José Alberto Moura *
Deus é pai de todos. Pedir para que ele deserde ou castigue os outros, não é próprio de quem é seu filho. Por isso mesmo, todo tipo de guerra, ódio, vingança, rancor, desonestidade, discriminação, exclusão, desrespeito à vida e a dignidade do semelhante é querer um pai exclusivo para si. Ele nos enviou seu filho natural, ou seja, de sua natureza divina, para nos ensinar e realizar o elo de verdadeira fraternidade entre os humanos. Somente na vida de fraternidade entre nós é possível considerar Deus nosso pai. Jesus nos dá o direito de chamar e ter o pai dele como nosso. Até nos ensina a orar ao pai nosso. Não é simplesmente pai meu. Por isso, também através da oração nos comprometemos em viver a irmandade, superando a lesão ao bem do outro, mesmo sendo de outra mentalidade, religião, partido, ideologia, etnia, condição social...
O pai terreno só exerce boa paternidade quando se amolda aos ditames do Pai divino, obedecendo a ele com humildade e amor. Os filhos humanos, igualmente se realizam quando sabem amar e obedecer a seus pais, configurando-se ao Filho de Deus. Teríamos famílias verdadeiramente felizes, mesmo com as dificuldades próprias de quem vive com os limites da natureza humana. Assim como Deus Pai ama o Filho Divino e não o deixa subjugado para sempre aos limites da natureza humana, fazendo-o ressuscitar, Ele também ama os que se parecem com esse Filho no tentar imitá-lo com a doação de si em bem dos irmãos.
Se há um só Pai divino, os filhos humanos têm seu amor e são estimulados a viverem a humanidade com a marca do divino. A família humana que se preza como tal, fará tudo para ter o amor do Pai na prática de sua convivência. Na amplitude da família humana, precisamos fazer todo o esforço para minimizarmos os efeitos deletérios da maldade, da injustiça e desclassificação dos outros, principalmente os mais fragilizados. Numa família a lógica de atenção especial e principal leva todos ao cuidado mais diligente com quem está doente ou vive em necessidades especiais.
Precisamos fazer grande revisão na convivência social. Não é possível encontrarmos coerência por parte de quem diz aceitar a paternidade divina e nada fazer para que a vida no planeta, especialmente a humana, não seja tão espezinhada. Ações políticas precisam ser efetivadas para a melhora do atendimento às necessidades básicas de inúmeras pessoas vivendo em situação de exclusão social no mundo, no nosso país e em nossas comunidades urbanas e rurais. A consciência de cidadania nos deve levar a saber votar com inteligência e responsabilidade, para não elegermos pessoas que se aparentam boas, até cristãs, mas que são raposas que querem tomar conta do que é bem do povo para roubar e utilizar tudo em benefício de minorias inescrupulosas e desonestas. Se aceitassem realmente que o Pai divino é bom mas também justo, não dormiriam em paz enquanto não fizessem tudo para que seus irmãos mais fragilizados pudessem ser beneficiados com o dinheiro dos impostos para o atendimento de sua vida digna.
Elevamos nossos pedidos ao Pai divino em bem de todos os que são chamados de pais ou líderes terrenos. Assim serão felizes em atenderem realmente as necessidades dos filhos humanos para haver um verdadeiro convívio de irmandade e fraternidade entre todos.
* Dom José Alberto Moura, CSS, é arcebispo Metropolitano de Montes Claros - MG.
Fonte: www.cnbb.org.br