CF 2011: Ameaça à vida no planeta

Rachel Biderman Furriela *

Ver, compreender e agir, antes que seja tarde demais.

A ciência do clima, consagrada pelos estudos do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas - IPCC instituído pela ONU em 1988 tem sido cada vez mais veemente em afirmar que a origem dos problemas que afetam o clima no planeta é o modo de vida humano. Temos alterado a natureza de forma mais intensa nos últimos 200 anos, após a Revolução Industrial, quando passamos a consumir mais combustíveis fósseis e as máquinas mais modernas tornaram necessário e possível o uso e alteração dos elementos da natureza de forma mais intensa.

O excesso de pressão sobre os recursos naturais, seja pela demanda e utilização de matéria-prima, seja pelo descarte e despejo de resíduos não desejáveis de volta à natureza, tem sido a causa da destruição de espaços ambientais importantes e de diferentes formas de vida. Hoje assistimos à morte das florestas, à destruição dos mangues, à contaminação dos rios, o excesso de pesca e destruição de habitats marinhos, o consumo de materiais de forma danosa e egoísta, o desaparecimento de espécies. Enfim, não faltam notícias tristes sobre o ocaso da criação. É necessário agir!

Vida no Planeta
A Campanha da Fraternidade de 2011 chama atenção para a urgência dessas questões. Demonstra que é preciso olhar, compreender e agir para mudar o curso das coisas. Olhar para ver, enxergar profundamente. Compreender o que está envolvido nesse processo, as causas e suas consequências. E agir, porque senão pode ser tarde demais. Esse alerta não é novo, mas precisa encontrar espaço em nossas mentes e corações. É preciso atentar para a urgência deste alerta. A luz vermelha está piscando, e não podemos fingir que nada está acontecendo.

A ciência já nos alerta há muito tempo. Os cientistas e movimentos socioambientais têm demonstrado nos últimos 40 anos que os problemas associados às mudanças climáticas são causas e consequências dos principais desastres ambientais e humanos da atua-lidade. A tendência é que os eventos climáticos extremos (secas, furacões, tempestades) se agravem, afetando as populações mais pobres, sempre as mais vulneráveis. Além disso, a economia ficará impactada, já que o cultivo agrícola e atividades pastoris podem se prejudicar com alterações de secas e excesso de chuvas.

O Brasil já vive isso há anos. Apesar de sermos celeiro agrícola, podemos ficar impactados em várias áreas do país, e isso afetará principalmente os pequenos agricultores familiares. As regiões mais secas poderão se tornar desertos. A floresta amazônica deverá se transformar em um cerrado, até 2050. A temperatura média na Região Norte do país poderá aumentar em 4oC, suficiente para o desaparecimento de centenas de espécies. Isso não é suficiente para acordarmos? Tudo isso acontecendo em frente aos nossos olhos, e nossos filhos e netos, serão os principais impactados. Seria isso razão suficiente para olhar, compreender e agir?

O que podemos fazer
O que estamos esperando para agir se temos consciência de tamanha ameaça, e se temos o dever de atuar-mos como guardiões da natureza? A humanidade é chamada para um momento de profunda reflexão e ação. Somos chamados a perceber que só a solidariedade, a generosidade, o olhar compreensivo e generoso, poderá garantir a mudança. Se estamos sendo chamados a agir, como fazê-lo? Em casa, no trabalho, na nossa vida social, na família, na escola, nas universidades podemos fazer muita coisa. Em casa, podemos economizar os recursos naturais, evitar desperdícios, separar lixo, plantar e cuidar das plantas, educar nossos filhos. No trabalho devemos provocar nossos superiores e colegas para uma ação mais efetiva, seja por meio da empresa ou instituição, agindo em bloco, usando o poder de impacto econômico das organizações, para criarem um modelo de produção mais sustentável. Pode ser no dia a dia do trabalho, separando lixo, evitando desperdícios, economizando luz e água.

Nas escolas e universidades, podemos demandar ou oferecer cursos de formação para as questões socioambientais e globais. Podemos instituir projetos de intervenção na sociedade para melhoria das condições de vida e proteção da natureza. Podemos participar de movimentos sociais e organizações não governamentais que atuam na área, tornando-nos atores políticos engajados na transformação. É possível agir pela política, desenvolvendo projetos e propostas de partidos que sejam sérios na busca de soluções para os desafios da humanidade.

Em nossas igrejas, podemos agir em nível espiritual, sempre nos aproximando da mensagem de Deus, que é inspiradora para a boa ação. E também, podemos promover ações de educação, engajamento social e de transformação da vontade humana.

Para começarmos a entender o que está se passando, sugiro uma leitura de materiais que estão sendo produzidos com qualidade, para a conscientização e tomada de ação. Isso permitirá olharmos e compreendermos. Para depois, partirmos para ação, também há inúmeras opções. Se não temos tempo de nos engajar diretamente, podemos apoiar organizações que estão agindo com seriedade. Vejam no quadro ao lado alguns trabalhos que considero sérios, que merecem nossa atenção e engajamento, para sairmos do imobilismo, e partirmos para a ação. 

* Rachel Biderman Furriela é advogada, coordenadora adjunta do Centro de Estudos em Sustentabilidade - EAESP-FGV, mestre em Ciência Ambiental (USP) e em Direito Internacional (American University - Washington College of Law), doutoranda em Administração Pública - FGV-EAESP. Publicado na revista Missões, n.01, jan-fev. 2011.

Lista de algumas organizações atuantes no Brasil

Observatório do Clima - www.oc.org.br
Greenpeace - www.greenpeace.org.br
Centro de Estudos em Sustentabilidade - FGV - www.fgv.br/ces
Ministério do Meio Ambiente - www.mma.gov.br
Amigos da Terra - Amazônia Brasileira - www.amazonia.org.br
APREC Ecossistemas Costeiros - www.aprec.org.br
APREMAVI - Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida - www.apremavi.org.br
COIAB - Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira - www.coiab.com.br
Conservação Internacional Brasil- www.conservation.org.br
IESB - Instituto de Estudos Socioambientais do Sul da Bahia - www.iesb.org.br
Instituto Centro de Vida - ICV - www.icv.org.br
Instituto Ecoar para Cidadania - www.ecoar.org.br
Instituto Ecológica - www.ecologica.org.br
Instituto Socioambiental - ISA - www.socioambiental.org
IPAM - Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia - www.ipam.org.br
SOS Amazônia - www.sosamazonia.org.br
SOS Mata Atlântica - www.sosmatatlantica.org.br
WWF Brasil - www.wwf.org.br

Fonte: Revista Missões

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