Selvageria e monstruosidade: do cardeal Krajewski ao Papa, os relatos da Ucrânia

O Santo Padre, como tem feito nas Audiências Gerais e nos Angelus desde o início da guerra na Ucrânia, voltou a falar sobre o martirizado país, após receber relatos do seu enviado, cardeal Krajewski, das "selvagerias" e "monstruosidades" com que se deparou em sua quaera missão ao país do Leste europeu.

Por Vatican News

 

A guerra na Ucrânia não dá tréguas. Neste sentido, continuam também os apelos do Papa Francisco, que ao final da Audiência Geral desta quarta-feira, 21, falou sobre os relatos que recebeu do Esmoler pontifício, cardeal Konrad Krajewski, enviado em missão pela quarta vez  ao martirizado país:

E também gostaria de chamar a atenção para a terrível situação da martirizada Ucrânia. O cardeal Krajewski foi lá pela quarta vez. Ontem ele me ligou, ele está passando um tempo lá, ajudando na área de Odessa e levando a proximidade. Ele me contou sobre a dor desse povo, as selvagerias, as monstruosidades, os cadáveres torturados que encontram. Juntemo-nos a este povo tão nobre e mártir.

"Não há palavras, não há lágrimas", havia dito o cardeal polonês depois de rezar na floresta próxima a Izyum - localidade recém libertada dos invasores russos - onde foram encontradas fossas comuns, com os restos mortais de cerca 450 pessoas, incluindo civis - alguns com marcas de tortura -, alguns militares e ao menos duas crianças. Ele estava acompanhado por Dom Pavlo Honcharuk, bispo da Diocese de Kharkiv-Zaporizhia.

"Ali - disse o purpurado polonês - assistimos a uma 'celebração' - podemos dizer - onde 50 homens jovens, na maioria policiais, bombeiros, soldados vestidos de macacão branco estavam cavando e retirando das valas, muitas vezes comuns, os corpos dos pobres ucranianos mortos, cerca de 3-4 meses atrás, alguns enterrados ali há pouco tempo". Fica-se chocado com tanto horror. "Eu sei... há a guerra, e a guerra não conhece piedade, há também os mortos. Certamente ver tantos em uma só área é algo difícil de contar, de explicar".

"Aconteceu uma coisa que me tocou tanto: estes jovens ucranianos estavam tirando os corpos tão delicadamente, tão silenciosamente, em completo silêncio. Parecia uma celebração, ninguém falava, e ali havia muitas pessoas, policiais, soldados... Pelo menos 200 pessoas. Todos em silêncio, com uma incrível reverência pelo mistério da morte. Realmente tinha muita coisa para aprender com esses jovens”.

Na última sexta-feira, dia em que recordava sua ordenação episcopal em 2013, o Esmoler pontifício, depois de carregada a van com alimentos e ter se dirigido para uma área onde, "além dos soldados, não entra mais ninguém", acompanhado por dois bispos, um católico e um protestante, e por um soldado, temeu por sua vida ao ser alvo de disparos. "Pela primeira vez na minha vida eu não sabia para onde fugir... porque não basta correr, é preciso saber para onde".

Já na noite de ontem, Vladimir Putin anunciou a mobilização de 300 mil reservistas, entre outras medidas. Em um discurso à nação, expressou total apoio aos referendos sobre a anexação dos territórios ocupados pelas tropas de Moscou e as repúblicas separatistas de Lugansk e Donetsk. Ademais, o Parlamento russo endurece as penas para quem se esquiva do recrutamento, para quem se entrega voluntariamente ao Exército ucraniano no front e para os desertores.

Fonte: Vatican News

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