Missão Belém alerta para o agravamento da crise humanitária no Haiti

Os missionários da Missão Belém que vivem no Haiti chamam a atenção para o drama vivido pela população em meio à violência generalizada que assola o país caribenho, causando fome e o aumento da miséria.

A situação de instabilidade no Haiti foi debatida esta semana no Conselho de Segurança da ONU, que define o caso como uma “catástrofe humanitária causada por convergência de crises de gangues e bandidos e pela precária situação político-econômica”.

Padre Gianpietro Carraro, fundador da comunidade, informou que, segundo os relatos dos missionários no Haiti, a situação vivida pela população do país caribenho “não tem comparação com o que vivemos nos últimos dez anos”.

“Amanhã os nossos missionários terminam a água ‘potável’ e iniciarão a ferver a água ‘suja’. Temos bastante reserva de comida e gás, para alimentar as crianças que vão para escola por alguns dias, mas o povo está terrivelmente prostrado”, destacou o Sacerdote.

A Missão Belém, associação católica de fiéis fundada em São Paulo em 2005, atua no Haiti desde 2010, após o terremoto que devastou o país. Em um dos bairros mais pobres da capital, Porto Príncipe, os missionários abriram um centro educativo que atende cerca de 2 mil crianças e adolescentes de 0 a 15, desenvolve atividades e projetos na área da educação, saúde e profissionalização para os jovens. Há um centro nutricional e uma enfermaria e iniciaram a construção de um complexo hospitalar.

Bloqueios

Os missionários relataram, ainda, que há bloqueios criados pelas gangues nas principais estradas do país que impedem a entrada de mantimentos de demais insumos. “Não se encontra combustível no país. Toda a água era levada em caminhões, mas, agora, tudo está parado. O povo tenta alcançar a pé alguns lugares onde há água e volta com um galão de poucos litros após ter andado o dia inteiro e ter gastado tudo o que tinha”, acrescentou Padre Gianpietro.

O hospital apoiado pelos missionários teve de ser fechado porque não há mais diesel para os geradores. “No nosso pequeno hospital, os médicos não conseguem chegar devido aos tiroteios. Estamos ilhados”, disse o Sacerdote.

Preocupação da ONU

Segundo a chefe do Escritório Integrado da ONU no Haiti, Helen La Lime, cerca de 1,5 milhão de pessoas sentem o impacto da violência contra mulheres, especialmente com casos sistemáticos de estupro, informou o site ONU News.

A enviada pediu a união de esforços internacionais para melhorar esse quadro. Segundo ela, o primeiro passo para enfrentar a crise atual é uma solução política liderada pelo próprio Haiti.  La Lime apelou ao Conselho que mobilize apoio aos haitianos. Para ela, a situação precisa de “medidas urgentes” do órgão da ONU.

Os Estados Unidos e o México devem circular uma resolução sobre formas de abordar os desafios. Também compareceram à reunião, os ministros das Relações Exteriores do Haiti, da República Dominicana e do Canadá.

Em duas semanas de saques a armazéns do Programa Mundial de Alimentos (PMA), 2 milhões de toneladas, orçados em US$ 5 milhões, foram perdidos. O total poderia alimentar 200 mil pessoas em outubro. Metade da população enfrenta insegurança alimentar, segundo a diretora-executiva adjunta da agência, Valerie Guarnier.

A inflação chegou a 31%, o maior nível em anos, e deverá continuar em alta. No mesmo período, o preço da cesta básica subiu para 52%. O custo do petróleo duplicou.

No ano passado, o Haiti perdeu US$ 600 milhões em receitas aduaneiras que deixaram de ser arrecadadas. A redução de subsídios aos combustíveis, para aumentar a receita dos programas sociais, custa ao Estado cerca de US$ 400 milhões por ano.

Fonte: O São Paulo

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