Ser acolhido pelos que são ignorados pela sociedade é um sinal de Deus, que escolhe aqueles que a sociedade descarta. Os povos indígenas e os migrantes venezuelanos, vítimas de preconceito na sociedade de Roraima, foram os protagonistas da recepção ao novo Bispo da Diocese de Roraima em frente à Catedral Cristo Redentor.
Por Luis Miguel Modino/ Redação*
Com a presença dos Bispos do Regional Norte1 e de outros prelados vindos de diferentes regiões do Brasil e da Venezuela, incluindo seus dois predecessores, Dom Mário Antônio da Silva e Dom Roque Paloschi, presbíteros, Vida Religiosa e representantes de paróquias e comunidades, Dom Evaristo Spengler assumiu o cargo que o Papa Francisco lhe confiou, na igreja que o Papa lhe confiou, pelas mãos do Cardeal Leonardo Steiner, Arcebispo Metropolitano de Manaus, mostrando em suas palavras e seu sorriso no rosto a alegria deste momento.
Os povos indígenas e os migrantes foram os protagonistas da Igreja de Roraima, mais uma vez evidenciado na liturgia, com a proclamação das leituras em espanhol e na língua indígena macuxi, assim como alguns dos cantos e momentos marcantes da celebração. Uma liturgia rica em simbolismo, com um rosto amazônico, na Solenidade da Anunciação do Senhor e no dia em que a Igreja de Roraima inicia a preparação para os 300 anos de evangelização em 2025.
Desde o Mistério da Anunciação, Dom Evaristo destacou como Deus enviou seu anjo a uma região desprezada, para assim encarnar em um Messias que quis ser parte do povo pobre e que revelou que "o Reino de Deus está presente especialmente onde todas as pessoas podem circular". Isso é evidenciado na figura de Maria, que supera seus medos para assumir o plano de Deus, pois acima de tudo "ela carrega no coração a certeza de que Deus caminha com ela e com o povo pobre", com Dom Evaristo insistindo na necessidade de superar o medo, pois "o excesso de medo nos paralisa", lembrando alguns medos "que nos fazem muito mal", e junto com isso "nos impede caminhar e construir um futuro coerente e mais autêntico com o Evangelho".
Portanto, o novo Bispo da Diocese de Roraima destacou a urgência de "construir uma Igreja da esperança e da confiança em Deus", lembrando o 3º Ano Vocacional que a Igreja do Brasil está celebrando, insistindo que "todos somos chamados a ser Povo de Deus a caminho e a fortalecer nossas Comunidades Eclesiais de Base", e chamando todos a assumir sua vocação na Comunhão e na Missão, "sem medo de caminhar juntos e construir comunidades servidoras, a exemplo de Maria".
"Assim como Maria, que ouvia o chamado de Deus pelo clamor do povo, a Igreja particular também ouve esse chamado. Isso foi assumido pelos missionários que, ao longo de 300 anos, chegavam com muito sacrifício de deslocamentos, de comunicação e de recursos, e aqui se consumiam no testemunho do evangelho vivo", insistiu Dom Evaristo Spengler. Essa Igreja "nunca se pautou pelos aplausos ou pelas críticas, mas pela fidelidade ao Evangelho de Jesus Cristo", inclusive até mesmo dando a vida, como aconteceu com o Padre Caleri. "Uma Igreja sem medo, assim como Maria."
Diante do momento atual, "a Igreja não pode silenciar diante da tragédia dos Yanomami, diante de suas terras invadidas pelo garimpo, que lhes rouba o território, a saúde, a paz, os meios de produção de alimentos e, enfim, a vida", denunciou Dom Evaristo. Por isso, ele insistiu que "a Igreja de Roraima reafirma mais uma vez o seu compromisso com os povos indígenas na defesa de sua vida e de seus territórios". Esse compromisso também se estende aos migrantes, destacou o Bispo, que "deseja acolhê-los e inseri-los nesta terra", muitos dos quais participam da vida das comunidades da Diocese.
Refletindo sobre o Ministério do Bispo e o tríplice ministério, Dom Evaristo Spengler enfatizou que "mais importante do que o Bispo é a Igreja". Ele fez uma profissão de fé, mostrando a Igreja em que ele acredita: uma Igreja fiel ao Evangelho; uma Igreja servidora do mundo e promotora da Vida, especialmente onde ela está mais ameaçada; uma Igreja aliada e parceira dos pobres, povos indígenas, migrantes, mulheres, jovens e famintos; uma Igreja de comunidades da Palavra, que faz a experiência da partilha e é um ensaio do Reino; uma Igreja que busca testemunhar a sinodalidade, corresponsável desde o Batismo; uma Igreja toda ministerial; uma Igreja profética; uma Igreja responsável pela Casa Comum, que ama, cuida e defende nossa "Irmã Mãe Terra".
Numa Igreja três vezes centenária, Dom Evaristo disse sentir-se "tranquilo e bastante seguro, não por causa das minhas forças, mas por causa da Igreja", que ele definiu marcada pelo "testemunho, fidelidade e profetismo". Ele disse que quer percorrer esse caminho desde seu "compromisso com o Regional Norte1 em busca do fortalecimento dos laços de comunhão", algo que também faz com a CNBB em sua missão no enfrentamento ao tráfico humano e com a REPAM.
No final da celebração, houve um momento de agradecimento ao novo Bispo, bem como ao administrador diocesano durante a sede vacante, o Padre Lúcio Nicoletto. Com a chegada de Dom Evaristo, a Igreja sentiu-se "tocada pelo Espírito de Deus", destacando seu despojamento e sendo acolhido por todos os que caminham nesta Igreja de Roraima, profética e missionária. Unidos com seu novo Bispo, eles querem caminhar para águas mais profundas, dizendo como Maria: "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em nós segundo a vossa palavra".
O clero acolheu o novo Bispo e lhe fez ver que ele não está sozinho e pode contar com os padres em seu novo ministério, assim como a Vida Religiosa disse que Deus lhe conferiu muita força para se colocar ao serviço dos mais pobres, juntamente com os consagrados e consagradas. O novo Bispo também foi acolhido pelo prefeito da cidade, que lhe mostrou que é muito bem-vindo à cidade de Boa Vista, sede da Diocese de Roraima. O administrador diocesano agradeceu pela ajuda nos mais de 10 meses em que desempenhou essa missão e pediu ao novo Bispo que ajude sua nova Igreja a não ter medo de avançar para águas mais profundas e a caminhar juntos como Igreja sinodal.