Depois de dois anos, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) retoma o curso de forma presencial; nesta edição, participam 32 novos missionários e missionárias vindos de nove Regionais da entidade
Por Maria Imelda V. Estrada e Alberto Reani*, do Curso de Formação Básica
Entre os dias 13 de julho a 2 de agosto, deste ano, foi realizado o Curso de Formação Básica dos missionários e missionárias do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Vindos de diferentes regiões do Brasil, nos encontramos no Centro de Formação Vicente Canhãs, em Luziânia, Goiás, 32 missionários estagiários: 25 da primeira etapa e 7 da segunda. Fazemos parte de diversos Regionais da entidade: Amazônia Ocidental (AC), Norte I (RR, AM), Maranhão (MA), Rondônia (RO), Nordeste (PI, CE, RN, PB, PE, AL, SE, BA), Leste (sul da BA, ES, MG), Mato Grosso (MT), Mato Grosso do Sul (MS) e Sul (SP, RJ, PR, SC, RS), faltando somente os Regionais Norte II (PA, AP) e Goiás-Tocantins (GO, TO).
Somos missionários e missionárias com algum tempo de experiência acompanhando as equipes do Cimi, segundo sua metodologia própria de condivisão e partilha, em função de uma evangelização que parta da realidade cultural e histórica dos povos indígenas, como aliados em suas lutas de resistência.
“O Básico é um momento muito importante. É a retomada dos trabalhos depois deste período de pandemia”
Na avaliação do coordenador da primeira etapa, Carlos Augusto Castro Almeida, do Regional Goiás-Tocantins, “o Básico é um momento muito importante. É a retomada dos trabalhos depois deste período de pandemia, um momento muito difícil onde perdemos amigos, parentes e companheiros do Cimi. Neste momento a gente deu uma pujança de energia, de força, de animação, de oxigênio que estes novos companheiros e companheiras, que estão passando no Básico I e II vão trazendo para gente, uma riqueza muito grande. ”
A coordenadora da segunda etapa, Antônia Sandra Lima da Silva, do Regional Amazônia Ocidental, lembrou que os missionários e missionárias viveram um momento de pressão e apreensão devido à pandemia da covoid-19. “Esses missionários e missionárias que retornaram da etapa 1 e estão agora na etapa 2 se esforçaram bastante, se dedicando com todo cuidado em suas aldeias fazendo seu Relatório de Observação”, avalia Sandra.
“Esses missionários que retornaram da etapa 1 e estão agora na etapa 2 se esforçaram bastante, se dedicando com todo cuidado em suas aldeias fazendo seu Relatório de Observação”
Faz parte da programação do Curso de Formação Básica, etapa 2, os módulos temáticos: Antropologia; História da resistência indígena e do Movimento Indígena; fundamentos de Teologia da Missão; História do Cimi; Mística militante e missionária; Política indigenista; Direito indígena; Política de comunicação do Cimi; Instrumentos de análise de conjuntura; e o Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas.
A partir dos temas percebemos alguns elementos importantes e característicos do agir do Cimi. Primeiro, o investimento na formação dos missionários e missionárias, para que estejam prontos para enfrentar os desafios da convivência com as culturas indígenas em um contexto geralmente de conflito com a sociedade envolvente, especialmente nas opções econômicas e políticas. Por isso, além de instrumentos antropológicos, a formação prevê meios de interpretação da história a partir dos oprimidos resistentes, e elementos de direito, fundamentados nos artigos 231 e 232 da Constituição Brasileira de 1988.
“Além de instrumentos antropológicos, a formação prevê meios de interpretação da história a partir dos oprimidos resistentes, e elementos de direito”
Os elementos de Teologia da Missão fundamentam os princípios básicos que marcam as opções metodológicas desde a criação do Cimi, em 1972: encarnação, libertação, diálogo, inculturação. A escolha de assessores indígenas favoreceu a nossa compreensão da cosmovisão indígena, como foi o caso do padre Justino Sarmento Rezende, Tuyuka do Alto Rio Negro (AM). Podemos chamar esta cosmovisão com o nome de Teologia Indígena.
