Por CNBB
Fotos: Arquidiocese de Belo Horizonte (MG)
As 272 vítimas da tragédia socioambiental em Brumadinho (MG) acontecida em 2019 foram mais uma vez homenageadas. Centenas de pessoas, entre familiares das vítimas, padres, romeiros, indígenas e representantes das comunidades da região, participaram, na quarta-feira (25), da IV Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho, que levou às ruas da cidade a manutenção da memória, o pedido por justiça e a esperança acesa.
O evento foi definido como “uma manhã de saudade, emoção e também de esperança para centenas de pessoas, entre elas familiares das 272 joias, vítimas da tragédia provocada pelo rompimento da barragem, em 2019″.
O bispo auxiliar da arquidiocese de Belo Horizonte (MG), membro da Comissão Especial sobre a Mineração e Ecologia Integral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Vicente de Paula Ferreira, e referencial para Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário, onde está a cidade de Brumadinho, é um dos principais mobilizadores da romaria e presidiu a Missa na Igreja de São Sebastião, concelebrada por padres da região.
Em artigo publicado em Vatican News, dom Vicente afirmou que a Romaria pela Ecologia Integral, que marca o dia 25 de janeiro de cada ano, reforça a união da maioria das forças das “redes de resistências de nossas comunidades”, como os coletivos dos atingidos e das atingidas, as associação dos familiares, os projetos de agroecologia e as lutas dos movimentos sociais, por exemplo.
“É o peregrinar de quem acredita nas profecias de outro mundo possível, sem essa trágica mineração”, ressaltou.
Crime e impunidade
Além dos momentos de oração e homenagens, a Romaria é marcada pelas denúncias e a união das forças da sociedade mobilizadas por reparação, como definido por dom Vicente.
Um familiar de vítima carrega estampada na camisa a frase “Não foi acidente, foi crime. A Vale sabia”. A CPI da Assembleia Legislativa de Minas Gerais apontou na obra “opção pelo risco, causas e consequências da tragédia de Brumadinho” várias dimensões criminosas da tragédia. “Depois de quatro anos, ninguém preso, nem mesmo julgado. É o crime continuado”, lamenta dom Vicente.
Além das 272 pessoas mortas, o desastre-crime da mineradora Vale em Brumadinho destruiu a bacia do rio Paraopeba, com 18 municípios afetados pela lama tóxica, atingindo 944 mil pessoas.”Prejuízos irreparáveis para as comunidades ribeirinhas, os indígenas, camponeses e quilombolas. Destruição de parte da vegetação nativa de Mata Atlântica e áreas de preservação. Um trauma socioambiental incomensurável. Desde o primeiro momento gritamos: foi crime!”, reforça o bispo.
No artigo, dom Vicente também relaciona a tragédia com o modelo extrativista predatório, “que insiste em operar do mesmo jeito”. Ele denuncia ainda os processos de reparação que não visam o bem das comunidades afetadas, nem a proteção do meio ambiente; a falta de impunidade que dá forças às mineradoras; os aumentos de concessão de licenças pelo governo local para atividades de mineração; além do sofrimento psíquico e outras consequências para a saúde das populações atingidas.
Confira o artigo na íntegra