Yanomami sofrem com garimpo ilegal em seu território

Secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) faz novo alerta sobre a situação “preocupante” no território.

Por Cimi

Os 24 indígenas Yanomami que desapareceram da comunidade de Aracaçá, na região de Waikás, em Roraima, foram localizados, mas a tragédia e o clima de insegurança seguem presentes. É o que alerta o secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Antonio Eduardo Cerqueira de Oliveira, na edição desta segunda-feira (9) do Jornal Brasil Atual. De acordo com Oliveira, todas as pessoas foram localizadas em outras aldeias mais distantes. No entanto, “as invasões, a presença dos garimpeiros continua e isso é muito preocupante. Tem que dar uma solução a esse problema, porque vão surgir mais fatos oriundos dessa invasão e da ganância do capital com relação à exploração do ouro naquela região”, advertiu ele.

yanomamidesaparecidos1Na última quinta-feira (5), a liderança indígena Júnior Hekuari Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’Kwana (Condisi-YY), já havia apontado à Polícia Federal que os indígenas teriam sido localizados longe de Aracaçá. A informação foi confirmada nesse domingo (8) pelo líder indígena Maurício Yekuana. Eles desapareceram após o Condise-YY divulgar um vídeo denunciando o estupro seguido de morte de uma menina Yanomami de 12 anos durante um ataque de garimpeiros no território. Depois dessa denúncia, as casas da comunidade foram encontradas todas queimadas e sem ninguém.

Os crimes aconteceram no dia 25 de abril. Segundo Hekurari, uma criança também foi atirada no rio durante o ataque de garimpeiros, e permanece desaparecida, assim como sua mãe, que é tia da menina. O caso vem sendo investigado pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) que, na sexta, afirmaram que, até aquele momento, não havia nenhum vestígio dos crimes relatados. Os órgãos reiteraram, contudo, que as investigações não foram concluídas e que as denúncias continuarão sendo apuradas.

Ameaças e  denúncia

O Condisi-YY aponta, por outro lado, que a PF e o MPF não encontraram indícios dos crimes de homicídio e estupro porque o corpo da criança foi cremado como parte do ritual da cultura Yanomami. O conselho de saúde também denuncia que os indígenas vêm sendo coagidos pelos garimpeiros que chegaram a oferecer ouro em troca do silêncio sobre os crimes.

“Todas essas situações são ocasionadas devido à invasão do território indígena por garimpeiros. Essa situação já perdura por anos sem que seja efetivamente solucionada. A cada semana surgem denúncias de violência contra o povo Yanomami devido à presença desses garimpeiros na área. A denúncia de que uma criança de 12 anos tinha sido estuprada e assassinada por garimpeiros e também a fuga de membros dessa aldeia nos preocupou, porque é uma situação que mostra que o território indígena está dominado pelos garimpeiros, pelo tráfico e por pessoas que têm outro modo de vida que está sujeitando aquela população aos seus interesses que visam à extração do ouro, à depredação do meio ambiente e à eliminação do povo indígena”, critica o secretário do Cimi.

De acordo com a agência Amazônia Real, depois de denunciar os crimes, o líder yanomami Júnior Hekuari também passou a ser alvo de ameaças de garimpeiros. Uma ex-namorada do presidente do Condisi-YY chegou a ser surpreendida na semana passada com a presença de garimpeiros na porta de sua residência que perguntavam por Júnior. “Tem áudios me ameaçando dizendo que perderam a paciência e que ‘não tem como’. E o Rodrigo Cataratas está ameaçando me processar na Justiça. Disse que eu estou difamando os trabalhadores dele”, contou o líder indígena.

Garimpo ilegal

Rodrigo Cataratas, segundo a reportagem, é o minerador e aviador Rodrigo Martins de Mello. Ele é coordenador do Movimento Garimpo Legal (MGL) e pré-candidato a deputado federal pelo PL, partido do presidente Jair Bolsonaro. Depois das denúncias dos crimes contra os Yanomami de Aracaçá, Rodrigo vem postando em suas redes sociais críticas a Júnior Hekuari. O minerador afirma que pretende processar o presidente do Condisi-YY e pedir uma indenização a ele para a classe dos garimpeiros. Ele também disse ter cobrado no MPF que o líder indígena “prove as denúncias caluniosas contra os garimpeiros”.Rodrigo é também proprietário da Cataratas Poços Artesianos Ltda, empresa investigada pela Polícia Federal por envolvimento no garimpo ilegal e que teve helicópteros apreendidos por atuação no território Yanomami, em 2021. A região de Waikás já é uma das mais atingidas pela extração ilegal.

Atualmente, o território Yanomami está invadido por aproximadamente 20 mil garimpeiros. A Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado Federal anunciou que irá formar um grupo para acompanhar em Roraima o combate ao garimpo ilegal na região, com visita prevista para o próximo dia 12.

Cimi, com informações da Agência Amazônia Real.

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