Junho: mais um mês que se vai

O resultado deste novo modelo de governar não poderia ser outro, o Brasil voltou a ser protagonista no cenário internacional.

Por Juacy da Silva

Em seis meses de governo Lula, o dólar “caiu”, a inflação está controlada e em queda, a estabilidade econômica ganhou corpo, a confiança do mercado, dos investidores internos e internacionais melhorou, o país está a caminho da pacificação, os governantes deixaram de usar “fake news”, mentiras e ameaçar as instituições, as urnas eletrônicas, os militares perceberam que não vale a pena embarcarem em atentados e ameaças golpistas, que as Forças Armadas são Instituições permanentes a serviço do Estado e do Brasil, jamais capitães do mato, forças de repressão a serviço dos governos de plantão; as Igrejas e religiões deixaram de participar da política partidária, deixaram de transformar os púlpitos em palanques eleitorais a serviço da ideologia extremista, de índole nazifascista; os trabalhadores e os consumidores, aos poucos ganham confiança tanto no governo quanto nas Leis e nas Instituições, enfim, novos tempos estão chegando. Tudo isso em apenas seis meses! Uma mudança significativa de paradigmas.

Junho é um mês de muitas festas, muita alegria; mas mês também de muita tristeza, muita violência, muito sofrimento, fome e destruição ambiental no Brasil e no mundo afora! Afinal, as mudanças precisam ser contínuas e mais profundas, para que, de fato, possamos construir sociedades politicamente mais representativas, economicamente justas, solidárias, transparentes e participativas, a política pautada pela ética e AMBIENTALMENTE SUSTENTÁVEIS.

Estamos exatamente na metade deste ano de 2023; recheado de muitos acontecimentos, expectativas e transformações políticas, econômicas, sociais e culturais, que, aos poucos, vai mudando a “cara do Brasil”.

A invasão e a destruição que a Rússia tem promovido contra a Ucrânia tem estado na agenda das discussões e movimentações geopolíticas internacionais, uma guerra absurda, injusta que continua fazendo dezenas de milhares de vítimas inocentes, principalmente crianças, mulheres e idosos, uma verdadeira carnificina desmedida e destruindo toda a infraestrutura daquele país.

As guerras civis, os conflitos armados, a ação do crime organizado em todos os países, a degradação ambiental, a destruição da biodiversidade, as mudanças e a crise climática, a corrupção, as fake news, a discriminação e o racismo, o machismo, a misogenia e tantas formas de exclusão continuam sendo os grandes desafios em todos os países e, claro, também no Brasil. Razões mais do que suficientes para que estejamos vigilantes e a certeza de que a luta para superarmos esses e tantos outros desafios continua acesa.

No Brasil apesar do avanço do nazifascismo, durante os quatro últimos anos, um novo governo de coalizão e progressista foi eleito no ano passado, tomou posse no primeiro dia deste ano, há seis meses e, mesmo com a tentativa de golpe de 8 de janeiro, da invasão e destruição das sedes dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário; ficou patente que a democracia (mesmo meio capenga) e as instituições conseguiram sobreviver e se fortalecem a olhos vistos.

Bolsonaro  (o guru da extrema direita no Brasil) recebeu a pena que merece por zombar das instituições, da democracia, do sistema eleitoral, das urnas eletrônicas, do uso abusivo da mentira (fake news) e do abuso do poder político e dos meios de comunicação oficiais. Por oito anos ficará INELEGÍVEL e será “carta fora do baralho”, retornando ao lugar de onde jamais deveria ter saído, que é o porão da cidadania e da civilidade.

papa-presidente-do-brasilO governo Lula emplacou, sob o tema União e Reconstrução, sob sua batuta a economia se estabilizou, os fundamentos para o crescimento econômico, com uma melhor distribuição de renda e de participação popular, avança com firmeza. O povo, aos poucos, vai ganhando confiança em si mesmo, como fonte do poder e também nas instituições que se fortalecem e no governo que, pautado pela transparência, “entrega resultados” e tem demonstrado compromisso com políticas públicas que favorecem as camadas mais humildes; respeito às pautas de todos os segmentos, a maioria dos quais estiveram totalmente ausentes nas ações do governo anterior; um compromisso de fato de um melhor cuidado com o meio ambiente, com a sustentabilidade, de respeito aos povos indígenas, aos povos tradicionais, aos trabalhadores, aos consumidores e também aos empresários que se abrem a um compromisso social e não apenas com o lucro fácil e imediato, mas com o Brasil, com os trabalhadores, com os consumidores e com o meio ambiente.

O resultado deste novo modelo de governar não poderia ser outro, o Brasil voltou a ser protagonista no cenário internacional, Lula aos poucos volta a ser uma figura que representa a busca do diálogo, tanto interna quanto internacionalmente, melhorando, significativamente a imagem de nosso país que, nos últimos quatro anos, era de um pária internacional, em total descrédito perante aos olhos do mundo.

