Quaresma: convite à união com Cristo no caminho para a Páscoa

Por Fernando Geronazzo
Foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO

Na Quarta-feira de Cinzas, 22, os católicos iniciaram a Quaresma, tempo litúrgico da Igreja em preparação para a Páscoa, celebração máxima da fé cristã. Desde o século IV, este período de quarenta dias é proposto como um tempo de penitência, renovação e conversão para a toda a Igreja.

O nome desse tempo litúrgico deriva da palavra latina quadragesima. A exemplo de Jesus, que se retirou no deserto por quarenta dias para orar e jejuar antes de iniciar sua vida pública, os cristãos são convidados a um “retiro e recolhimento”, em vista das celebrações dos mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor.

Para vivenciar com profundidade o processo de conversão quaresmal, a Igreja propõe um caminho baseado em três práticas que se desdobram em muitas outras: o jejum, a oração e a esmola (caridade), que exprimem a conversão, em relação a si mesmo, a Deus e aos outros.

Pelo rito penitencial da imposição das cinzas no início da Quaresma, os cristãos manifestam o desejo pessoal de conversão a Deus. Enquanto impõe as cinzas sobre a cabeça do fiel, o sacerdote diz: “Lembra-te de que és pó e ao pó voltarás”(Gn 3,19) ou “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15).

O caminho de conversão proposto pela Quaresma também incentiva o fiel a intensificar sua participação nos sacramentos da Reconciliação (Confissão) e da Eucaristia, bem como o cultivo de maior familiaridade com a Palavra de Deus. Nesse sentido, o itinerário das leituras bíblicas, proposto pela liturgia da Igreja, auxilia no caminho de recolhimento e conversão, preparando o fiel para a celebração do mistério pascal.

Jejum

É chamada de jejum a privação voluntária de alimento, durante algum tempo, por motivo religioso, como ato de culto perante Deus. Embora seja uma prática exterior, o jejum impele a pessoa à oração, à escuta de Deus ao exercitar a virtude da temperança, do espírito de sacrifício, do equilíbrio do corpo e da mente, que leva a uma conversão interior.

Tanto na Quarta-feira de Cinzas quanto na Sexta-feira da Paixão, a Igreja prescreve o jejum e a abstinência de carne como um sacrifício em memória da Paixão de Cristo, que entregou a sua carne para a salvação da humanidade. A abstinência de carne é prescrita a todos os maiores de 14 anos, enquanto o jejum, aos maiores de 18 anos até os 59 anos. As pessoas doentes ou que estão muito debilitadas não estão obrigadas a cumprir esse preceito.

Esmola

A esmola é uma manifestação concreta das obras de misericórdia, isto é, as ações caritativas pelas quais o cristão socorre o próximo em suas necessidades corporais e espirituais. “Entre esses gestos de misericórdia, a esmola dada aos pobres é um dos principais testemunhos da caridade fraterna. E também uma prática de justiça que agrada a Deus”, destaca o Catecismo da Igreja Católica (2462).

As obras de misericórdia corporais são: dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, dar moradia aos desabrigados, vestir os maltrapilhos, visitar os doentes e prisioneiros, sepultar os mortos. Já instruir, aconselhar, consolar, confortar são obras de misericórdia espirituais, assim como perdoar e suportar com paciência.

Oração

A oração está no centro da vida cristã e, no tempo quaresmal, adquire um destaque maior. Entre as muitas definições, a de São João Damasceno é uma das que mais abrangem seu sentido, sendo, inclusive, usada pelo Catecismo da Igreja Católica: “A oração é a elevação da alma para Deus ou o pedido feito a Deus de bens convenientes” (2559).

“Seja qual for a linguagem da oração (gestos e palavras), é o homem todo que ora. Mas, para designar o lugar de onde brota a oração, as Escrituras falam às vezes da alma ou do espírito, ou, com mais frequência, do coração (mais de mil vezes). É o coração que ora. Se ele estiver longe de Deus, a expressão da oração será vã”, acrescenta o Catecismo.

Prática Autêntica

No Evangelho proclamado na missa da Quarta-feira de Cinzas, Jesus coloca em evidência uma tentação comum nas três obras penitenciais, que podem ser resumidas justamente na hipocrisia.

“‘Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles… Quando deres esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas… Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar em pé, nas sinagogas e nas esquinas das praças, para serem vistos pelos homens… E, quando jejuardes, não fiqueis com o rosto triste como os hipócritas” (Mt 6,1.2.5.16)’”, destaca o texto bíblico.

Exemplos de penitências e práticas quaresmais

  • Comer menos daquilo de que mais gosta e mais daquilo de que não gosta;
  • Não utilizar açúcar ou adoçante nas bebidas;
  • Intensificar as práticas cotidianas de oração, como o Rosário e a Via-Sacra;
  • Aumentar a frequência à missa;
  • Confessar-se com maior frequência;
  • Exercitar a humildade nas pequenas coisas;
  • Não conversar mais que o necessário;
  • Ouvir mais do que falar;
  • Evitar intrigas;
  • Evitar se queixar ou murmurar;
  • Exercitar a paciência em todas as coisas;
  • Falar a verdade em todas as circunstâncias;
  • Diminuir o uso do telefone e acesso às redes sociais;
  • Optar por leituras espirituais no lugar de entretenimentos;
  • Ser sensível às necessidades do próximo;
  • Visitar alguém que está doente;
  • Fazer o trabalho que precisa ser feito sem que alguém lhe peça;
  • Levar uma vida mais regrada e organizada;
  • Evitar a ociosidade.
Fonte: O São Paulo

Deixe uma resposta

17 − seis =