Soubemos que há uma caminhada de trocas de experiências e reflexões em nível latino-americano, chamada Teologia Índia, que encontra respaldo na Carta Pós Sinodal do Papa Francisco, Querida Amazônia, na qual ele mesmo sonha com uma Igreja Indígena.
No Curso Básico são levantados os desafios da missão com os povos indígenas e da “Nova Evangelização” de que a Igreja Católica fala desde a Assembleia dos bispos da América Latina (CELAM) que aconteceu em Santo Domingo no ano de 1992, evangelização que acolhe as culturas outras e que se faz presença profética no anúncio do Reino e na denúncia das estruturas econômicas e sociais que não respeitam a vida. Daí a importância de adquirir ferramentas para a análise de conjuntura.
“Há uma caminhada de trocas de experiências e reflexões em nível latino-americano, chamada Teologia Índia, que encontra respaldo na Carta Pós Sinodal do Papa Francisco”
Para Antônio Eduardo de Oliveira, secretário executivo do Cimi, o Curso de Formação Básica “faz parte da história da entidade, da missão do Cimi. Ele articula novos conhecimentos para quem está entrando, mas ao mesmo tempo traz a experiência de quem está iniciando. Então estes dois conhecimentos dialogam neste Curso e, a partir daí, cria toda uma motivação e novas perspectivas de continuidade da missão da instituição”.
Luiza Machado, do Regional Norte I, afirma que o Curso vai além da matéria de estudo. “Se trata de uma aprendizagem de acolhimento, da experiência da união do Cimi e da comunhão. Um esforço coletivo, um espaço em que todo mundo se sinta bem. Para além de conhecimentos técnicos, é um dos pilares do Cimi”, destacou a integrante do Básico II.
“Curso faz parte da história da entidade, da missão do Cimi. Articula novos conhecimentos para quem está entrando e ao mesmo tempo traz a experiência de quem está iniciando”
Na avaliação da integrante do curso, etapa 1, Hortência Labiak Neves, do Regional Amazônia Ocidental a experiência tem sido muito rica. “Na realidade me surpreendi muito porque tem me permitido conhecer pessoas de diferentes partes do Brasil e do mundo, inclusive entender as diversas formas de trabalhar e de ser. Tem agregado muito, acredito, não apenas ao meu trabalho, mas também à minha pessoa. Tem sido uma troca muito boa”, afirma a jovem.
Por fim colocamos o testemunho escrito de dois participantes da etapa 1, que pediram para não serem identificados.
Para o primeiro, “ter participado no Curso Básico do Cimi, para mim, está sendo uma experiência muito profunda e esclarecedora. Confirma e ilumina na minha metodologia juntos aos povos indígenas. Esclarece várias atitudes que devo ter. Sou muito agradecida ao Cimi pois saio daqui com muitos materiais, conteúdos para aprofundar, e que vão me ajudar na missão junto com os povos indígenas. Obrigada por participar deste grupo”.
“Ter participado no Curso Básico do Cimi, para mim, está sendo uma experiência muito profunda e esclarecedora, confirma e ilumina minha metodologia juntos aos povos indígenas”
Já o segundo, completou ter sido proveitoso conhecer missionários de outros regionais e nacionais do Cimi. “A formação é ótima, com temas relevantes e assessores muito preparados”, completou.
Os testemunhos recolhidos para este artigo confirmam quanto é importante a formação, inicial e continuada, dos missionários e missionárias, seu acompanhamento pelo Secretariado Nacional e Assessorias Antropológica, Teológica, Jurídica e de Comunicação, bem como do Coletivo de Formação. A metodologia de trabalho em equipe, de partilhar de saberes, adotada no Curso de Formação Básica tem sido uma opção do Cimi desde sua criação há 50 anos.