Será?

José Cajuaz Filho *

O cancioneiro popular, além de certas baboseiras, traz-nos também mensagens profundas que devem nos levar a sérias reflexões.

Vasculhando esse cancioneiro, deparei-me com a letra de uma música interpretada pela Banda Legião Urbana. Chamou-me a atenção o estribilho:
"Será só imaginação?
Será que nada vai acontecer?
Será que é tudo isso em vão?
Será que vamos conseguir vencer?"

É verdade que o contexto musical do autor é bem diferente do enfoque que lhe quero dar agora. Ele se aplica, no entanto, muito bem ao momento de crise política, moral e ética que vive nossa pátria amada brasilis.

Todos os setores da vida pública brasileira estão minados de falcatruas, corrupção, desonestidade e outras desgraças mais. Diariamente a mídia veicula estas mazelas. Como exemplo, vejamos os três poderes, que deveriam ser um único, pois o executivo engole os outros dois, da nova república. No executivo federal, quase diariamente, um ministro é defenestrado do poder por desonestidade, concussão, troca de favores, peculato e outras coisas mais. Só neste governo foram sete. O estadual e o municipal não ficam atrás. Será só imaginação?

No legislativo, em todas as esferas, são os severinos, são as propinas, é a troca de vantagens por dinheiro, é a não - realização de obras, mas o dinheiro vai para a cueca, é o interesse particular em detrimento do social é o crescimento vertiginoso da corrupção, é o poder nas mãos de oportunistas, é o desrespeito ao povo e outras coisas mais. Será só imaginação?

No judiciário, federal e estadual, é a venda de sentenças, é a lerdeza no julgamento, é a submissão, por medo ou conveniência, ao executivo não se olhando o "dar o seu a seu dono", "o faça-se justiça e desabe o mundo" do profeta Amós, é a impunidade, é a subserviência dos magistrados aos mais fortes e poderosos. Será só imaginação?

Chorar pra quê? Se isso acontecer, poderemos nos perder entre os monstros da nossa própria criação. Eles foram, com tristeza o afirmo, eleitos por nós. E agora, José? O pior, tudo isso acontece tão frequentemente e já se tornou fato tão corriqueiro que, parece, não causar mais comoção na sociedade. O povo tem memória tão curta? Será que nada vai acontecer? Devemos ficar acordados imaginando alguma solução.

Em Sodoma e Gomorra, Deus pouparia o povo se houvesse um justo. Será o caso do Brasil? Sodoma e Gomorra foram castigadas. Será que não existem pessoas que, com seu trabalho, sua dignidade, sua seriedade, sua honestidade, possam bar um basta a essa situação? Até quando vocês, membros do executivo, do legislativo e do judiciário, vão abusar de nossa paciência? Será em vão todo o esforço dos bons? Será que vamos conseguir vencer? As eleições vêm por aí.

Rui Barbosa, senador da Velha República, homem respeitado e de grande cultura, quase desiludido com a vida política da sua época, em 1914, deixou-nos este lapidar pensamento: "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar as desonras, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto." E hoje? Para todos os segmentos da sociedade ele vale e se aplica.

Mas... Não descambemos para o pessimismo mesmo sabendo que Chico Buarque, também em uma de suas músicas O que será? já isto profetizava e, com tristeza confesso, ao que parece, está se realizando:
O que não tem conserto nem nunca terá.
O que não tem governo nem nunca terá.
O que não tem vergonha nem nunca terá.
É triste.

* Prof. José Cajuaz Filho, Fortaleza, CE.

Fonte: José Cajuaz Filho - Revista Missões

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