que tinha como objetivo controlar as inundações através de canalização, substituição de travessias insuficientes, remanejamento de dutos, recuperação de sistemas de comportas, proteção de margens de rios, recomposição de estruturas hidráulicas. Está parado desde 2007 e já foram gastos milhões de reais.

As construções sem planejamento é outro sinal de que essa população está abandonada e vive como se não tivesse governo. Quando se analisa os lugares que são os mais atingidos pelas chuvas sempre, dá para perceber que todos são áreas de risco, mas a pergunta que se faz é “quem permitiu essas construções, se realmente tem governo que se importa com a vida do povo?” a resposta é: ninguém se importa. O pobre não tem muita opção, e muitas vezes arrisca a vida não porque quer, mas porque essa é a única opção que tem no momento, entretanto, se os governantes se importassem teriam a solução, pois sempre tem um jeito.

Momento de solidariedade

O momento que muitas famílias passam na nossa região chama a nossa atenção, como cristãos, como pessoas que amam a vida. Tudo isso acontece justamente no tempo quaresmal onde a reflexão maior é a conversão que não só tem a dimensão pessoal, mas também a social. A Igreja diocesana deu assistência às muitas famílias em colaboração com as prefeituras e outras organizações, inclusive o bispo diocesano dom Gilson Andrade da Silva visitou pessoalmente as regiões mais afetadas de Japeri e Paracambi para mostrar solidariedade.

Na Paróquia do Senhor do Bonfim a assistência às famílias carentes já é uma prática que acontece uma vez por mês, cada última sexta-feira do mês distribui-se alimentos, roupas e café da manhã para mais ou menos 60 famílias. A iniciativa é da Pastoral Afro e dos Vicentinos. É uma forma de mostrar a fraternidade com aqueles que sofrem e passam necessidade. Este mês por causa da tragédia, a Paróquia precisou alargar mais a tenda, pois a necessidade aumentou e o número dos necessitados subiu, sendo que a Paróquia se tornou ponto de arrecadação e distribuição de alimentos, roupas e outras coisas, além disso, a prefeitura pediu para acolher oito famílias que perderam seus pertences enquanto procuram uma solução duradoura.

A necessidade é grande, mas também Deus sempre dá um jeito, muitas pessoas estão trabalhando incansavelmente e estão se doando para ajudar o próximo, isso é motivo de alegria, mas também aumenta a pressão por parte do governo para que possam promover projetos que ajudem a resolver esse problema histórico de enchentes na Baixada Fluminense, já que é insuportável ver pessoas morrendo e chorando cada vez que isso acontece. A nossa esperança é que isso aconteça o mais rapidamente possível.

Que o Senhor nos ajude a sermos mais solidários com os necessitados e com todos que sofrem de várias formas por causa de negligência e falta de responsabilidade. Que Nossa Senhora Consolata console todas as famílias atingidas por essa tragédia.

Wilson Gervace Mtali, imc, responsável da Pastoral Afro Brasileira na Paróquia Senhor do Bonfim, Diocese de Nova Iguaçu, RJ.

Deixe uma resposta

dezenove − 3 =