O desemprego, a fome, o preço do gás, da gasolina, da carne, do arroz, do feijão, a saúde precária, a educação roubada, o ambiente destruído, é que dizem ao povo a realidade da vida.
Por Roberto Malvezzi (Gogó) *
É interessante acompanhar todas as análises da conjuntura brasileira feitas pelos experts no assunto. Também é interessante acompanhar as pesquisas eleitorais, embora tantas vezes elas pareçam torturar os números para nos convencer que determinado candidato está à frente ou quando um simples 1% já parece demonstrar uma possível virada no jogo eleitoral.
Entretanto, o povo tem sua própria análise de conjuntura. Já dizia um grande pedagogo popular da década de 80, Cláudio Perani, um jesuíta que fundou o CEAS na Bahia e depois fundou o SARES na Amazônia: “o povo é pragmático e tem sua própria análise de conjuntura, feita a partir de suas necessidades concretas”.
É útil recordar para os que têm tanto medo das fake news, do poder das mídias oligárquicas, dos currais eclesiais dos pastores e padres, da violência dos milicianos, das estratégias dos militares, das armadilhas da classe dominante, da grana dos banqueiros, do orçamento secreto dos deputados, das ciladas do judiciário, que nenhum deles ganhou a eleição passada, nem mesmo todos juntos. Para que Lula não fosse vencedor foi necessário tirá-lo do processo eleitoral. Até preso ele seria eleito. Sim, um ser humano da maior dignidade como Fernando Haddad perdeu, mas aí já é questão interna de um partido que não sabe renovar suas lideranças.
O cenário nacional mudou. Não restam sequer as cinzas da República de Curitiba, nem o moralismo farisaico da grande mídia e o povo tem sua própria leitura da realidade. O desemprego, a fome, o preço do gás, da gasolina, da carne, do arroz, do feijão, a saúde precária, a educação roubada, o ambiente destruído, é que dizem ao povo a realidade da vida.
Todos os fatores perniciosos citados não podem ser desprezados em um país violento como esse, inclusive assassinatos e golpes militares, porém, a sabedoria popular também não pode ser desprezada, ainda mais depois desses quatro anos infernais vividos pelo povo brasileiro.
Se alguém quer mesmo contribuir nesse processo eleitoral, converse com o povo, colabore nas reflexões, na compreensão da realidade às vezes obscura e obscurecida. Como dizia Paulo Freire, “o povo tem suas manhas de sobrevivência”.
Besta é quem acha que o povo é besta.