Papa Francisco na Mongólia: Uma Jornada de Fé e Diálogo Inter-religioso nas Estepes Asiáticas
Tendo em vista a viagem apostólica do Papa ao país asiático de 31 de agosto a 4 de setembro, o cardeal Giorgio Marengo, prefeito apostólico de Ulan Bator e missionário da Consolata, concedeu uma entrevista aos meios de comunicação vaticanos. Ele afirmou: "Esta visita servirá também para fortalecer as já boas relações entre a Santa Sé e o Estado." A chegada do Papa foi precedida pela peregrinação da estátua da Virgem encontrada em um aterro em todas as comunidades católicas.
Eminência, o que o senhor espera deste percurso do Papa, cujo tema é "Esperança juntos"?
Acredito que essa jornada ajudará especialmente os fiéis católicos mongóis a se sentirem verdadeiramente no coração da Igreja. Para nós, que vivemos geograficamente em uma zona muito periférica do mundo, a presença do Papa fará com que nos sintamos não distantes, mas próximos, no centro da Igreja. Além disso, será importante para fortalecer as relações entre a Santa Sé e o Estado mongol, que já são boas.
Como a Igreja se preparou para receber o Papa?
Essa visita é de grande importância para nós, e por isso quisemos precedê-la com a peregrinação da estátua da Virgem Maria, que foi encontrada há algum tempo em um lixão no norte do país por uma mulher pobre e não cristã. Essa estátua, que é nossa padroeira, está visitando as diversas comunidades católicas.
Quais são as dimensões da Igreja que o Santo Padre visitará?
A igreja mongol é composta por um rebanho muito pequeno: mil e quinhentos batizados locais reunidos em oito paróquias e uma capela. Cinco delas estão localizadas na capital e as demais em áreas mais remotas. É uma comunidade pequena, mas muito ativa.
Quais são as principais atividades eclesiais?
A Igreja está empenhada em setenta por cento de suas atividades em projetos de promoção integral da humanidade, que vão desde a educação até a saúde, passando pelo cuidado das pessoas mais frágeis. Além disso, ela se dedica à vida de fé, que se concretiza por meio do pré-catecumenato, catecumenato, vida litúrgica e catequese permanente. Nossa pastoral busca sobretudo a qualidade da escolha de fé das pessoas.
Quais desafios a Igreja na Mongólia enfrenta?
O desafio primordial e mais importante é viver segundo o Evangelho. Cada comunidade enfrenta a grande tarefa de ser discípula e missionária. Essa coerência de vida se reflete na necessidade de enraizamento cada vez maior na sociedade mongol e na esperança de uma coesão mais sólida da Igreja local em torno de um projeto comum. Outro desafio é a inculturação, que demanda tempo, pois acompanha o amadurecimento da fé em um contexto cultural específico. Além disso, enfrentamos o desafio de formar catequistas locais, agentes pastorais e, é claro, clérigos locais e internacionais.
Dado que a maioria da população se declara budista, qual é a importância do diálogo inter-religioso para a Igreja local?
O diálogo inter-religioso sempre esteve presente na experiência eclesial na Mongólia. Dada nossa situação, a Igreja tem uma necessidade imperativa de se relacionar com os fiéis de outras tradições religiosas. Essa dimensão é fundamental e tem se intensificado nos últimos anos, a ponto de os encontros entre líderes religiosos, que antes aconteciam anualmente, agora serem organizados bimestralmente.
Como a Igreja na Mongólia vive o caminho sinodal?
A vivência da sinodalidade é quase espontânea, pois essa dimensão faz parte de nossa experiência eclesial. A dinâmica de consulta de todos os componentes eclesiais é parte da prática desta Igreja. É gratificante sentir-se em plena sintonia com a Igreja Católica global, especialmente nesse momento em que a Igreja universal está refletindo mais profundamente sobre a sinodalidade.
Qual é a situação social do país atualmente?
A sociedade mongol está passando por uma fase de intensa transformação. Há uma rápida adoção de modelos sociais e culturais que são novos em relação à tradição. O país está em um período de transição, com um crescimento econômico rápido que exige mudanças nos estilos de vida, tornando-os mais abertos à globalização. Esse rápido desenvolvimento traz oportunidades, mas também riscos, como o risco de deixar para trás aqueles que não conseguem acompanhar, ou enfraquecer algumas tradições locais que, ao invés disso, poderiam promover uma coesão social mais forte.