Experiência da Consagração e missão

Marta von Dentz

Testemunho de vida de uma jovem Religiosa.

"Bem aventurados os pobres de Espírito por que deles é o Reino dos Céus"

"Agora passo a viver transcendentalmente, a alegria da Consagração e o comprometimento com a mesma. Por saber que esta é realidade vivida na pele, é prática vivida no dia a dia da história da gente, é pé na estrada, é fome, é frio, é desespero, é ouvir a Palavra todos os dias e temer ao interrogar quanto a correspondência da atitude. E ainda, Consagração é certamente muito mais por que não se limita a experiência de uma pessoa, mas abraça a diversidade e ainda esta não lhe põe limites. Se soubéssemos o quanto o povo nos ensina, certamente nos aproximaríamos mais dele. Provaríamos as suas delícias por mais amargas que sejam. (Relato da experiência vivida e escrita em Moçambique).

Essas são palavras escritas por mim mesma enquanto fazia minha experiência missionária em Moçambique (2009 - 2010). Experiência esta que me permitiu ver um outro mundo da Vida Religiosa Consagrada hoje. Um mundo de fraternidade, de apoio, de lutas, de frustações mas acima de tudo um mundo de felicidade profunda. A doação era tanta que nem o cansaço nos fazia parar. E não me refiro aqui ao ativismo (mundo este um tanto distante da maioria do povo moçambicano), mas me refiro a uma Causa, que se resume na "Causa da Vida", um tanto esquecida em nossos dias.

E reafirmo aqui a frase sitada acima, durante a missão "ad gentes", "se soubessemos o quanto o povo nos ensina, certamente nos aproximariamos mais dele. Provariamos as suas delícias, por mais amargas que sejam". Somos consagradas para o povo do contrário a própria Consagração perde o seu sentido teológico. A Vida Religiosa Consagrada centrada em si mesma, amarrada, individualista tem seu funeral bem próximo. Talvés esta seja uma linguagem um tanto funesca mas não podemos fugir da realidade.

Segundo o arcebispo brasileiro Dom João Bráz de Aviz, recentemente nomeado prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, com 64 anos, recorda que João Paulo II já afirmou que a Teologia da Libertação "não apenas é útil, como necessária".

De acordo com os últimos dados publicados, no mundo há um total de 793.709 religiosos, 8.061 menos que no ano anterior. O número de mulheres religiosas é muito superior ao de homens. Há 739.000 mulheres religiosas e 55.000 religiosos. A maioria das ordens não contemplativas presta ajuda nos campos da educação e saúde.

Segundo Dom João a presença dos religiosos na Igreja é muito desigual nos cinco continentes. A Europa é o continente em que as vocações mais diminuíram. Há 8.700 a menos em relação ao ano passado, mas também é o que mais presença de religiosos tem com um total de 320.000. É seguida pela América, com 220.000. No continente americano as vocações também diminuíram em relação a 2009.

O terceiro lugar em número de vocações é da Ásia. Ali são mais de 170.000 os religiosos e religiosas. É o continente em que mais aumentou o número de vocações, com 2.200. Na África vivem um total de 71.700 religiosos, 1.940 a mais que em 2009. A Oceania vem em último lugar. O menor continente conta com 10.878 religiosos, 257 a menos que no ano anterior.

São dados estatísticos que nos fazem refletir. E que de certa forma nos trazem certa preocupação, referente a um futuro próximo da Vida Religiosa Consagrada. Em apocalipse 18 a gente pode perceber claramente que a causa da destruição da Babilônia foi o "Luxo". A morte, o luto e a fome são a síntese do mal.

Desde que regressei de Moçambique, a pouco tempo aproximadamente dois meses, ouço alguns ruidos que chamam a atenção. Algumas Religiosas Consagradas como eu, das quais omito nomeação, afirmando:

"Não me sinto bem aqui, eu gosto da simplicidade. Como a gente vivia no tempo de criança, como era lá na missão, tudo pobre, com o povo". "Essa casa enorme faz a gente ficar distante, cada uma no seu quarto, na sua vida individual"."Tenho saudades da simplicidade".

Talves sejam sinais escondidos que pairam no infinito mas que revelam muito. As coisas, o ter, a acomodação, a doença entraram em nossa vida como cordeiro manso escondendo por tras um enorme dragão perigoso ou uma besta férea. Mas por que consegue dominar tanta gente? Por ter a aparencia de cordeiro, por saber enganar.

Quem tem ouvidos ouça! Pode ser que a mania de grandiosidade, de supervaloração esteja nos mutilando aos poucos.

O documento de Aparecida nos motiva a missionariedade nas diversas realidades e hoje experiencio que ser missionário não é simplesmente partir em terras longínquas, mas é sair do egocentrismo, é vislumbrar, viver a alegria da verdadeira partilha, da roda vida, onde circulam todas as energias vitais o que é bem diferente de status, poder, superiores e inferiores. O Concilio Vaticano II nos ensino isso em seus vários documentos mas parece que nos é tão dificil assimilar.

Eu acredito em uma mudança, a partir de mim mesma, acredito na conversão, acredito nas pessoas, acredito na vocação. Acima de tudo acredito Naquele que se fez um de nós para podermos entender bem o Amor do Pai e é simplesmente por isso que estou aqui hoje.

* Marta von Dentz JMJ, São Miguel do Oeste, aos 10 de fevereiro de 2011.

Fonte: Animação Missionária Sul 3 da CNBB

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