Apesar deste esforço, é importante reconhecermos, também, que o Brasil continua sendo um dos países com os maiores índices de desigualdade, de fome e de insegurança alimentar (apesar de vangloriar-se de ser o “celeiro” do mundo), de pobreza, de exclusão do mundo, ao lado das mais altas taxas de juros reais; da concentração de renda, riqueza e oportunidades, da degradação ambiental, de desmatamento, uso e abuso de agrotóxicos, de violência, principalmente contra líderes ambientalistas, indígenas, trabalhadores, contra mulheres, idosos e pessoas com deficiência, com o caos na saúde pública, uma educação pública também sucateada e de baixa qualidade, enfim, muitos e históricos problemas e desafios que precisam ser encarados e enfrentados tanto pelas instâncias governamentais, quanto pelo empresariado e por todas as entidades representativas da sociedade civil, inclusive pelas Igrejas, credos e religiões.

Mas ainda teremos mais três anos e meio, ou sete trimestres até o final deste governo de União e reconstrução nacional e, dentro de pouco mais de ano e três meses, teremos as eleições municipais, que, guardadas as devidas proporções, assemelham-se as eleições de meio de mandato (mid term elections) nos Estados Unidos, tempo mais do que suficiente para rompermos com paradigmas ultrapassados e substituí-los por novos paradigmas que nos conduzam ao um futuro promissor, não apenas para uma minoria, mas para a grande maioria da população brasileira.

Tanto lá quanto cá, no caso brasileiro, as eleições municipais, longe de se aterem apenas `às questões locais, paroquiais serão eleições importantes, principalmente nos grandes “colégios eleitorais”, as capitais, regiões metropolitanas, as grandes e médias cidades/municípios que irão colocar o atual governo, seus aliados e suas políticas públicas em julgamento.

Na democracia o povo é ao mesmo tempo a única fonte do poder e, ao mesmo tempo, os juízes implacáveis com os maus governantes, aos quais são dados “cartões vermelhos”, expulsando-os da vida pública, por incompetência, demagogia, uso inveterado “fake news”. por corrupção ou por atos atentatórios à democracia, às instituições e à República.

Essas eleições terão o cunho de um termômetro para as eleições gerais de 2026; quando os eleitores deverão renovar novamente a Câmara Federal; dois terços do Senado, as Assembleias Legislativas, os Governos Estaduais e, claro, a “joia da coroa” que é a Presidência da República.

Neste contexto é de extrema importância que combatamos o “analfabetismo político”, cuja síntese foi magistralmente registrada em um texto bem simples “O analfabeto político” de Bertold Brecht, cuja leitura é sempre recomendada.

Vale a pena transcrever dois parágrafos deste texto maravilhoso e sempre atual: “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio dos exploradores do povo”.

Com Bolsonaro INELEGÍVEL, a extrema direita terá que inventar um novo ou uma nova representante e renovar também suas bandeiras, suas narrativas e suas “fake news” (mentiras) pois se esta direita estriônica foi derrotada nas urnas eletrônicas, apesar do uso e abuso do poder econômico, do poder político estando no poder; com certeza fora do poder central deverá ser novamente derrotada, tanto nas eleições municipais de 2024 quanto nas eleições gerais de 2026.

A grande incógnita continua sendo o poder e influência eleitoral que a extrema direita religiosa, tanto evangélica quanto católica continuará tendo no cenário nacional. Afinal, o Brasil sob o governo Lula não está “virando” e nem vai virar um país comunista; Lula não fechou e não fechará igrejas evangélicas, nem perseguirá grupos religiosos, mas também não compactuará com práticas que desvirtuam o sentido do sagrado, não irá manipular o imaginário coletivo com o uso da fé e da ignorância popular para alavancar projetos de poder e nem a ideologia do nazifascismo.

A liberdade de crença, de culto, de ideologia, de manifestações estarão garantidas tanto pelas ações e políticas públicas, quanto por um poder judiciário independente, fortalecido e um Poder Legislativo, também autônomo e mais comprometido com os anseios, os sonhos, as necessidades e as aspirações nacionais, da população, principalmente das camadas do “andar de baixo”, os pobres e excluídos!

Existe um liame, uma ligação profunda entre o passado, o presente e o futuro. A história não “é feita” de saltos e sobressaltos; mas de um contínuo temporal. Quem não perscruta, examina o passado, não entende o significado do presente e jamais poderá projetar-se no futuro, este é o grande desafio, a necessidade de construirmos um projeto de país para os próximos dez, vinte ou cinquenta anos.

Sem isto, estaremos condenados a “perder o bonde da história” e continuarmos sempre “deitados em berços esplêndidos”, muito mais no imaginário coletivo do que nas ações sociotransformadoras!

Juacy da Silva, professor universitário aposentado, UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral, Coordenador de Educação ambiental da Associação em Defesa da Bacia do Rio Cuiabá e do Pantanal. Email profjuacy@yahoo.com.br

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